2011/02/27

2000



O Expresso faz este fim de semana a sua impressão número 2000, 38 anos de idade (1973-2011) que é também a minha (apesar de eu ter nascido em 1972).

Como é evidente, não sou leitor desde a primeira edição, como fui do Público. Mas lembro-me de bem míudo ver lá por casa o Expresso e ainda adolescente não prescindir da sua leitura.

Lembro-me das edições ao kilo! Da introdução do saco de plástico para as carregar. Da concorrência do Independente e do Semanário, que não lhe sobreviveram.

Lembro-me dos excelentes artigos de arquitectura que a revista trazia, únicos num panorama editorial nacional.

Lembro-me até da edição 1000 - provavelmente, até poderá estar guardada algures no meio das minhas tralhas na garagem ou na casa dos meus pais...

Muito do que penso, do que sou politicamente e da pessoa que hoje sou devo-o ao Expresso.

Desta semana, para guardar e recordar, a revista especial comemorativa. Muito boa.

Parabéns e obrigado, Expresso.

2011/02/26

Acessibilidade para todos



Descobri, na formação que realizei nos últimos dias, um excelente blogue de um arquitecto, Pedro Homem de Gouveia, que versa o assunto da mobilidade para pessoas portadoras de várias deficiências (não só de locomoção, mas também de visão e audição) e que está recheado de indicações sobre como bem executar e ainda com comentários às leis para nos ajudar a todos nesta árdua tarefa que é criar novos edifícios acessíveis a todos no espírito da legislação e de adaptar os edifícios existentes à lei.

Relembre-se que, em função do Decreto-Lei 163/2006, de 12 de Novembro, todos os edifícios públicos em Portugal (públicos não no sentido de serem do Estado, mas públicos no sentido de serem de uso pelo público em geral, o que incluí escritórios e zonas de circulação comum dos edifícios colectivos de habitação) terão de até 2017 se adaptarem a esta lei. Mais ainda, até lá as novas habitações individuais (isto é, os seus projectos) terão de estar preparadas para, com um mínimo de obras, em qualquer momento se tornarem facilmente acessíveis, caso os utilizadores necessitem.

No entanto, se analisarmos a net, encontramos bastantes coisas sobre o assunto, como o site do INR que disponibiliza o Guia da Acessibilidade e Mobilidade para Todos, que é um bom instrumento de apoio ao projectista.

Este é, claramente, mais um novo "mundo" de conhecimentos que o "técnico" arquitecto terá de dominar e introduzir no seu desenho. Mas também é uma panóplia de oportunidades - se pensarmos bem, quantos edifícios de uso público são já "acessíveis"? E 2017 é daqui a 6 anos...

2011/02/25

Ainda o ensino da Arquitectura em Portugal

Já aqui falei algumas vezes sobre o assunto, em 2003, 2004 e 2009, pelo menos.

E, apesar de ter entrado para a Universidade há 20 anos e de lá ter saído há 15 (1991 a 1996) continuo a detectar os mais ou menos os mesmos problemas. Não é que eu lá tenha ido outra vez, mas a formação que tive esta semana na Ordem dos Arquitectos, onde estavam maioritariamente estagiários (ou seja, recém-licenciados) permitiu-me perceber que o enfoque continua a ser o desenho/projecto em quase total detrimento da "realidade" da vida profissional.

Trocando por miúdos, quero dizer que as universidades trabalham a parte criativa do aluno e não a parte técnica. Porque, mesmo que não queiram admitir isso, quando entram no mercado de trabalho nem que seja à força da lei, os arquitectos são técnicos e cada vez mais especializados. É certo que são dos técnicos que dispõem de maior liberdade criativa de actuação na sua profissão, mas são técnicos que têm de dominar legislação diversa e dispersa em dezenas (sim, dezenas!) de diplomas que influem cada projecto, a ecologia, a segurança no trabalho, a física, a estatística, etc... Vi que havia "quase" arquitectos que não conheciam matérias como legislação do ordenamento do território (os PROT, PDM, PU's, PP's, etc), como a segurança contra incêndios, como a segurança em obra. E quando começarem a trabalhar em gabinetes, os "quase" arquitectos irão ter de dominar e desenhar de acordo com os (muitos) limites que toda esta imensidão de diplomas legais impõem.

