Ora cá está a cereja do Cerejo em cima do bolo.
Depois das dúvidas sobre a licenciatura, agora sabemos que enquanto Deputado da nação em regime de exclusividade assinava projectos de arquitectura, engenharia e era consultor técnico de uma firma de construções. Ora aí está um caso típico de dupla personalidade.
O problema nem está quanto a mim, na real autoria ou não dos projectos. O problema está na ética associada a assinar projectos de colegas que trabalham em autarquias e que por isso, se a tempo inteiro, não podem exercer e muito menos dentro do concelho onde está a autarquia para a qual trabalha. O problema está em apresentar facturas/recibos dos trabalhos executados. O problema está na alegação que era Deputado com exclusividade e ao mesmo tempo manter actividade laboral na função privada, com provavel fuga aos impostos visto que se apresentasse rendimentos na parte privada com quase a certeza absoluta seria-lhe retirado o estatuto de exclusividade na AR.
Conforme comentei ontem, esta situação não me é estranha e tenho a noção que nos próximos anos vamos ouvir falar de coisas similares com regularidade. Eu andei 8 anos na política, depois de me licenciar entrei para a JSD onde estive 4 anos e passei para o PSD onde permaneci outros 4, sempre com cargos concelhios e distritais. Conheço muitos "carreiristas", hoje adultos que nunca fizeram mais nada que não fosse política e sempre viveram desse expediente e que subiram na escala social e profissional à custa da política, cujos currículos se resumem a actividades políticas e nunca, mas nunca, verdadeiramente trabalharam! Hoje alguns são deputados, vereadores e afins. Não tarda nada, serão secretários de estado, ministros. E o passado deles será, mais dia menos dia, visto à lupa e a verdade virá à tona. E José Sócrates, que começou na JSD e passou para a JS e subiu ao PS e sempre esteve envolvido na vida partidária e teve passagens muito pouco notórias na vida privada e fora da esfera política, é um destes casos de carreirista político.
Pode não ser ilegal, podia até ser um mal menor por necessário em função das condições locais de falta de pessoal técnico qualificado. Mas é eticamente inadmissível e reprovável e é típico da situação que grasou Portugal nos anos 80 e 90.
Sobre a qualidade estética não me pronuncio. Para já, porque não comento trabalho de arquitectura desenvolvido por engenheiros (e na época, julgo que engenheiro técnico) como não gosto que eles comentem o meu. Depois, porque sei o que é trabalhar com orçamentos reduzidos e clientes que não querem e não aceitam as sugestões que lhes damos, apenas olham para os técnicos qualificados como o mal e o meio necessário para obterem a licença de obra para construirem a casa/anexo/garagem/muro que tanto necessitam.
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