2004/04/02

Geração de pechisbeque por FERNANDO ESTEVES

“Luiz Felipe Scolari bateu com a porta e já não vai orientar a selecção portuguesa no jogo com a Suécia, a próxima partida de preparação para o Campeonato Europeu de Futebol.”
A notícia, pura poesia travestida de jornalismo, adornava ontem a última página do Correio da Manhã”. Tudo indica que o belo naco de prosa terá sido apenas uma saborosa brincadeira montada por João Marcelino & Companhia a propósito do 1.º de Abril. Afinal, ainda não é desta que Scolari sai da liderança da Selecção. É pena.
Depois de ver uma das mais decrépitas equipas nacionais dos últimos anos em acção na passada quarta-feira, qualquer português atento terá de concluir que o sonho chegou ao fim. A precipitadamente denominada “geração de ouro” já não tem pernas para nos dar títulos e glória. Rui Costa - a paixão mais incompreensível do futebol português - foi um dia um bom jogador, mas hoje arrasta o peso da idade pelos campos. Fernando Couto é uma sombra do atleta de eleição que já foi, mas Scolari não tem força para o tirar da equipa principal. Até Figo é uma ilusão à solta: talvez inconscientemente, continuamos a ver nele o jogador serpenteante que era rei em Barcelona. E que já não existe. Chega a ser confrangedor que tendo Baía (a par de Figo, o único da “geração de ouro” a merecer ainda convocação), Ricardo Carvalho, Maniche, Deco e Cristiano Ronaldo, Scolari feche os olhos à renovação e presenteie os portugueses com um futebol vazio, protagonizado por jogadores cuja motivação mais premente deve ser a investigação sobre as formas mais criativas de estoirar as toneladas de dinheiro que muito justamente já ganharam.
Há mais de um ano à frente da Selecção, Scolari manifesta ainda um profundo desconhecimento do futebol português. Pior do que isso, aparentemente esqueceu as máximas do seu filósofo favorito, Sun Tzu, que defendia que quando não nos conhecemos a nós mesmos nem aos nossos inimigos a derrota é uma fatalidade. Em todas as batalhas.

Fernando Esteves é colunista no jornal "O Independente" e escreveu esta coluna na edição de hoje, 2 de Abril. Afinal parece que eu não sou o único a pensar assim...

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