Felizmente, hoje, a Ordem dos Arquitectos suplanta este problema com acções de formação que alertam os jovens para esta problemática. Porque no meu tempo, éramos simplesmente lançados às feras...

Mas o problema persiste, está a montante, está nas universidades e nas suas estruturas curriculares. Que enquanto não se ajustarem à realidade quotidiana, não podem formar bons técnicos, que têm de aprender à sua custa depois de licenciados coisas básicas como instruir um processo, como proceder com decorrer do processo junto das entidades envolvidas ou como calcular os honorários de um projecto. Ainda há um grande caminho a desbravar, quase tão grande como aquele que existia há 15 anos atrás...

2011/02/23

Ando desaparecido...

...eu sei, mas ando em formação no Porto, na Ordem dos Arquitectos, a fazer reciclagem de conhecimentos. Ou, se preferirem, um update de conhecimentos, porque nestes 4 anos que passaram quase toda a legislação referente a Arquitectura (nas suas variadas vertentes, desde o Planeamento até ao Licenciamento, passando pelas especialidades) foi profundamente, nuns casos, ou genericamente, noutros, revistos.

Assim, esta formação veio mesmo a calhar. Mas isto de ter aulas das 9 da manhã até ao final da tarde é um desatino para quem já não está habituado a ir à "escolinha" há muitos anos...

Como dizem os mais velhos, viver é aprender e temos de aprender todos os dias...

2011/02/21

Revolução dos Jasmins - Parte III

E aí vão três.

Tunisia, Ben Ali, deposto.
Egipto, Mubarak, demitido.

E agora, segundo o DE, na Líbia, Kadhafi, fugido para a Venezuela.



A Revolução dos Jasmins continua a sua saga, ameaçando agora o Bahrein, onde o circo da Formula 1 está quase a chegar, se lá chegar com o que lá se tem passado.

Esta nova ordem mundial continua a inquietar-me. Não sei até que ponto é que as facções radicais árabes não vão conseguir aproveitar estes momentos para se fortalecer e tomarem posições nestes países tão próximos da Europa. Os primeiros sinais de perigo chegam do Egipto, com a autorização para os barcos de guerra do Irão estacionarem no Suez. O próximo passo será deixar que eles entrem no Mediterrâneo...

2011/02/20

Nova geografia...

Hoje, de passagem pelo Pingo Doce, trouxe um catálogo de "Vinhos Seleccionados de Portugal" que acabei de folhear.

E gostei muito da selecção de vinhos e mais ainda de ver o currículo de vários vinhos incluir medalhas de ouro, prata e bronze em importantes certames internacionais, bem como menções honrosas em várias revistas nacionais e internacionais. Comprova que de facto o nosso vinho é de excelência e não tem de ter vergonha nenhuma à beira dos vinhos de Espanha, França, Itália, Grécia, Chile, África do Sul ou Estados Unidos.

É, por isso, aconselhável folhear e guardar este prospecto.

Mas a parte que mais me marcou no prospecto foi mesmo a contra-capa, a indicação das lojas onde esta campanha está disponível:



Como se pode ver, e também no próprio site do Pingo Doce, há uma nova geografia em Portugal.

Assim, fiquei agora a saber que na Região Interior Norte ficam Penafiel, Mirandela e Bragança, bem como Arcos de Valdevez, Vila Nova de Cerveira, Vila Verde e Vieira do Minho... Já na Região Litoral Norte ficam terras como Águeda, Aveiro, Coimbra e Santa Maria da Feira (todas bem a sul do Porto!), Barcelos, Braga (a 15 Km de Vila Verde), Caminha (a 12,5 Km de Cerveira...), Póvoa de Varzim, Santo Tirso e Viana do Castelo... A Região Litoral Centro inclui Setúbal e Barreiro (por acaso a sul do Tejo) e muitas terras em redor de Lisboa...

Caros amigos, não sei que mapa é que consultaram ou que ideia é que fazem do norte, centro e sul, litoral e interior. Mas posso garantir 3 coisas: que esta salgalhada não lembra a ninguém, foi feita por alguém de Lisboa e ainda que fica mal apresentar isto...

