2003/08/14

Os incêndios

Portugal ainda está a arder. Depois do centro do país, agora é nas serras do Algarve onde a tragédia se desenvolve.
Casas cercadas pelo fogo, familias angustiadas pela proximidade do fogo aos seus bens que tanto lutaram para os obter. Tudo isto é grave mas a pergunta tem de ser feita: afinal, de quem é a culpa?

A resposta não é simples - nunca é, senão o problema nem sequer existia... - e tem uma imensidão de variáveis que não permitem uma resposta simples e directa. Mas podemos com alguma simplicidade apontar algumas causas desta tragédia que em 2003 se tem desenvolvido nestas últimas 3 semanas.

Causa primeira - O aquecimento global e desertificação dos solos, com desaparecimento de espécies verdes e progressivo avanço de zonas secas. Resultado do abuso que ao longo dos últimos 100/150 anos se tem feito ao nível da poluição, a temperatura média tem vindo a aumentar e a provocar maiores desequilibrios na natureza - grandes inundações, ondas de calor, aumento do buraco do ozono, etc... - e por esse motivo aumentam as probabilidades de desastres naturais acontecerem.

Causa segunda - A desertificação do interior de Portugal. A progressiva migração das populações para o litoral tem como efeito um progressivo abandono das terras que as populações tratavam - e isso incluí­ não só as terras agricolas como tambem as florestais, que deixam de ser tratadas, limpas e desobstruídas. Desta forma, a quantidade de árvores existentes aumenta, aumenta a quantidade de residuos caidos das árvores e com o tempo forma-se uma generosa camada de "lenha" que com a presença do fogo não só arde com facilidade como tambem permite manter uma "cama de brasas" que alimenta o incêndio durante mais tempo.

Causa terceira - A alteração de actividades industriais. Com o evoluir e aproximação às chamadas médias europeias, Portugal tem vindo a alterar radicalmente as suas actividades, nomeadamente com o progressivo abandono do sector primário e aumento dos sectores secundário e, sobretudo, terciário. Assim, havendo uma cada vez menor actividade primária - como a agricultura, pastoricia, madeireira, etc - há cada vez mais área de terra abandonada ou sem grande tratamento. Como é evidente, quando a tragédia se verifica, o perigo é muito maior.

Causa quarta - A não organização da floresta em Portugal. Conforme se pode verificar por uma reportagem da RTP com o presidente da Câmara da Lousâ e tambem dos bombeiros, Jaime Soares, até há poucos anos a floresta no local não dispunha de caminhos largos de acesso aos terrenos, de corta-fogos, de pontos de água e pequenos açudes de apoio, etc. Foi preciso um incêndio de proporções idênticas aos de este ano para que o autarca - que é considerado modelo e é o mais antigo em funções no paí­s - re-ordenasse todo o território florestal do seu concelho. Mas tambem as espécies de árvores de Portugal são muito propensas a incêndiar, em especial as resinosas e como não há o "hábito" de introduzir folhosas para "cortar" a progressão do fogo, os incêndios não têm grandes barreiras à sua progressão. Tambem não há o hábito se realizarem fogos controlados de inverno, que são facilmente circunscreviveis e que permitem reduzir de forma drástica o surgimento de fogos de verão.

Enfim, podería estar aqui muito mais tempo a discorrer sobre o assunto, mas o que achei mais interessante até agora foi a reacção do Governo a esta tragédia: prometeu para Setembro diversas acções tendentes a introduzir a reforma da floresta em Portugal. Se conseguir levar essa reforma por diante e com efeitos prácticos concretos ao ní­vel do combate das causas que acima descrevi, tenho a certeza que irá fazer algo que não é feito desde os tempos de D.Dinis: re-ordenar vegetalmente o território nacional! E essa será uma das maiores vitórias deste Governo...

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