Partilho assim aqui o meu texto:
Mobilidade Urbana
A terminar o ano de 2011, o amigo JOSÉ CUNHA lançou no grupo um post que poderia ter sido apenas mais um, como dezenas outros que ali têm sido colocados e amplamente discutidos. Mas não foi apenas mais um. Porque gerou um imenso debate, polémica quanto baste e derivou em muitos temas também que paralelamente foram sendo discutidos. E mostrou, se ainda fosse preciso, da validade desta Conferência Permanente de Cidadãos e a prova que a cidadania activa é fundamental para a comunidade, para o seu progresso, para o seu bem-estar. E o tema de tão interessante que é, permite-nos estar aqui hoje à noite reunidos para o debater.
MOBILIDADE EM GUIMARÃES.
Perguntava então o José Cunha que “somos património mundial há dez anos, mas passam mais carros que turistas no Largo da Oliveira, e as nossas ruas e largos do centro histórico são parques de estacionamento. Não será a CEC uma oportunidade de mudança? Concordam com o actual estado?”
Mobilidade, qual o sentido actual da palavra?
Das inúmeras definições possíveis, agrada-me uma que diz que a mobilidade visa a melhoria contínua das condições de deslocação, a diminuição dos impactes no ambiente e o aumento da qualidade de vida dos cidadãos, indo ao encontro das grandes orientações estratégicas comunitárias e nacionais neste âmbito, numa lógica de sustentabilidade. Portanto, a mobilidade urbana deve ser sustentável. Deve diminuir o impacto no ambiente e melhorar a qualidade vida dos cidadãos, naquilo que normalmente se associa à qualidade do ar, que é uma das principais queixas dos cidadãos, para além da poluição visual que os carros por vezes se transformam ao ocuparem as nossas ruas e praças.
E como está Guimarães neste capítulo?
Recentes obras, intervenções que se queriam de fundo, não alteraram o trânsito nas áreas intervencionadas – o Toural continua rodeado de carros por todos os lados, a Alameda continua com automóveis a circular em cima, em baixo e agora também ao meio e as ruas Santo António e Gil Vicente continuam com trânsito automóvel a mais e passeios a menos. Discute-se onde deveria haver parques de estacionamento e se os actuais chegam e estão bem localizados. Uma associação vimaranense, a AVE, propôs um plano de mobilidade ciclável em Junho que, pelo que se vê na cidade, não teve grande acolhimento pela autarquia.
Comecemos então por aqui. Será Guimarães uma cidade amigável dos ciclistas?
Pessoalmente, julgo que não. Não só não tem vias próprias para estes, como não há espaços próprios para estes parquearem as bicicletas como ainda os pisos existentes das ruas do centro histórico e arredores são extremamente desconfortáveis (até para quem anda de carro) e nada convidativos a passar de bicicleta lá. E os transportes públicos, respondem às necessidades dos habitantes e utilizadores da cidade? Não sei, tenho algumas dúvidas. E por experiência própria, em vários anos que habitei no centro, poucas vezes usei os transportes públicos por dificuldades de encontrar carreiras que se ajustassem às minhas necessidades ou horários. Parecem-me grandes para algumas ruas estreitas, parecem-me que falham todo o centro histórico, apenas o contornando. E sendo transportes antigos, são pouco amigos da qualidade do ar…
E estacionamentos, como está Guimarães servida?
Por um lado, há muitos estacionamentos no arco urbano do centro histórico. Mas no Centro Histórico, não há quase nenhum parque “intramuros” – exceptuando o Largo João Franco e o Largo Martins Sarmento. Na fronteira existem os parques de S. Francisco, de S. António e da Mumadona. Todos os restantes estão a 5 minutos a pé de distância, ou mais ainda. E todos estes parques são de pequena dimensão, totalizando cerca de 1000 automóveis, mais ou menos, e todos pagos. Será suficiente? Não havendo um estudo sobre a quantidade de carros que se deslocam ao centro da cidade e sobre os objectivos das pessoas que aí vão (ou se há não é do meu conhecimento) é difícil responder a essa pergunta. Mas utilizando esse medidor impressionante que todos temos, o “olhómetro”, diria que para permitir maior mobilidade em Guimarães seriam necessários mais parques perto do Centro Histórico, com maior ligação a transportes públicos, implementando o uso de bicicletas (talvez no sistema de Aveiro, a Buga) e baixando os preços/hora do estacionamento.
E a qualidade de vida de quem vive na cidade?
Do ponto de vista do ruído, o empedrado onde circulam os veículos é inimigo do conforto. Os veículos em baixa velocidade e a antiguidade do parque automóvel de transportes públicos poluem o ar. E a passagem de veículos nas ruas perturba a utilização das mesmas por quem habita, impedindo até por vezes o acesso por automóvel destes às suas próprias casas.
E quem trabalha na cidade?
Como bem mostrou o Pedro Escobar Meireles Graça, por vezes há determinados serviços onde não é possível cumprir sem ter o carro bem perto do local de trabalho. Há quem carregue uma simples pasta, há quem carregue uma fotocopiadora ou uma máquina de lavar. Também não é fácil ajuizar esta questão, mas penso que determinadas pessoas têm imensa dificuldade em trabalhar no centro de Guimarães.
Julgo que haverá espaço a melhorar muito, em muitas coisas.
Por exemplo, há neste momento em curso a implementação de um programa de mobilidade sustentável, pela Agência Portuguesa do Ambiente, que uma das cidades do Quadrilátero Urbano, Barcelos, está já a implementar – vale a pena procurar pelo estudo deles na net, muito completo e interessante e perceber o que ainda pode ser feito – e por vezes com pequenas verbas – para melhorar a mobilidade urbana.
A lógica que explicava o desenvolvimento urbano dos últimos anos era:
Carros > Edifícios > Espaços > Pessoas > Vida
O desafio hoje é inverter essa ordem, começando a nossa preocupação de projecto por:
Vida > Pessoas > Espaços > Edifícios > Carros
Esta é uma ideia que julgo muitos de nós subscrevemos e é também uma boa questão de partida para o debate: saber em que sentido vai Guimarães.
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