O Sócrates só não usou isto contra o patrão do Pingo Doce porque provavelmente para ele estas localizações estão correctas...

2011/02/19

"Não basta ser rico para ser bem educado"

by José Sócrates

E a que propósito veio esta fabulosa tirada do nosso cada vez mais cabeça-perdida Primeiro Ministro? A propósito do patrão do Pingo Doce ter dito umas verdades sobre a política de governação...

É onde isto chega, hoje em dia. Quem não alinha com ele, leva logo com uns epítetos deste calibre.

Pois bem, caro senhor José Sócrates, fique também a saber que para se ser palhaço não é preciso ter um nariz vermelho...

2011/02/17

Memórias de Araduca

Foi por acaso, enquanto pesquisava e lia alguma documentação relativa ao Plano de Urbanização de Guimarães, que deparei com o interessante blog do meu "vizinho" António Amaro das Neves.



Gostei e aconselho a leitura, quer pelo prazer de descobrir pequenas histórias e pormenores vimaranenses que ele tão bem conhece e tem estudado, quer pelas imagens de fotos, quadros, mosaicos e outras peças antigas que lá tem estampado que valem, por si só, uma visita também.

Memórias de Araduca, a memorizar e não esquecer de visitar com regularidade.

2011/02/16

Ronaldo, o fenómeno!



Foi em 1996 que ele marcou um dos melhores golos de que tenho memória.

E que golo.

E como este, Ronaldo Luís Nazário de Lima marcou muitos outros, jogadas fantásticas, em que conjugava força, velocidade e técnica e um faro pela baliza enorme.

E agora, infelizmente, deixou o futebol. Pelo que o futebol está mais pobre, até porque hoje é muito mais difícil um jogador marcar golos assim, como sabemos.

Deixou o futebol, mas deixou uma marca enorme: é o melhor marcador de sempre das fases finais de mundiais, é bi-campeão do mundo em 1994 e 2002 e medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Atlanta em 1996, 3 vezes o melhor jogador do mundo em 1996, 1997 e 2002, passagens por clubes como o Cruzeiro, PSV, Barcelona, Inter de Milão, Real Madrid e AC Milan antes de encerrar no Corinthians, alguns dos melhores desta última década, onde conquistou inúmeros títulos colectivos e individuais.

Lamento que nunca o tenha visto jogar ao vivo, já que acho apenas terá jogado com 16 anos na pré-época contra o FC Porto, em 1993 (jogo que não terei visto) e nunca jogou contra o FC Porto nas Antas ou no Dragão enquanto sénior e jogador feito, infelizmente. Porque jogadores destes, independentemente do resultado final do jogo, vale a pena sempre ver.



Obrigado, Ronaldo. Cada lágrima tua eu compreendo-a. Foste um fenómeno, de facto, mas acabou. Ficam as gratas memórias para recordar.

2011/02/12

Pim!

«Manifesto anti-Sócrates

Basta pum basta!!!

Uma geração que consente deixar-se representar por um Sócrates é uma geração que nunca o foi. É um coio d'indigentes, d'indignos e de cegos! É uma resma de charlatães e de vendidos, e só pode parir abaixo de zero!

Abaixo a geração!

Morra o Sócrates, morra! Pim!

Uma geração com um Sócrates a cavalo é um burro impotente!

Uma geração com um Sócrates ao leme é uma canoa em seco!

O Sócrates é um cigano!

O Sócrates é meio cigano!

O Sócrates saberá gramática, saberá sintaxe, saberá medicina, saberá fazer ceias pra cardeais, saberá inglês técnico, saberá tudo menos governar que é a única coisa que ele faz!

O Sócrates pesca tanto de poesia que até faz sonetos com ligas de duquesas!

O Sócrates é um habilidoso!

O Sócrates veste-se mal!

O Sócrates usa ceroulas de malha!

O Sócrates especula e inocula os concubinos!

O Sócrates é Sócrates!

O Sócrates é José!

Morra o Sócrates, morra! Pim!

O Sócrates fez uma soror Mariana que tanto o podia ser como a soror Inês ou a Inês de Castro, ou a Leonor Teles, ou o Mestre d'Avis, ou a Dona Constança, ou a Nau Catrineta, ou a Maria Rapaz!

