2013/03/29

Pensamentos do oriente...

Enquanto tenho aqui estado, afastado da catadupa de noticiários e apenas seguindo os sound-bytes à distância de um fuso de +8 horas, algumas ideias têm feito sentido, pelo menos na minha cabeça...

Pedro Passos Coelho nunca irá remodelar o Governo enquanto o Tribunal Constitucional não se pronunciar. E a própria continuidade dele estará também dependente do tipo de pronuncia que o TC fizer. Se for a versão suave, talvez continue. Se for a versão hard, cortando tudo a torto e a direito, então provavelmente demite-se.

Vamos por cenários.

1º Cenário: O TC impõe alguns cortes, mas no geral o Orçamento de Estado mantém-se.
O mais natural é que alguns ministros se demitam, nomeadamente Vitor Gaspar e isso force PPC a remodelar - a questão é quão profunda será a remodelação, isto é, se serão apenas alguns nomes novos numa estrutura semelhante ou se, para além de novos nomes, altere a orgânica profundamente. A oposição, evidentemente, vai protestar e pedir a demissão do Governo, mas com Cavaco a Presidente só um cataclismo o irá fazer accionar a "bomba atómica", ele que sempre se bateu pelo cumprimento dos mandatos e sempre se pronunciou contra todas as vezes que um PR dissolveu a AR (seja Soares no seu caso de 1987, seja de Sampaio nos casos de Guterres e Santana Lopes em 2002 e 2005).

2º Cenário: O TC corta a fundo, desvirtuando o OE.
O mais natural é PPC demitir-se. Mas irá Cavaco convocar eleições? Poderei estar enganado, mas talvez seja por estar  aqui em Macau, acho que no jogo das sombras da política há muitos movimentos para que o PR convide o PSD a apresentar outro Primeiro Ministro. E há muito que há uma corrente interna do PSD que gostaria de colocar Rui Rio, em fim de mandato no Porto onde não pode concorrer mais, no cargo - e penso que este era um nome que agradaria ao próprio PR. Só falta perceber qual a posição do CDS nesse caso - mas a verdade é que vários dos principais dirigentes do CDS fizeram parte do executivo de Rio no Porto nestes 12 anos, sempre houve muita proximidade, pelo que me parece que a maioria parlamentar estaria assegurada. Dificilmente Cavaco faria o que fez Sampaio, derrubando uma maioria estável na AR e colocando no poder Sócrates (ou o que restasse da tralha socrática que daqui até umas possíveis eleições legislativas trataria de retirar Seguro do caminho).

Por último, o regresso do emigrante parisiense. Veio para ser candidato a PR. Não vi a entrevista, mas vi breves resumos e alguns comentários. E ficou clarinho como a água que escolheu como alvo Cavaco Silva e não PPC ou Seguro. E semanalmente vai montar a estratégia com o apoio da RTP para se lançar e antecipar-se assim à direita que ainda não tem candidato - o mais natural seria Durão Barroso mas que poderá estar a sonhar com a ONU e não querer hipotecar essa hipótese com uma candidatura presidencial extemporaneamente.

E entretanto, as autárquicas aproximam-se a passos largos. Se forem a 29 de Setembro, significa que as equipas estarão montadas até Junho e que a campanha decorrerá até Julho. Agosto é mês morto e Setembro já decide muito pouco eleitoralmente...

Um ano louco pela frente, que só com paciência de chinês será possível ultrapassar...

2013/03/25

Macau [9] - A Associação de Arquitectos de Macau

Ontem à noite, por um acaso, descobri que esta associação, o que equivalente à "nossa" Ordem dos Arquitectos (mas com a diferença da inscrição não ser obrigatória), está sediada a uns 5 quarteirões da minha casa.

Hoje de manhã fui então, em visita de cortesia, visitar a Associação dos Arquitectos de Macau que, muito simpaticamente, me ofereceu o número 19 da sua revista "am" (Arquitectura Macau) que muito apreciei.

Infelizmente, não estava nenhum dos membros da direcção, mas fiquei já com o contacto do colega Rui Leão que irei em breve contactar para uma conversa sobre a AAM e sobre o que é ser arquitecto em Macau nos dias de hoje, que espero poder mais tarde retratar aqui.

Entretanto, fica o site da revista am onde não se pode encontrar este exemplar, como ainda alguns outros anteriores.

Capa do exemplar gentilmente oferecido

2013/03/23

Macau [8] - Resquícios do orgulho da Portugalidade


Hoje, saí sem grande rumo definido. Apenas pensava em ir ao centro por um caminho diferente do habitual.

