2012/09/24

Leituras [71] - A Sul. O Sombreiro, de Pepetela

Este "A Sul. O Sombreiro", é mais um romance de Pepetela que aborda a história da colonização portuguesa de Angola, neste caso o surgimento da cidade de Benguela ainda Luanda era uma pequena vila, pela vontade férrea e sonhadora de Manuel Cerveira Pereira, que com muitos esquemas, corrupção, abuso de poder, enganos e desenganos conseguiu "inventar" um reino de Benguela onde nada existia para convencer Filipe II de Portugal da validade da sua ideia, que era apenas enriquecer...

Dos vários livros que já li dele, muito me agradaram todos os "modernos" onde desmonta a sociedade angolana actual, mas também os "históricos" onde mostra que as bases, fundações, da sociedade de hoje se encontram remotamente, ligadas à colonização, claro, mas algumas "idiossincrasias" são já pré-colonização.

Esta história é engraçada pois com base em acontecimentos verídicos de vários personagens, desde logo o próprio Cerveira Pereira, mas também um personagem inglês que por lá andou, é construída uma narrativa à Pepetela onde as várias histórias se vão desfiando e convergindo para serem, no fundo, todas uma parte de uma história maior.

Excelente para se conhecer a história de Angola, da colonização de Portugal e dos povos angolanos - sim, porque o angolano não é uno, é antes resultado de muitas etnias que se guerreavam, se batiam por terrenos e peças.


Sinopse
""Manuel Cerveira Pereira, o conquistador de Benguela, é um filho de puta." Assim começa um grande romance de aventuras que nos conduz a Angola dos séculos XVI e XVII, enquanto Portugal vivia sob o domínio filipino. Entre lutas de poder, muitas conspirações, envolvendo governadores e ordens religiosas com os franciscanos e os jesuítas na linha da frente, travamos conhecimento com homens muito ambiciosos, com um inglês um pouco doido, e com os terríveis jagas, os guerreiros incomparáveis que povoavam os piores pesadelos dos brancos, ao mesmo tempo que nos deixamos encantar por um fugitivo que se torna um aventureiro e explorador de terras por desbravar.
O regresso de Pepetela com um empolgante romance ambientado nos primórdios do colonialismo, revelando uma época desconhecida da história de Angola."

2012/09/22

Ainda da regeneração e reabilitação urbana

Algumas conclusões a que cheguei depois de assistir ao Seminário Internacional de Regeneração e Reabilitação Urbana.

1. Há muita confusão entre REGENERAR e REABILITAR e outras palavras como requalificar e reconstruir. São tudo conceitos próximos e parecidos, mas não iguais e sinónimos. Obras como a REQUALIFICAÇÃO do Largo do Toural e Alameda em Guimarães foi, subrepticiamente, apresentada como REGENERAÇÃO. Obras como a RECONSTRUÇÃO do Chiado em Lisboa foi apresentada, subrepticiamente, como REABILITAÇÃO. Não o foram assim designadas nos documentos oficiais nem elas correspondem ao que quiseram, para o efeito, os oradores fazê-las passar.

2. Reabilitação pode ser dos espaços públicos ou do edificado, podendo este ser público ou privado. Normalmente não há investimento privado sem que o público não avance primeiro com a reabilitação do espaço público e por vezes até que crie pontualmente novos equipamentos públicos em edifícios reabilitados. O problema é que hoje não há dinheiro para o investimento público e não há crédito para o investimento privado e não há procura suficiente para rentabilizar os investimentos. E o problema da "Lei das Rendas" continua por resolver...

3. Regeneração depende das políticas e planeamento, sendo que o planeamento político é fraco e quase inexistente.

4. Regeneração pode ser casual e fragmentada, sendo que nestes casos não resulta porque se destina normalmente "turistificação" e à "museificação" dos espaços, deixam de ser para quem os habita e passam a ser para quem os visita, perdendo com isso a vida própria dos espaços e a sua característica própria.

5. O conceito "shrinking cities" vai passar a ser mais usado e ouvido falar no futuro. Se há cada vez menos gente nas nossas cidades (Porto perdeu 90 mil pessoas em 20 anos, Lisboa perdeu 250 mil pessoas nesses 20 anos) então há edificado a mais, que muitas vezes é melhor substituido por um vazio do que por outro edifício novo - a Alemanha tem usado esta teoria para refazer cidades do leste alemão com algum sucesso.