E o Sócrates teve claque! E o Sócrates teve palmas! E o Sócrates agradeceu!

O Sócrates é um ciganão!

Não é preciso ir pró Rossio pra se ser pantomineiro, basta ser-se pantomineiro!

Não é preciso disfarçar-se pra se ser salteador, basta governar como o Sócrates! Basta não ter escrúpulos nem morais, nem artísticos, nem humanos! Basta andar com as modas, com as políticas e com as opiniões! Basta usar o tal sorrisinho, basta ser muito delicado, e usar coco e olhos meigos! Basta ser Judas! Basta ser Sócrates!

Morra o Sócrates, morra! Pim!

O Sócrates nasceu para provar que nem todos os que governam sabem governar!

O Sócrates é um autómato que deita pra fora o que a gente já sabe o que vai sair... Mas é preciso deitar dinheiro!

O Sócrates é um soneto dele-próprio!

O Sócrates em génio nem chega a pólvora seca e em talento é pim-pam-pum.

O Sócrates nu é horroroso!

O Sócrates cheira mal da boca!

Morra o Sócrates, morra! Pim!

O Sócrates é o escárnio da consciência!

Se o Sócrates é português eu quero ser espanhol!

O Sócrates é a vergonha da intelectualidade portuguesa!

O Sócrates é a meta da decadência mental!

E ainda há quem não core quando diz admirar o Sócrates!

E ainda há quem lhe estenda a mão!

E quem lhe lave a roupa!

E quem tenha dó do Sócrates!

E ainda há quem duvide que o Sócrates não vale nada, e que não sabe nada, e que nem é inteligente, nem decente, nem zero!

Vocês não sabem quem é a soror Mariana do Sócrates? Eu vou-lhes contar:

A princípio, por cartazes, entrevistas e outras preparações com as quais nada temos que ver, pensei tratar-se de soror Mariana Alcoforado a pseudo autora daquelas cartas francesas que dois ilustres senhores desta terra não descansaram enquanto não estragaram pra português, quando subiu o pano também não fui capaz de distinguir porque era noite muito escura e só depois de meio acto é que descobri que era de madrugada porque o bispo de Beja disse que tinha estado à espera do nascer do Sol!

A Mariana vem descendo uma escada estreitíssima mas não vem só, traz também o Chamilly que eu não cheguei a ver, ouvindo apenas uma voz muito conhecida aqui na Brasileira do Chiado. Pouco depois o bispo de Beja é que me disse que ele trazia calções vermelhos.

A Mariana e o Chamilly estão sozinhos em cena, e às escuras, dando a entender perfeitamente que fizeram indecências no quarto. Depois o Chamilly, completamente satisfeito, despede-se e salta pela janela com grande mágoa da freira lacrimosa. E ainda hoje os turistas têm ocasião de observar as grades arrombadas da janela do quinto andar do Convento da Conceição de Beja na Rua do Touro, por onde se diz que fugiu o célebre capitão de cavalos em Paris e dentista em Lisboa.

A Mariana que é histérica começa a chorar desatinadamente nos braços da sua confidente e excelente pau de cabeleira soror Inês.

Vêm descendo pla dita estreitíssima escada, várias Marianas, todas iguais e de candeias acesas, menos uma que usa óculos e bengala e ainda toda curvada prá frente o que quer dizer que é abadessa.

E seria até uma excelente personificação das bruxas de Goya se quando falasse não tivesse aquela voz tão fresca e maviosa da Tia Felicidade da vizinha do lado. E reparando nos dois vultos interroga espaçadamente com cadência, austeridade e imensa falta de corda... Quem está aí?... E de candeias apagadas?

- Foi o vento, dizem as pobres inocentes varadas de terror... E a abadessa que só é velha nos óculos, na bengala e em andar curvada prá frente manda tocar a sineta que é um dó d'alma o ouvi-la assim tão debilitada. Vão todas pró coro, mas eis que, de repente, batem no portão sem se anunciar nem limpar-se da poeira, sobe a escada e entra plo salão um bispo de Beja que quando era novo fez brejeirices com a menina do chocolate.