Segui a Rua do Almirante Costa Cabral até ao fim, entroncando na Rotunda de Costa Cabral. Vi então as placas indicando o Jardim de Camões e pensei que esse seria um bom lugar para ir hoje. Desci então a Rua Tomás Vieira e lá cheguei à Praça Luís de Camões, onde fica não apenas o Jardim de Camões (um pequeno oásis verde no meio da poluída metrópole que é Macau) mas também a Casa Garden onde se situa a Fundação do Oriente e que tinha, no presente momento, uma exposição de cerâmica da Escola de Artes e Ofícios da Casa de Portugal em Macau muito interessante e ainda uma biblioteca pública, integrada no jardim, um edifício moderno que me impressionou pelo esforço que teve em contornar o tronco centenário de uma árvore para não a destruir.

Após estes momentos de relaxe, segui caminho novamente e reparo, ao sair do jardim, na lateral de uma igreja um pouco à frente. Contornando a rua, deparo-me com a Igreja de Santo António, uma das mais antigas de Macau, ainda do Séc. XVI, mas como a missa (em chinês) havia começado, fotos do interior terão de aguardar por outra visita.

E novamente me deixo ir ao sabor das placas verdes de Património Mundial da Humanidade (desde 2005) que me recordam que ainda não fui ao Forte de Macau, mesmo ao lado (e acima...) das famosas Ruínas de S. Paulo. Pela rua de Santo António num pulinho cheguei às ruínas, mas subir até ao Forte de Macau (ou Forte do Monte) não foi fácil - aquele monte sobe que não é brincadeira!

Mas valeu a pena. Quanto mais não seja, pela placa que encima a entrada do Forte, retratada na foto acima!

ALTO! SENTIDO!

RECORDA POR UNS INSTANTES

A HISTÓRIA LINDA DA NOSSA

PÁTRIA. ENTRA ALTIVO E DE

CABEÇA ERGUIDA PORQUE ÉS

SOLDADO DESSA PÁTRIA.

Caramba! São palavras que mexem connosco, que tocam fundo cá dentro.
"Entra altivo e de cabeça erguida" depois de "recordar por uns instantes a história linda da nossa Pátria" é quase de pôr a lágrima no canto do olho de qualquer português que se preze. Os resquícios do orgulho da Portugalidade vêm ao de cima nestes momentos, nestes locais tão longe e distantes dela mas que nos aproximam tanto dela.

É um orgulho imensurável que tantos anos depois da transferência de poderes para a China, esta placa ainda permaneça ali. Porque significa, como venho dizendo, que Portugal soube fazer da louca quimera dos navegadores de quinhentos o primeiro acto de globalização, de encontro de culturas, de miscigenação de povos e de respeito pelo que encontrou no local. Com defeitos e excessos, é evidente, mas diferente, para bem melhor, do que aquilo que fizeram outros impérios. Respeitar para se ser respeitado. Só assim se compreende que a China ainda hoje, e muito bem, aceite e mantenha esta placa naquele local que tanto orgulho dá e dará a cada português que passe por aquelas portas do Forte de Macau.

Foi um passeio curto de distância. Nem cheguei a ir ao centro. Mas foi um passeio de enorme significado...

2013/03/21

Dia Mundial da Poesia

Neste dia da poesia, juntei a poesia à "minha" arquitectura.

Nada melhor que pôr o maior poeta dos arquitectos, porque tantas vezes a sua arquitectura era poesia de betão construída, o recém-falecido Óscar Niemeyer, a versar no Poema da Curva:

Não é o ângulo recto que me atraiNem a linha recta, dura, inflexível,Criada pelo homem.O que me atrai é a linha curva e sensual,A curva que encontro nas montanhasDo meu país,No curso do mar,No corpo da mulher preferida.De curvas feito todo o universo,O universo curvo de Einstein.

Podem ver o video onde o arquitecto narra o seu poema aqui.

2013/03/20

Macau [7] - A Sky Tower de Macau

Aproveitando a manhã ensolarada no meio de algumas nuvens (sim, porque ao fim da tarde choveu, isto parece Angola climaticamente falando) hoje o meu objectivo da volta da manhã (prescrição médica, sff...) foi subir bem alto.

E para se subir bem alto, em Macau, há que ir ao edifício mais alto, a Torre de Macau ou a Macau Sky Tower. Torre esta com 338 metros de altura, sendo a 22ª mais alta do mundo na actualidade, da autoria dos Arquitectos Gordon e Craig Moller e inspirada na de Auckland, Nova Zelândia (também da autoria deles) e cuja obra foi iniciada em 1998 e aberta ao público em 19 de Dezembro de 2001.

Os principais destaques são, para além da enorme e fantástica panorâmica que se obtém desde os andares superiores, o restaurante rotativo (360º) e ainda para os mais ousados/as o bungee-jumping desde a plataforma a 233 metros de altitude... para loucos/as com adrenalina total, uma queda de cerca de 4 a 5 segundos onde se atinge os 200 km/h. Por mim, fico satisfeito somente com a vista fantástica que se tem da torre...




A praça onde fica a torre de Macau

A Avenida da Praia Grande e o Lago Nam Van





A igreja da Penha (não, não é a de Guimarães, é a de Macau que tem também o mesmo nome) ao centro da fotografia



A nova ponte que liga Macau à Taipa







Outra das atracções são pequenos segmentos de vidro onde podemos ver desde o piso da torre até ao chão, mais de 200 metros de altitude. Ou os meus são grandes ou é tudo muito pequenino lá em baixo...

E aqui estou eu, a cerca de 230 metros de altitude, com Macau em pano de fundo!

Só para se poder subir a esta torre (130 Patacas, 13 € ou 185 Patacas com buffet incluido no restaurante rotativo) vale a pena a viagem a Macau, é como ir a Roma e não ver o Papa. Obrigatório!

2013/03/18

Macau [6] - Imagens de santos... estranhos!

Hoje tive a oportunidade de entrar quer dentro da Sé de Macau, quer dentro da Igreja de S. Domingos, porque casualmente passei por elas em horário que estavam abertas.

Ao contrário da fachada de S. Paulo, o que sobrou da soberba igreja que seria, toda trabalhada nos seus nichos com estatuária diversa e motivos que combinam o ocidente e o oriente, estas duas são muito mais despojadas, simples até.

A Igreja de S. Domingos, no Largo de S. Domingos, na continuação da Praça do Senado, foi fundada em 1587 pelos dominicanos espanhóis  oriundos de Acapulco, México (quem disse que a globalização é coisa de hoje? Fomos nós, portugueses, que a inventámos!) e já aqui a mostrei. E foi nela que encontrei, à disposição dos visitantes, estes dois santinhos... estranhos! Porque se à primeira vista a temática é facilmente reconhecida - a Virgem e o Menino - já quando se olha mais atentamente há coisas que fogem não só ao tradicional como até à história universal. A Virgem com trajes típicos chineses, bem como o Menino numa das imagens, não coincide em nenhum ponto com o que está descrito na Bíblia  E os traços claramente orientais de Mãe e Filho em ambas as imagens também são uma novidade - apesar de estarmos habituados em Portugal a ver imagens "europeizadas" dos personagens bíblicos  a sua ascendência judaica e aramaica não tem nada a ver com esta orientalização destas imagens.

E, no entanto, a Fé de quem a tem e a encontrou é inquestionável e não é o estilo da imagem que muda o seu simbolismo para quem acredita.

E é nisto que eu vejo a colonização portuguesa diferente da espanhola e da inglesa. A miscigenação, quer entre povos, quer entre imagens icónicas que deixamos (e importamos) no mundo todo, são únicas e diferentes. Eu tenho orgulho do nosso passado, da nossa cultura e da forma como a soubemos integrar e interagir com tantos e tão diferentes povos em vários continentes deste planeta!

Estas imagens são, por isso, uma das recordações mais preciosas e emblemáticas que levo daqui.

2013/03/16

Leituras [73] - O Mercador de Livros Malditos, de Marcello Simoni

Um livro na esteira do consagrado "O Nome da Rosa" de Umberto Eco, mas com menos densidade que este, e talvez menos rigor.

Em todo o caso, a trama deste "O Mercador de Livros Malditos" é bem construída, com personagens bem estruturados, que ora nos dão a ideia de serem nossos amigos, ora nos dão a ideia de serem os vilões da trama, com lugares bem pensados para os acontecimentos, mas sem a chama literária descritiva que nos faça sonhar acordados que estamos lá a vivenciar os acontecimentos. Merece leitura.

O livro acabei de o ler antes do Natal, mas entretanto estava entretido com nova leitura da obra maior (quanto a mim) de Pepetela, "A Gloriosa Família", visto que a iria apresentar numa sessão na  "minha" escola, a Francisco de Holanda, em Guimarães, a convite do Francisco Teixeira - coisa que ficou "pendurada" devido à minha vinda para Macau mas que, com um pouco de sorte, ainda poderá ser feita antes do final do lectivo. O futuro o dirá...