6. As cidades em Portugal com centro histórico estão a sofrer do efeito de "cidade donut", ou seja, os seus centros esvaziaram-se e nas radiais desenvolveram-se vários novos centros, pólos de atractividade que a "cidade do automovel" ajudou a consagrar.

7. Tem de haver uma mudança de paradigma na construção da cidade: tem que se fazer cidade a partir da cidade (existente) e não sobre a cidade (existente) como durante milhares de anos aconteceu (cidades por camadas "geológicas").

8. A cidade tem de ser feita COM as pessoas e não apenas PARA as pessoas. A participação através de consultas à população ou através dos orçamentos participativos vão ser, sem qualquer dúvidas, cada vez mais frequentes no futuro.

2012/09/20

Seminário Internacional de Regeneração e Reabilitação Urbana

Assisti hoje à primeira parte deste seminário com um tema muito interessante, porque aborda, talvez, a única coisa que poderá funcionar na indústria da construção em Portugal nos próximos 10 anos...

No entanto, este seminário é melhor no papel do que na realidade. Isto é, quem leu o programa pensou que ia ter Souto Moura e Siza Vieira a falar sobre estes assuntos cruzando-os com os seus trabalhos e, afinal um está no estrangeiro e outro está em convalescença e nenhum participou.

Para além disso, também Rui Rio não foi, pelo que das "estrelas" sobrou Rui Moreira e num seminário organizado por arquitectos e engenheiros, as melhores intervenções (de longe) foram de um geógrafo (Rio Fernandes) e de um economista (Carlos Martins) pois foram aquelas que não só puseram o "dedo na ferida" como também mais pistas deixaram para estes temas.

Por outro lado, a intervenção que Siza (não) fez através de um seu colaborador na intervenção que fez no Chiado, versava muito mais na reconstrução do que na regeneração e menos ainda do que na reabilitação. Espero que amanhã de manhã, na conclusão do seminário, pelo menos no painel "política" ainda possa assistir a boas intervenções. Espero com alguma ansiedade a do engenheiro Paulo Cruz que deverá versar a CEC2012, pois para além de seu administrador, era até assumir esse cargo o presidente da Escola de Arquitectura da UM que esteve muito ligada a uma das principais (e polémicas) obras deste evento, a requalificação do Largo do Toural (e mais uma vez aqui se foge um pouco ao tema, apesar da proximidade do mesmo)...

Uma última palavra para o local da conferência: a simbólica e icónica Casa da Música, na sua Sala 2. Não é confortável, não é o local para se fazer uma sessão de tantas horas - as cadeiras são perfeitamente disformes, não têm apoio de braços, ficam a 1/3 das costas, são duras... ainda estou "dorido" do dia todo lá sentado! É melhor escolherem um verdadeiro auditório de conferências, que há muitos no Porto, do que isto - o simbolismo do edifício não justifica tal tortura!

2012/09/19

14610 dias...

...aqui na Terra ou 40 anos, se preferirem!

Já é uma longa história. Mas espero que ainda tenha muito mais para contar... ;)

2012/09/16

Que Portugal queremos?

Tenho resistido a comentar, de cabeça quente, os desenvolvimentos dos últimos dias, da última semana, em Portugal após mais uma positiva avaliação dos nossos credores ao nosso programa de assistência financeira.

Tudo porque eu próprio me sinto confuso e dividido com o que se passa.

Primeiro porque não sei, não vejo alternativa credível para o que actualmente se passa quanto à contenção financeira que vivemos e necessidade de alterar estruturalmente o nosso país, de mudar hábitos de vida e de consumo. Por mais que as pessoas não queiram perceber ou se tenham esquecido, Portugal viveu durante os 6 anos do consulado de Sócrates do crédito: a nossa economia não produzia nem crescia o suficiente para gerar receitas para o Governo fazer todas as obras que fez nesse período de tempo, tendo para isso recorrido a várias formas de crédito (de empréstimos obrigacionistas a negociação directa de dívida com outros países) que fez com que o país, no seu todo, tivesse ficado a dever muito mais dinheiro do que aquele que alguma vez conseguiria gerar para pagar de volta os credores - para quem não se lembrar, a dívida pública era em 2004 de 90 mil milhões e em 2011 de 175 mil milhões - ou seja, quase duplicou nesse período de governação... Ora, como todos sabemos, quando pedimos emprestado temos de pagar de volta sob pena de perdermos os bens adquiridos (e até outros se estes entretanto se desvalorizarem) mas como neste caso os bens não são móveis nem sequer transportáveis (trata-se de escolas, estradas,  hospitais, coisas assim) tudo se complicou. Mais ainda quando se sabe do tipo de negócio (as famigeradas PPP's e a Parque Escolar e outras coisas que tais) que foram utilizadas para se investir - coisas que não geram receitas, que não se pagam nem são auto-sustentáveis.  E negociadas da maneira que sabemos...

