Sejamos claros. O verbo lixar é a versão soft do calão hard "foder". Ponto final.
Vem isto a propósito do recente discurso de Pedro Passos Coelho aos deputados do PSD onde disse "que se lixem as eleições, o que importa é Portugal"!
E a que propósito terá surgido tal expressão?
Há um ano, pelo menos, que ele vem chamando a atenção que a sua política, que está a seguir, é intransigente no sentido de cumprir os acordos internacionais que nos salvaram da bancarrota e de criar condições para as finanças do país finalmente se endireitarem, criando um novo paradigma de governação (não gastar mais do que aquilo que se arrecada) mesmo que o cidadão comum possa não entender algumas das medidas implementadas.
E que medidas têm sido estas? De cortar em despesa do Estado. E o que é despesa do Estado? São os ordenados dos 700 mil funcionários públicos, são os gastos com a ADSE, são todos aqueles tendencialmente gratuitos constitucionais que custam os olhos da cara...
Mas mesmo ao fim de um ano há muita gente que ainda não percebeu a coisa. Desde logo, todos os socialistas que nos 6 anos anteriores nos trouxeram até ao ponto que então PPC encontrou. Mas muitos outros cidadãos, como os professores, ainda não perceberam uma coisa simples: há uns dias atrás explicou José Manuel Fernandes (ex-director do Público) que há coisa de 20 anos atrás havia 1,5 milhões de estudantes do básico e mais de 200 mil do secundário. Hoje há menos de 1 milhão no básico e pouco mais de 100 mil no secundário. O problema é que o número de professores é quase igual, pouco tendo descido. O rácio aluno/professor passou de 17 para 12. E se juntarmos a isto a desertificação do interior e aglomeração da população no litoral, o que temos? Uma classe de funcionários em excesso que não aceita a realidade. É certo que não têm culpa de haver professores em excesso. Mas o ministro e PPC também não têm. Não houve, nestes 20 anos, nenhum controlo nos cursos que dão acesso à profissão de professor. Como não houve na classe de arquitectos (quando me inscrevi em 1996 na então AAP era o n.º 6.547 e segundo o último boletim da OA que recebi hoje somos 20.805... ) e o mesmo se passa em tantas outras profissões.
E é engraçado como certa gente dá a volta ao discurso e à ideia subjacente e até dizem que ele se está a lixar para as eleições numa alusão a uma ditadura. Discordo em absoluto e só mentes retorcidas são capazes de ler filosoficamente tais ideias naquilo que é claro como a água: os deputados e o governo foram eleitos com uma missão de resgatar o país e não de ganhar eleições em 2012, 2013 ou 2014, sendo que o seu mandato é para governar mesmo com medidas eleitoralmente penalizadoras, beneficiando Portugal e não seguir o rumo de demagogia politiqueira que o (in)Seguro líder da oposição tem aplicado a defender o acordo de segunda a sexta e a atacar ao fim de semana é que, isso sim, de ser entendida como um remake do "sócratismo" que nos trouxe a este ponto.
Numa coisa, no entanto, estou de acordo. Este discurso chamou a atenção e pôs toda a gente a falar no assunto, bem ou mal, algo que "falinhas mansas" ao longo de um ano não conseguiram. E infelizmente é populista. Populista? Sim. Mas quem me dera que o populismo do Sócrates tivesse sido deste género porque hoje não estávamos na situação em que estamos. Relembro que em Junho do ano passado, se não houvesse o empréstimo da "diabólica" Troyka, os funcionários públicos não tinham recebido o ordenado no dia 23 porque disse o então ministro das finanças do PS em Maio que não ia haver dinheiro para o pagar... A questão é: o que querem deste PM? Alguém que afunde de vez o país ao ponto de não haver dinheiro para pagar os ordenados ou preferem alguém disposto a perder eleições para colocar o país em rota de gastar menos do que aquilo que arrecada, para ter dinheiro para pagar os ordenados dos funcionários e a reforma até ao fim das suas vidas? Se quiserem continuar na sua cruzada anti-passista, força, só espero que quando enterrarem o país de vez não se venham queixar... Se quiserem ser responsáveis, então só têm de fazer a única coisa possível: perceber que tudo isto é preciso para existir um futuro.
2012/07/25
2012/07/22
Leituras [67] - Ouro do Inferno, de Eric Frattini
Este Ouro do Inferno, de Eric Frattini, foi um livro que li com muito prazer e facilidade, onde a história flui, página após página, num crescente de emoções e de encontros e desencontros que nos encaminham para o final que, conforme vamos lendo, suspeitamos que iria acontecer. Graças também aos 5 dias de praia que usufrui, já que fiz o meu desporto de praia preferido: li e dormi!
