2003/11/14

Noticia do Independente sobre a Casa da Música no Porto

Dá-lhes música

Arquitecto responsável pela Casa da Música desrespeitou os prazos e os custos previstos,
mas já recebeu 900 mil contos do contrato e 200 mil em prémios de produtividade

Adelino Cunha
acunha@oindependente.pt


A Casa da Música já pagou cerca de 5,5 milhões de euros (1,1 milhões de contos) ao arquitecto responsável por um projecto que está quatro anos atrasado e cujos custos derraparam quase 200 por cento.
O Independente soube que o anterior Conselho de Administração (CA) pagou ao holandês Rem Koolhaas 4,5 milhões de euros (900 mil contos) a título de remunerações contratuais e cerca de um milhão de euros (200 mil contos) em prémios de produtividade. O valor actual contratualizado é de oito milhões de euros (1,6 milhões de contos). Os pagamentos adicionais autorizados pela administração de Rui Amaral estão a levantar dúvidas junto dos seus sucessores e dos auditores do Tribunal de Contas, responsáveis pela análise em curso às contas da sociedade.
O arquitecto desrespeita os prazos estabelecidos e, apesar de os contratos preverem o accionamento de cláusulas de penalização, os anteriores administradores optaram por pagar prémios de produtividade.
Rem Koolhaas venceu o concurso público para a construção da Casa da Música essencialmente por garantir duas condições exigidas pela sociedade promotora da Porto 2001 – Capital Europeia da Cultura: conclusão das obras até 2001 e contenção dos custos.
As informações da actual administração revelam que a Casa da Música talvez esteja pronta em meados do próximo ano e que o projecto irá custar quase 100 milhões de euros.A data inicial para a inauguração apontava para 2001 e os custos estimados deveriam rondar os 34 milhões de euros.
Filhos e enteados. O relatório de actividades da Sociedade Porto 2001 correspondente ao exercício de 1999 pontava Outubro de 2001 como data-limite para a conclusão das obras.
Nos exercícios seguintes, a inauguração da Casa da Música foi sendo remetida para Abril de 2002, Agosto de 2002 e Junho de 2004.
O atraso total será de quase quatro anos, e até a actual previsão de data está seriamente comprometida, conforme já admitiu o administrador Manuel Alves Monteiro. A derrapagem nos custos é também evidente. Em 1999, as obras deveriam custar 33,8 milhões de euros, passaram para 42,3 no ano seguinte, 55,3 em 2001 e 7,7 milhões de euros em 2002. Os actuais dados oficiais assumem como previsão orçamental para este ano um custo de 98,9 milhões de euros, ou seja, 192,47 por cento acima do orçamento previsto em 1999.
Em escudos, os custos da Casa da Música passaram de seis milhões para 19 milhões de contos.Três vezes mais. A impossibilidade de cumprir o orçamento previsto e as datas exigidas justificou que muitos outros potenciais candidatos optassem por não concorrer. Caso do prestigiado arquitecto portuense Alcino Soutinho. Em recente entrevista ao “Diário de Notícias”, o arquitecto disse que se praticou “uma injustiça aos arquitectos portugueses que disseram não poder cumprir os prazos estipulados. Koolhaas disse que sim e não os respeitou: faltam as infra-estruturas, o que se repercutirá nos custos”.

Martelada.

No final de 1998, Rem Koolhaas assinou um contrato com a administração da Casa da Música no valor de cerca de quatro milhões de euros. As partes também definiram o pagamento das despesas correntes e uma fórmula para os prémios por objectivos. O arquitecto holandês teria direito a 10 por cento do valor global se superasse o cronograma aprovado. Pelo meio houve ainda um reforço de honorários.
O decorrer das obras tem demonstrado um total desrespeito pelos orçamentos e permanentes atrasos na entrega dos projectos de especialidade. Mas Koolhaas continua a receber os seus prémios por objectivos.
Rem Koolhaas é um prestigiado arquitecto holandês já distinguido com o “nobel da arquitectura”, o Pritzker
de 2000. Uma das suas biografias, que circula na internet, é ilustrativa: “As suas propostas arquitectónicas
destacam-se pela polémica, e mesmo quando não são construídas tornam-se paradigmáticas.”

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