Depois, porque não vendo alternativa, também não sei se esta é a melhor maneira de o fazer. Daí perceber bem as manifestações de ontem - mais do que outra coisa qualquer, foi o perder a esperança que muita gente ontem manifestou (outros, os mascarados dos petardos, tomates e garrafas atiradas às autoridades, foi o renascer da esperança de pela força fazerem a tão sonhada "revolução"...) e foi abrir a válvula da pressão acumulada neste último ano de tantos sacrificios feitos por todos - como dizia já Sá Carneiro, algures no pós-revolução, os "homens só se determinam e animam quando sabem o porquê e para quê dos sacrifícios que lhes pedem" - e também uma mensagem ao Governo sobre as últimas medidas tomadas.

Sim, porque aquilo que mais quebrou psicologicamente os portugueses - e por mim também falo - foi pedir mais sacrifícios a uns e liberar outros desses sacrifícios, isto é, a questão do aumento dos descontos da segurança social para os trabalhadores e a diminuição da TSU para as empresas. Percebo ambas as ideias, mas discordo de uma delas. Sei que a taxa da segurança social tem de aumentar para os trabalhadores (é matemática simples e pura: somos cada vez menos a trabalhar por diminuição de emprego e de população activa com idade para isso, há cada vez mais apoios sociais como reformas, subsídios de desemprego e RSI's a pagar, logo é evidente que cada um tem que contribuir com mais) mas o momento não é o ideal, menos ainda no valor proposto (mais 60%  de uma vez). Por outro lado, percebendo a ideia que está por trás da proposta das empresas pagarem menos TSU, julgo que no momento em que se pede sacrifícios a todos não se pode dizer a um grupo em particular que esses não têm de fazer sacrifícios e até recebem um bónus. Isso foi o choque. Felizmente, do que vou percebendo das várias declarações dos membros do Governo, há espaço para em Concertação Social os empresários abdicarem dessa baixa de valor e dessa forma os trabalhadores "apenas" terem de contribuir com a diferença daí  resultante.

Mas como entretanto o mal está feito, agora será preciso mais para "adoçar" a boca de todos para se sentirem mais satisfeitos. Para encontrarem novamente determinação de realizar os sacrifícios pedidos e necessários.

Daí a minha pergunta: que Portugal queremos?

Aquele que Mário Soares, Manuela Ferreira e todos os dessas gerações nos trouxeram até aqui? São esses os sábios e experientes que nos vão ajudar a sair deste buraco onde nos meteram? Não brinquem comigo...

Ou queremos um diferente, que esteja a mudar estruturalmente o país, apesar da Constituição que temos? É experimental, sim. Pode não resultar, é verdade. Mas entre as experiências de 1974-2011 e isto, eu ainda prefiro isto. O Estado tem e está a emagrecer. Ainda não está tudo feito, mas este Governo tem apenas um ano de vida! Esperavam resolver os problemas conjunturais e estruturais de mais de 30 anos de má governação e opções com um ano de Governo? São utópicos ou lunáticos, então. Já li e ouvi várias pessoas dizerem que isto não se resolve numa legislatura, nem numa década e só muito dificilmente se resolverá numa geração (ou seja, 25 anos) e concordo em absoluto. A questão é que em 37 anos de Governos as coisas só pioraram. E este Governo, para o bem ou para o mal, teve a coragem de iniciar cortes onde a factura era mais pesada: nos ordenados que paga aos seus mais de 700 mil funcionários, nas áreas cujo peso é maior na factura anual (saúde, educação, obras públicas) e apesar de ainda ter muito caminho a percorrer, a verdade é que já conseguiu mais que todos os anteriores fizeram que apenas engordaram e aumentaram "o monstro" do défice..