A história de que Hitler não terá morrido já não é novidade (por exemplo, já aqui li e comentei o livro "Pátria", de Robert Harris (no já longinquo ano de 2004...) se bem que nesse "Pátria" estávamos perante um "e se..." e neste "Ouro do Inferno" estamos perante uma ficção baseada em vários documentos e acontecimentos reais que podem indiciar alguma verdade nesta ficção - e o recente aparecimento (seguido de imediato desaparecimento) do criminoso de guerra hungaro, chefe das SS naquele país, que pela segunda vez desaparece sem deixar rasto (depois de ter sido detectado no Canadá e ter conseguido escapar para reaparecer agora novamente na sua Hungria natal e voltar a desaparecer...) deixar pensar que a ODESSA que Eric Frattini retrata é bem mais real que aquilo que possa transparecer da sua ficção...
Engraçado foi também a referência ao amigo do autor, o também escritor Luís Miguel Rocha (e que é também um dos meus favoritos) que aparece na trama mas que rapidamente é aniquilado por Eric Frattini... com amigos destes, quem precisa de inimigos?? ;)
Fica agora a vontade de comprar e ler outro livro deste autor, "O Labirinto de Água", onde o seu personagem August Lienart (que de mero personagem secundário acaba por se transformar no "Eleito" e personagem marcante da trama deste livro) aparece já como Cardeal maléfico no Vaticano, talvez pronto a cumprir o seu papel como o "Eleito" que foi construído nesta história, penso eu...
A história de que Hitler não terá morrido já não é novidade (por exemplo, já aqui li e comentei o livro "Pátria", de Robert Harris (no já longinquo ano de 2004...) se bem que nesse "Pátria" estávamos perante um "e se..." e neste "Ouro do Inferno" estamos perante uma ficção baseada em vários documentos e acontecimentos reais que podem indiciar alguma verdade nesta ficção - e o recente aparecimento (seguido de imediato desaparecimento) do criminoso de guerra hungaro, chefe das SS naquele país, que pela segunda vez desaparece sem deixar rasto (depois de ter sido detectado no Canadá e ter conseguido escapar para reaparecer agora novamente na sua Hungria natal e voltar a desaparecer...) deixar pensar que a ODESSA que Eric Frattini retrata é bem mais real que aquilo que possa transparecer da sua ficção...
Engraçado foi também a referência ao amigo do autor, o também escritor Luís Miguel Rocha (e que é também um dos meus favoritos) que aparece na trama mas que rapidamente é aniquilado por Eric Frattini... com amigos destes, quem precisa de inimigos?? ;)
Fica agora a vontade de comprar e ler outro livro deste autor, "O Labirinto de Água", onde o seu personagem August Lienart (que de mero personagem secundário acaba por se transformar no "Eleito" e personagem marcante da trama deste livro) aparece já como Cardeal maléfico no Vaticano, talvez pronto a cumprir o seu papel como o "Eleito" que foi construído nesta história, penso eu...
Sinopse
Berlim, 1945: entre os escombros de uma capital arrasada, Hitler enfrenta as suas últimas horas de vida.
Ou será que não?
Numa Europa devastada pela segunda guerra mundial, o jovem seminarista August Lienart vê-se implicado numa operação de grande escala: uma organização enigmática tenta encontrar uma via de escape para os nazis e lançar os alicerces para a construção do Quarto Reich.
Quem estará por trás da sinistra organização secreta em cujas teias se enreda Lienart? Estará a Igreja Católica envolvida na fuga dos criminosos de guerra?
Uma incrível e fascinante intriga, plena de suspense e mistério, até à última página.
Posted by
Nuno Leal
at
3:31 da tarde
0
comments
Enviar a mensagem por emailDê a sua opinião!Partilhar no XPartilhar no FacebookPartilhar no Pinterest
Labels:
Leituras
2012/07/20
O Comunicador
José Hermano Saraiva. 1919-2012. Faleceu hoje, com 92 anos, o último grande comunicador da TV portuguesa, que tinha o dom de estar 30 minutos, 45 minutos, mais até, a falar para uma plateia (a audiência) e com o mero apoio de algumas imagens de locais históricos nos segurava, mantinha agarrados ao ecran.
A minha geração (e não só...) aprendeu a gostar de História de Portugal - estivessemos ou não de acordo com algumas coisas que dizia.
Perdeu-se um Homem honrado, que fez vida após a queda da ditadura e que ainda hoje, como se vê neste triste dia, granjeia respeito na comunidade.
Perdeu-se um grande Homem, ficou uma obra única! Obrigado pelas excelentes aulas, Professor!
A minha geração (e não só...) aprendeu a gostar de História de Portugal - estivessemos ou não de acordo com algumas coisas que dizia.
Perdeu-se um Homem honrado, que fez vida após a queda da ditadura e que ainda hoje, como se vê neste triste dia, granjeia respeito na comunidade.
Perdeu-se um grande Homem, ficou uma obra única! Obrigado pelas excelentes aulas, Professor!
2012/07/17
Juntos, vamos vencer, por Guimarães!
Dois meus grandes amigos, um desde tenra infância, o outro há uns bons 15 anos, são o rosto da candidatura conjunta do PSD e do CDS às autárquicas de 2013. Desde que ando na política que participei activamente e acreditei em muitos projectos, de âmbito nacional e local - uns com mais sucesso do que outros, uns ganhei, outros perdi. Mas este é diferente - este, de tudo o que participei, é o mais importante e o que mais me diz porque extravasou o mero pensamento ideológico e matriz politica para passar a algo pessoal.