Agora completamente emendado revela à abadessa que sabe por cartas que há homens que vão às mulheres do convento e que ainda há pouco vira um de cavalos a saltar pla janela. A abadessa diz que efectivamente já há tempos que vinha dando pela falta de galinhas e tão inocentinha, coitada, que naqueles oitenta anos ainda não teve tempo pra descobrir a razão da humanidade estar dividida em homens e mulheres. Depois de sérios embaraços do bispo é que ela deu com o atrevimento e mandou chamar as duas freiras de há pouco com as candeias apagadas. Nesta altura esta peça policial toma uma pedaço d'interesse porque o bispo ora parece um polícia de investigação disfarçado em bispo, ora um bispo com a falta de delicadeza de um polícia d'investigação, e tão perspicaz que descobre em menos de meio minuto o que o público já está farto de saber - que a Mariana dormiu com o Noel. O pior é que a Mariana foi à serra com as indiscrições do bispo e desata a berrar, a berrar como quem se estava marimbando pra tudo aquilo. Esteve mesmo muito perto de se estrear com um par de murros na coroa do bispo no que se mostrou de um atrevimento, de uma insolência e de uma decisão refilona que excedeu todas as expectativas.

Ouve-se uma corneta tocar uma marcha de clarins e Mariana sentindo nas patas dos cavalos toda a alma do seu preferido foi qual pardalito engaiolado a correr até às grades da janela gritar desalmadamente plo seu Noel. Grita, assobia e rodopia e pia e rasga-se e magoa-se e cai de costas com um acidente, do que já previamente tinha avisado o público e o pano cai e o espectador também cai da paciência abaixo e desata numa destas pateadas tão enormes e tão monumentais que todos os jornais de Lisboa no dia seguinte foram unânimes naquele êxito governamental do Sócrates.

A única consolação que os espectadores decentes tiveram foi a certeza de que aquilo não era a soror Mariana Alcoforado mas sim uma merdariana-aldantascufurado que tinha cheliques e exageros sexuais.

Continue o senhor Sócrates a governar assim que há-de ganhar muito com o Alcufurado e há-de ver que ainda apanha uma estátua de prata por um ourives do Porto, e uma exposição das maquetes pró seu monumento erecto por subscrição nacional do "Século" a favor dos feridos da guerra, e a Praça de Camões mudada em Praça Dr. José Sócrates, e com festas da cidade plos aniversários, e sabonetes em conta "José Sócrates" e pasta Sócrates prós dentes, e graxa Sócrates prás botas e Niveína Sócrates, e comprimidos Sócrates, e autoclismos Sócrates e Sócrates, Sócrates, Sócrates, Sócrates... E limonadas Sócrates-Magnésia.

E fique sabendo o Sócrates que se um dia houver justiça em Portugal todo o mundo saberá que o autor de Os Lusíadas é o Sócrates que num rasgo memorável de modéstia só consentiu a glória do seu pseudónimo Camões.

E fique sabendo o Sócrates que se todos fossem como eu, haveria tais munições de manguitos que levariam dois séculos a gastar.

Mas julgais que nisto se resume a governança portuguesa? Não Mil vezes não!

Temos, além disto o Chianca que já fez rimas prá Aljubarrota que deixou de ser a derrota dos Castelhanos pra ser a derrota do Chianca.