Este é o Portugal que quero do futuro - com menos Estado, com mais regulação.  Por exemplo, ainda hoje discutia no Facebook sobre o facto de não haver regulação nas vagas dos cursos das universidades, ao constatar que na minha área há mais de 20 mil arquitectos inscritos na Ordem e que o sector da construção está numa crise de tal forma que primeiro que o mercado absorva todos estes profissionais, vai demorar anos e anos. O Governo tem condições de regular ou de ter organismos que o façam o número de vagas desta profissão, por exemplo, pois é o Ministério que autoriza o funcionamento dos cursos, ou poderá criar um organismo que faça esse tipo de trabalho. É uma irresponsabilidade as universidades estarem a abrir tantas vagas de arquitectura. Ou de ensino. Ou de advogados. Porque são quadros, são cérebros, que ou emigram ou só uma pequena parte tem emprego na sua área garantido, pois não há emprego no país para todos.

Eu, por mim, ainda dou a este Governo tolerância. Acredito que Passos Coelho saberá ler e ouvir o que escrevem e dizem os cidadãos e os próprios militantes do seu partido. E que saberá fazer as correcções necessárias à sua proposta, mantendo a austeridade e cortes necessários, mas mudando a incidência sobre quem estes recaem e sobre a forma como os aplica.

Acima de tudo, como bem disse hoje Paulo Portas, cair o Governo agora era deitar fora todos os sacrifícios feitos até ao momento. E pior, era abrir portas aos irresponsáveis socráticos que ainda aí andam e que nos puseram neste estado - a alternativa que Seguro propõe é voltar à política de incentivos e apoios do Estado que Sócrates e os anteriores praticaram e que, como sabemos, não produziram crescimento económico (nos últimos dez anos raramente passou o 1% de crescimento) e aumentaram a nossa dependência dos credores externos ao ponto de obrigar à actual humilhante assistência externa dos credores corporizada na "Troyka" e que no fundo nos retira muito da nossa soberania, devolvida exame após exame e num espaço de tempo que não deve aumentar nem num montante que não deverá ser maior que o já negociado - sob pena de estarmos mais tempo sob o jugo da Troyka e de dependermos ainda mais deles financeiramente! Por isso é que eu entendo a "obstinação" do Governo em cumprir no prazo e no montante previsto o acordo de assistência: é que quanto mais depressa o for feito e dentro dos limites contratados, mais depressa seremos autónomos e nos veremos livres deles...

A questão que fica é se teremos desta vez aprendido a lição que não aprendemos nas duas anteriores vezes de assistência externa financeira e se mudamos a estrutura do orçamento português ou se tudo continuará na mesma rumo a nova intervenção cíclica... eu que estou prestes a fazer 40 anos e que assisto à primeira assistência externa financeira em adulto mas a 3ª na minha vida, gostaria que esta fosse de vez e a última... É preciso mudar Portugal, mesmo!

2012/09/11

11 vezes 9-11

11 anos se passaram do 11 de Setembro ou, como dizem os americanos, do "nine-eleven".

Convém não esquecer, até porque muita da crise que hoje padecemos entronca directamente nesse dia. Porque esse dia foi tão especial para toda o mundo civilizado ocidental e tão determinante nas liberdades e na economia mundial, não podemos esquecer e teremos de lembrar sempre o dia em que alguns fanáticos usaram meios civis para abater alvos civis e matando milhares de civis. Tudo em nome da religião. Triste, muito triste...

2012/09/03

Hulk rende 60 milhões...


...mas não há milhões que paguem a falta que ele vai fazer no estádio! E agora, quem vai marcar golos à Hulk como aquele contra o Sporting na última jornada lá disputada? Ou aquele contra o Apoel? Ou o seu 1º golo desta época, contra o Vitória, numa jogada e remate "à Hulk"?

O seu vazio é muito maior que os 60 milhões (na realidade, apenas 40 para o FC Porto que detinha apenas 85% do passe) que rendeu, mas a força do mercado e das contas a isto devem ter obrigado...

Nestes anos, e já são muitos, que vou ao futebol ver o meu FC Porto tive a felicidade de ver alguns dos melhores jogadores europeus e mundiais lá pisarem o relvado, felizmente muitos com a camisola do "meu" FC Porto: Cubillas, Futre, Gomes, Baia, Fernando Couto, Jardel, Quaresma, Lucho, Falcao, Moutinho, Hulk... Só isso me conforta cada vez que um destes jogadores sai da equipa: sei que, mais cedo ou mais tarde, outro virá que será tão bom como o que sai...

Ao Hulk, a melhor das sortes. Desejava mais para ele, um clube de topo da Inglaterra ou Espanha. Mas esta foi a sua oportunidade e ele achou que seria de aproveitar, tal como o clube. Espero que não seja um passo atrás na carreira futebolística apesar de acreditar que tenha sido um passo em frente na sua "carreira" bancária...