Deste livro deixo ainda a habitual sinopse:

"Vencedor dos prémios literários mais prestigiados de Itália
Prémio Bancarella 2012
Prémio Literário Emilio Salgari 

Um romance enigmático como "O Nome da Rosa" e empolgante como "Os Pilares da Terra". Não é comum um livro reunir o consenso da crítica e dos leitores, mas "O Mercador de Livros Malditos" conquistou uns e outros. Mais: ambos afirmam que se trata de uma das mais interessantes estreias dos últimos anos. "O Mercador de Livros Malditos" é uma história envolvente, marcada por intrigas, segredos ocultos durante séculos e mistérios que vão para lá do conhecimento de sábios e de alquimistas. Ao longo das suas páginas o leitor viaja por Itália, França e Espanha no rasto do Uter Ventorum, um livro raro, desmembrado em quatro partes e protegido por intrincados enigmas que, uma vez resolvidos, permitem evocar os anjos e a sua divina sabedoria.

«Uma verdadeira intriga medieval.» Corriere della Sera 

«Uma história cativante na qual as sotainas esvoaçam, as espadas dos templários brilham e onde se morre por amor a Deus e ao Diabo.» La Repubblica 

«Imaginem uma atmosfera semelhante à de O Nome da Rosa: uma biblioteca poeirenta, monges encapuzados e passos que ressoam por entre a humidade. Este é o fabuloso mundo de Marcello Simoni.» Vanity Fair"

2013/03/15

Macau [5] - Camões

É sabido que por cá andou o poeta Luís Camões, um dos símbolos maiores da lusofonia e da Diáspora portuguesa dos Descobrimentos.

Há até, aqui em Macau, um jardim com o seu nome.

Mas não é dele que trataremos hoje. É apenas de um seu poema, singelo, como o jardim onde ele se encontra: o Jardim de S. Francisco.

Reza assim:



Suave, singelo e sempre apelativo a um porvir melhor, sempre receoso do passado que transporta, sempre nos destinos que a "leve folha dos ventos assoprada"...

Macau é assim.

2013/03/14

Macau [4] - Pela noite

Hoje chegou um amigo nosso, de Guimarães, que recolhemos do ferry boat vindo de Hong Kong e o levamos a jantar ao mais tradicional dos locais de comida cantonesa, em plena Praça do Senado, no Wong Chi Kei (onde já comeram 2 presidentes portugueses) e assistirmos a obras em directo no McDonald's mesmo em frente enquanto comíamos um sundae.



Igreja de S. Francisco

"Sai um Cheeseburger, um martelo, salada, um serrote, com fanta laranja e cola de contacto, sff..."



E aproveitamos ainda a acalmia do local para ver as ruínas de S. Paulo à noite.
  


E na volta para casa, passamos pela Sé e cá ficam mais umas fotos para recordar!


A Sé Catedral de Macau


É pena é que a tua estadia ainda seja mais curta que a minha, Tiago!

Eu e o Tiago Laranjeiro

2013/03/13

Macau [3] - As ruínas da Igreja de S. Paulo

Hoje dei uma volta maior do que o habitual.

Subi no teleférico da Guia (2 patacas, 20 cêntimos de Euro...) e depois desci em direcção ao centro da cidade, rumo à Praça do Senado e daí segui até às ruínas da Igreja de S. Paulo (como se costuma dizer, vir a Macau e não vir aqui é como ir a Roma e não ver o Papa - mesmo que a sede esteja vacante como hoje!) onde já havia estado há 15 anos atrás mas, não me recordo agora porquê, não visitei então a cripta e o Museu de Arte Sacra.

Hoje, pude lá ir - de graça!



 Vista do exterior, em aproximação:




Uma explicação e reconstituição:



A Cripta:


Uma série de painéis da evolução do espaço:







Algumas obras de arte sacra do Museu de Arte Sacra:

Santa Ana ensinando a Virgem a ler (sec. XVIII)

Santo Inácio de Loyola (sec. XIX)

Santo Agostinho (sec. XVII)
 
São Miguel o Arcanjo (sec. XVII)
S. Francisco Xavier (sec. XVIII)
E algumas pinturas:

O Baptismo de S.Francisco de Assis (sec. XVII)

S. Francisco rejeitando as riquezas dos pais para começar a sua vida de pobreza (sec. XVII)

S. Francisco pregando aos animais (sec. XVII)

A visão de S. Francisco (sec. XVII)

Os Mártires do Japão (1640)

S. Miguel Arcanjo (sec. XVII)

No exterior, à esquerda das ruínas, encontra-se ainda o simpático Templo de Na Tcha, reflectindo o são convivio entre as religiões no espaço do território macaense. Mesmo à esquerda desde pequenino, num pequenino pátio, fica o Museu do Chá (que infelizmente fecha às quartas e que por isso não pude visitar).