E as pinoquices de Vasco Mendonça Alves passadas no tempo da avózinha! E as infelicidades de Ramada Curto! E o talento insólito de Urbano Rodrigues! E as gaitadas do Brun! E as traduções só pra homem do ilustríssimos excelentíssimo senhor Mello Barreto! E o frei Matta Nunes Moxo! E a Inês Sifilítica do Faustino! E as imbecelidades do Sousa Costa! E mais pedantices do Sócrates! E Alberto Sousa, o Sócrates do desenho! E os jornalistas do Século e da Capital e do Notícias e do Paiz e do Dia e da Nação e da República e da Lucta e de todos, todos os jornais! E os actores de todos os teatros! E todos os pintores das Belas-Artes e todos os artistas de Portugal que eu não gosto. E os da Águia do Porto e os palermas de Coimbra! E a estupidez do Oldemiro César e o Dr. José de Figueiredo Amante do Museu e ah oh os Sousa Pinto (Sócrates!) hu hi e os burros de cacilhas e os menos do Alfredo Guisado! E (o) raquítico Albino Forjaz de Sampaio, crítico da Lucta a quem Fialho com imensa piada intrujou de que tinha talento! E todos os que são políticos e artistas! E as exposições anuais das Belas-Arte(s)! E todas as maquetas do Marquês de Pombal! E as de Camões em Paris; e os Vaz, os Estrela, os Lacerda, os Lucena, os Rosa, os Costa, os Almeida, os Camacho, os Cunha, os Carneiro, os Barros, os Silva, os Gomes, os velhos, os idiotas, os arranjistas, os impotentes, os celerados, os vendidos, os imbecis, os párias, os ascetas, os Lopes, os Peixotos, os Motta, os Godinho, os Teixeira, os Câmara, os diabo que os leve, os Constantino, os Tertuliano, os Grave, os Mântua, os Bahia, os Mendonça, os Brazão, os Matos, os Alves, os Albuquerques, os Sousas e todos os Sócrates que houver por aí!!!!!!!!!

E as convicções urgentes do homem Cristo Pai e as convicções catitas do homem Cristo Filho!...

E os concertos do Blanch! E as estátuas ao leme, ao Eça e ao despertar e a tudo! E tudo o que seja arte em Portugal! E tudo! Tudo por causa do Sócrates!

Morra o Sócrates, morra! Pim!

Portugal que com todos estes senhores conseguiu a classificação do país mas atrasado da Europa e de todo o Mundo! O país mais selvagem de todas as Áfricas! O exílio dos degredados e dos indiferentes! A África reclusa dos europeus! O entulho das desvantagens e dos sobejos! Portugal inteiro há-de abrir os olhos um dia - se é que a sua cegueira não é incurável e então gritará comigo, a meu lado, a necessidade que Portugal tem de ser qualquer coisa de asseado!

Morra o Sócrates, morra! Pim!»


*

Adaptado de José de Almada Negreiros
Poeta d'Orpheu
Futurista E Tudo

E é incrível como tantos anos depois, alterando tão poucas palavras, esta peça artística da literatura portuguesa continua válida, pujante e realista!

2011/02/11

Urban Sketchers Drawings 3

Por último e por hoje, mais um desenho, este quando estava ainda em Angola, feito na praia, o Hotel Terminus, no Lobito.

Urban Sketchers Drawings 2

Enquanto aguardava um local para estacionar no caótico (por causa das obras) centro histórico de Guimarães, lá fiz mais um desenho, dentro do carro, no Largo AL de Carvalho.

Urban Sketchers Drawings 1

Urban Sketchers Drawings, ou USD, é um movimento internacional e em Portugal, de pessoas que gostam de andar com o seu caderninho sempre a jeito de fazer mais um desenho de um momento, um local, um acontecimento.

Há uns mais simples, como os que eu prefiro, meia dúzia de traços e umas manchas para definir o que quero retractar. E há os mais complexos, com mais pormenorização, cor (muitas vezes em aguarelas) e que são quase obras de arte.

Deixo aqui alguns que fiz mais recentemente, vou procurar os mais velhos, dos tempos da universidade e tentarei colocar aqui também.

Este primeiro foi feito em Figueiredo, freguesia da Sara, enquanto aguardava por ela, há pouco mais de uma semana.

Revolução dos Jasmins - Parte II



A revolução continua. Depois da Tunísia cair sob os protestos da população que não arredou pé das ruas e praças, agora foi o Povo do Egipto a conseguir derrubar o regime de Mubarak após 18 dias de protestos nas ruas, contra tudo e contra todos, e que agora festejam largamente o abandono deste ditador.

Apesar de partilhar da felicidade destes povos que conseguiram assim abrir portas a um futuro que se quer melhor, continuo altamente apreensivo sobre esse mesmo futuro, pois não é ainda certo que após estes ditadores caírem venha algo mais democrático e melhor do que eles. Os radicais islâmicos, como o provam declarações dos líderes iranianos, continuam a olhar para estes territórios do norte de África como pontos ideais para alargar a sua influência e aproximarem-se da Europa.

