2003/10/09

Ainda sobre o Dia Mundial da Arquitectura

O meu amigo Xana, estudante de Engenharia Civil, deixou algumas considerações interessantes ao meu "post" de ontem.

Cabe-me esclarecer que tudo aquilo que falei são casos dos quais tenho conhecimento pessoal mas cuja prova, para mim sendo dificil de a fazer, é relativamente simples de produzir para quem puder fazer uma contabilidade dos autores de processos nos serviços de urbanismo e loteamentos das Câmaras Municipais. Quando falei de turbo-engenheiros, não quero dizer que são todos assim; nem que são Engenheiros Civis! Para além destes, também os Engenheiros de Minas e os Engenheiros Técnicos assinam projectos de arquitectura. E se os Engenheiros permitem que bacharlados em engenharia sejam chamados de Engenheiros, a culpa não é minha... Aliás, costumo fazer a distinção dizendo que uns são Engenheiros e outros são Técnicos em engenharia!
Mas o que é facto é que há pessoas com este grau académico que assinam centenas de projectos por ano. A partir de casa ou pequenos escritórios. E eu sei que isso não é possivel assim, pelo que só podem ser TURBO-engenheiros...

Quanto às competências que as universidades facultam aos seus alunos, em teoria estão muito bem. O pior é quando estes chegam ao mercado de trabalho e vêm que afinal a maior parte daquilo que andaram a estudar tem muito pouco campo de aplicação e sentem-se desorientados e com necessidade de voltar a aprender outra vez. Foi o que se passou comigo e com diversos outros arquitectos e engenheiros com quem fui contactando ao longo destes anos desde que me licenciei. A conclusão a que rapidamente cheguei é que o ensino superior na área da construção é muito pouco orientado para o mercado de trabalho. Mas o mesmo não se passa com as pós-graduações, que são muito mais próximas da realidade laboral.

Depois, não contesto a separação de funções. Antes pelo contrário, defendo-a! Admito deixar de fazer direcções de obra - para as quais só ao fim de algum tempo de trabalho me passei a sentir mais vocacionado - se ficar com o exclusivo do projecto. Mas não aceito que não possa fazer algumas das especialidades, pelo menos até determinadas dimensões, uma vez que posso adequirir esses conhecimentos. Afinal, para poderem subscrever determinados projectos (como gás, acústica ou térmica) os engenheiros têm de frequentar uma acção de formação; e se os arquitectos puderem frequentar algumas acções de formação em determinadas áreas, porque para tal estão vocacionados, podem perfeitamente subscrever esses projectos (aliás, essa é a ideia que preside aos alvarás dos construtores, por escalões dos valores de obras que podem realizar em função dos pessoal que dispõem nos quadros da firma).

Por último, no que toca ao capitulo financeiro, a questão dos honorários é sempre complicada... Mas a qualidade que um projecto elaborado por um arquitecto pressupõe é, à partida, superior àquela conferida por um não-arquitecto. Aliás essa questão é tão importante que é em função dela que escolho os meus colaboradores em cada projecto: se é algo com qualidade e que me garanta bons honorários, trabalho com um Engenheiro Civil; se é um projecto simples e despretencioso, cujos honorários são normalmente mais fracos, então trabalho com Técnicos de Engenharia. Agora, Xana, tira as conclusões...

Mas foi bom teres tocado nesses assuntos, pois é sempre agradável debater desta forma com alguém que está disposto a trocar argumentos de forma correcta.

Sem comentários: