2004/04/20

Linha de Rumo n.º 60 - [r]evolução


No próximo domingo comemoram-se os 30 anos da “Revolução dos Cravos”.
Mas também nesse dia faz 29 anos que decorreram as eleições para a Assembleia Constituinte, as primeiras em liberdade e democracia. E faz 28 anos que foi aprovada na Assembleia da República a Constituição portuguesa.
Talvez por esse motivo decidiu o Governo alterar um pouco o tipo de comemorações que se praticava, já algo gastas pelo tempo e sem grande afluência, em particular dos jovens aos quais lhes passa relativamente ao lado o significado do “25 de Abril”!
Como é evidente, qualquer mudança traz sempre polémica. E a simples “queda” de um “R” veio fazer toda a diferença…
Por mim, estou plenamente de acordo com a ideia de se comemorar nestes 30 anos a “evolução” e não apenas a “revolução”. Porque acho muito pequeno, muita falta de visão, centrar apenas o conceito do “25 de Abril” na “revolução”. Acho que esta celebração deve ser muito mais abrangente do que o “mero” – sem nada de pejorativo, bem pelo contrário – gesto de alguns militares que naquela data executaram um golpe militar sobre uma defunta ditadura e que se constituiu na machadada final, na “revolução” que veio permitir que hoje, 30 anos depois, se possa celebrar a “evolução” que Portugal teve.
Ao contrário de alguns “críticos” da ideia “evolução”, não considero que a mesma seja uma forma de camuflar que houve uma ditadura e que a mesma iria “cair de podre”, dando a entender que não houve uma “revolução”, mas antes uma “evolução” na continuidade. Nunca ouvi a nenhum responsável governativo negar a existência de uma “revolução”. Mas já ouvi muitos “revolucionários” renegar a “evolução”…
Penso que o conceito de comemorar a “evolução” que Portugal teve neste 30 anos e que é, para mim, muito mais próximo do conceito que tenho do “25 de Abril”, está mais ajustado aos tempos de hoje. Porque mostrando o que era o Portugal da década de 70 e mostrando o que é o Portugal do século XXI é que se pode perceber e até glorificar o feito dos “capitães de Abril”. Só assim será possível fazer entender aos jovens que se hoje têm computadores, internet, consolas e liberdade de se deslocarem para assistirem a concertos, por exemplo, tal deve-se ao acto que foi protagonizado desde o dia 25 de Abril de 1974 e que ainda hoje se encontra por completar: é, por isso, um processo evolutivo. Para aproximar os jovens desta comemoração também são importantes outros actos como aquele que o Presidente da Assembleia da República, Dr. Mota Amaral, protagonizou ao convidar a jovem fadista Mariza para cantar o Hino de Portugal em pleno Parlamento, na sessão oficial da Assembleia da República. São estas pequenas alterações nas antigas formas de celebrar o “25 de Abril” que o podem transformar numa data à qual os jovens se queiram juntar. Porque se assim não for, não faltará muito para que apenas meia dúzia de sobreviventes se juntem nessa comemoração, tal como hoje acontece com as comemorações da Implantação da República a 5 de Outubro…
Evoluir e renovar não é adulterar.
É adaptar aos tempos de hoje algo que não deve sair da consciência dos portugueses: que coarctar os direitos de oposição, de liberdade de pensamento e de opinião ou que tentar impor pela força do poder aquilo que deve ser executado pela força da razão, era errado em 25 de Abril de 1974 e – apesar de estarmos prestes a celebrar os 30 anos da Democracia no próximo dia 25 de Abril de 2004 – continua hoje a ser errado!

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