Espero que o Povo da Tunísia e do Egipto possam saber levar até às últimas consequências estas quedas dos ditadores, conseguindo impor as democracias nesses países.

E, já agora, que sirva de lição também a países democráticos sobre o que andam a fazer aos seus cidadãos, não vá um dia destes começar um levantamento destes numa cidade próxima de si...

Em casa onde não há pão, todos ralham...

...e todos acham que têm razão.

Se num primeiro momento, após Louçã ter anunciado a Moção de Censura ao Governo, o meu pensamento foi "é desta que o Sócrates vai cair", depois da poeira assentar e de ver a histeria dele na resposta e de uma série de agentes envolvidos no processo, cheguei à conclusão que só a ponderação e distância (real, por estar em Paris) de Pedro Passos Coelho poderá ser a salvação de Sócrates para mais alguns de meses de (des)governação até estarem reunidas as condições ideais de mudar de Governo.

Conforme noticiam os jornais de hoje, estão Passos e PSD sob pressão para "travar" censura do Bloco ao Governo e porque aparentemente o texto do BE será altamente ideológico (de extrema esquerda, como é evidente) e contra a Europa e o próprio PSD, o resultado é que a Moção do BE pode falhar, segue-se a censura do PCP que, se for um pouco mais neutra e se seguir ao conhecimento de dados político-financeiros das políticas do Governo, provavelmente será então aprovada.

O que é facto é que apesar da vontade de correr com Sócrates seja enorme, não sei se este é o momento de o fazer. Até o próprio timing do anúncio é mau. Avisar agora que daqui a um mês haverá a MC é deixar um país em suspenso durante esse tempo. O que é mau para o país, como é evidente, que não pode ter o machado sobre o pescoço todo este tempo. Ou corta ou não corta. Que é como disse o Paulo Portas há uns dias, as MC não se anunciam, apresentam-se!

Em suma, não havendo pão por cá, há muito ruído de fundo. E ninguém terá razão como é evidente, a começar pelo Governo.

2011/02/09

Ronaldo ou Messi?



Hoje, às 20 horas, poderemos assistir na RTP1 ao embate mais aguardado dos últimos tempos, futebolisticamente falando. Ronaldo e Messi, representando as suas selecções, vão se defrontar em país neutral, a Suiça.

Aqueles que são considerados os melhores do mundo poderão hoje dirimir mais alguns argumentos para esclarecer que, de facto, é melhor. Para mim, é difícil dizer quem é o melhor.

Aprecio a inteligência de jogo, a fineza técnica e o posicionamento de Messi. Aprecio a velocidade, força e destreza técnica de Ronaldo. Ronaldo é um fenómeno da natureza, joga sempre a 100%, dá o máximo em cada lance, corre sempre, procura a baliza, é felino. Messi superou a natureza (venceu uma doença que o impedia de crescer) e de uma inteligência brutal, sabe sempre o que fazer em cada momento com a bola e quando não encontra nenhuma linha de passe ou colega desmarcado é capaz de inventar uma finta, uma corrida, um remate mirabolante.

Julgo que ambos são diferentes e fantásticos, adaptando-se melhor a uma equipas que a outras. Por exemplo, Ronaldo cabia bem no Barcelona, mas Messi não encaixa tão bem no sistema do Real Madrid. Em todo o caso, que equipa não seria essa com estes dois jogadores do mesmo lado!

Não sei o que nos vão reservar logo à noite. Apenas sei que, se estiverem inspirados e os outros elementos das equipas os deixarem jogar, poderemos ter muitos golos e um grande espectáculo.

2011/02/06

ArchDaily"s Building of the Year 2010

Segundo o Público aqui noticia, há 7 projectos de arquitectura portugueses nomeados para o ArchDaily's, um site de arquitectura.

São 70 projectos, em 14 categorias diferentes.

Portugal está nas categorias de escritórios/offices (com os escritórios da Tensai [1] em Leça da Palmeira), de reabilitação/refurbishement (com o prédio Pátio Luso [2] na Praça Carlos Alberto, no Porto e ainda a recuperação de uma velha fábrica de manteiga [3] na Calheta, Madeira), de interiores/interiors (com o conceito de um mini-apartamento [4] de 44m2 em Matosinhos e com uma loja de óculos [5] em Lisboa), de hotelaria/hotels & restaurants (com o bar temporário da AEFAUP [6] na Queima das Fitas, no Porto) e por fim na categoria de edifícios institucionais/institutional (com a sede da Vodafone [7] no Porto).

A arquitectura portuguesa está de parabéns. Para votarem neles, basta fazer o registo no site e todos os dias votar num edifício aqui seleccionando uma das categorias.


[1]


[2]


[3]


[4]


[5]


[6]


[7]

2011/02/05

Isto está mal...

...e vai continuar, cantam os Deolinda.



A letra:

Sou da geração sem remuneração
E não me incomoda esta condição
Que parva que eu sou

Porque isto está mau e vai continuar
Já é uma sorte eu poder estagiar
Que parva que eu sou

E fico a pensar
Que mundo tão parvo onde para ser escravo é preciso estudar

Sou da geração casinha dos pais
Se já tenho tudo p'ra quê querer mais?
Que parva que eu sou

Filhos, marido estou sempre a adiar
E ainda me falta o carro pagar
Que parva que eu sou

E fico a pensar
Que mundo tão parvo onde para ser escravo é preciso estudar

Sou da geração vou queixar-me p'ra quê?
Há alguém bem pior que eu na tv
Que parva que eu sou

Sou da geração eu já não posso mais
Que esta situação dura há tempo demais
E parva eu não sou

E fico a pensar
Que mundo tão parvo onde para ser escravo é preciso estudar

2011/02/04

50 anos de Guerra Colonial

Todas as guerras são estúpidas e injustas. São estúpidas porque só a estupidez do bicho Homem é que leva a guerras, não resolver de forma racional e inteligente diferendos. E são injustas porque usam e desviam recursos imensos do bem-estar da população para este acto, porque criam pobreza em especial junto dos mais desprotegidos, por trazer miséria e destruição aos locais por onde passa e, porque não dizer, por nunca resolver o problema que a causou.



Dito isto, faz hoje 50 anos que se iniciou a última guerra em que Portugal esteve envolvido activamente e como um dos beligerantes. A dita "Guerra Colonial" que se iniciou em Angola a 4 de Fevereiro de 1961 (razão porque hoje é um dos principais feriados de Angola) e que se prolongou até ao 25 de Abril de 1974.

Hoje, as antigas colónias portuguesas são independentes, mas não por causa da guerra - ou melhor, como consequência lateral da guerra, porque Portugal só abandonou a luta armada após a queda do regime totalitário que vigorava até então, queda essa acelerada pela guerra colonial, mas acima de tudo porque exigia algumas mudanças nas liberdades, garantias e direitos dos cidadãos.



A pergunta que sempre fica no ar é se valeu a pena esta guerra que tendo começado em Angola, rapidamente se alastrou a Moçambique, Cabo Verde e Guiné. Porque, e volto ao principio, todas as guerras são estúpidas e injustas, logo desnecessárias, se os Homens que governam soubessem perceber as aspirações dos povos que governam.

2011/02/02

Revolução dos Jasmins



Não sei o que irá dar esta chamada "Revolução dos Jasmins" que se está a dar e proliferar nos países islâmicos do norte de África nas últimas semanas.

Começou na Tunísia e aparentemente irá resultar num governo democrático e de pendor moderado. Agora estendeu-se ao Egipto (à maneira antiga, o Acordo que se dane!) e aqui ainda não é possível concluir o que irá acontecer, sendo que para já Mubarak diz que não se recandidata às presidenciais mas que fica até Setembro no poder. E entretanto já se fala de movimentações semelhantes em muitos outros países como a Jordânia, Síria, Mali, Yemen...

Muito sinceramente, tenho algum receio destas mudanças. Porque em muitos destes países há grupos muito fortes de radicais islâmicos, próximos do Irão e de grupos terroristas e a mim não me agrada nada ter países radicais islâmicos à porta da Europa.

Estou muito apreensivo quanto ao futuro próximo de alguns países muçalmanos e espero que este singelo jasmim não se venha a transformar numa espinhosa rosa...