Conheço-os a ambos, o André e o Rui Miguel, para saber que este projecto é credível, capaz e orientado para o serviço dos vimaranenses com um novo e diferente paradigma de governação. Nunca, como hoje, tive a certeza que se perderem não são eles, nem eu, que perderemos - será Guimarães que tem neles o rosto da mudança geracional que tanto necessita! Por isso acredito que vamos vencer.
Juntos, vamos vencer, por Guimarães!
Conheço-os a ambos, o André e o Rui Miguel, para saber que este projecto é credível, capaz e orientado para o serviço dos vimaranenses com um novo e diferente paradigma de governação. Nunca, como hoje, tive a certeza que se perderem não são eles, nem eu, que perderemos - será Guimarães que tem neles o rosto da mudança geracional que tanto necessita! Por isso acredito que vamos vencer.
Juntos, vamos vencer, por Guimarães!
2012/07/13
Da greve e das licenciaturas...
Enquanto uma parte do país se entretém com a pseudo-licenciatura do Relvas, durante dois dias os senhores doutores (julgo que devidamente licenciados...) resolveram meter férias e não trabalhar.
A greve anunciada há muito poderia ser legítima e credível. Mas não foi. E não foi porque uns dias antes não quiseram reunir e discutir com o ministro que, em vão, por eles esperou para negociar. E anunciou a abertura para o fazer mesmo depois da greve. E durante a própria greve, ainda esta não havia terminado, já se sabia que hoje se iriam reunir as partes num espírito de diálogo e de previsão de bom entendimento em breve.
Por isso, pergunto-me outra vez: se as partes queriam e iam negociar, por que foi feita a greve que, ao fim e ao cabo, apenas prejudicou os utentes dos serviços de saúde que viram consultas e operações anuladas e adiadas, que os obrigou a deslocarem-se até às unidades de saúde deixando de trabalhar e tantas vezes gastando imenso dinheiro com essa deslocação. Apenas estes foram prejudicados.
Esta imbecilidade de greve de dois dias não fez sentido e mostrou, apenas, que por detrás desta intenção estarão muito mais razões político-partidárias e não corporativas.
Continuo a pensar, e mais reforçada ficou a minha ideia, que os médicos (como os juízes, por exemplo) são uma das corporações mais egoístas, alheadas da realidade e detentoras de poderes de influência da sociedade portuguesa - usando e abusando por isso da paciência de todos nós para manterem os super-privilégios que detêm e que muito nos prejudicam a todos nós, restantes cidadãos.
E entretanto, a principal preocupação dos telejornais tem a ver com a licenciatura de equivalências que Miguel Relvas obteve - é isto o jornalismo deste país. Se calhar, não só temos os políticos que merecemos como também teremos os jornalistas que merecemos ter...
Nota - Já agora, em relação a esta pseudo-licenciatura, o culpado não é Miguel Relvas que apenas tirou partido de uma lei absurda - o problema é a lei que permite isto (aliás, semelhante à lei que permite que um semi-analfabeto que arranje alguém que lhe escreva um currículo com a história da vida obtenha o 12º ano, por exemplo) e as relações menos claras oriundas, "as usual", da maçonaria que levaram a esta situação. Mas realço ainda que não vi este "histerismo" com o semelhante caso de José Sócrates, sendo que Sócrates usou a sua pseudo-licenciatura de Engenharia para assinar projectos de arquitectura e engenharia e para ser um técnico-superior num município (coisa que se algum dia se comprovar a irregularidade que aparenta ter a sua licenciatura configura vários tipos de crime por si só) e a pseudo-licenciatura de Relvas para nada lhe serviu que não seja poder colocar o Dr. nos cartões de visitas e crédito...
A greve anunciada há muito poderia ser legítima e credível. Mas não foi. E não foi porque uns dias antes não quiseram reunir e discutir com o ministro que, em vão, por eles esperou para negociar. E anunciou a abertura para o fazer mesmo depois da greve. E durante a própria greve, ainda esta não havia terminado, já se sabia que hoje se iriam reunir as partes num espírito de diálogo e de previsão de bom entendimento em breve.
Por isso, pergunto-me outra vez: se as partes queriam e iam negociar, por que foi feita a greve que, ao fim e ao cabo, apenas prejudicou os utentes dos serviços de saúde que viram consultas e operações anuladas e adiadas, que os obrigou a deslocarem-se até às unidades de saúde deixando de trabalhar e tantas vezes gastando imenso dinheiro com essa deslocação. Apenas estes foram prejudicados.
Esta imbecilidade de greve de dois dias não fez sentido e mostrou, apenas, que por detrás desta intenção estarão muito mais razões político-partidárias e não corporativas.
Continuo a pensar, e mais reforçada ficou a minha ideia, que os médicos (como os juízes, por exemplo) são uma das corporações mais egoístas, alheadas da realidade e detentoras de poderes de influência da sociedade portuguesa - usando e abusando por isso da paciência de todos nós para manterem os super-privilégios que detêm e que muito nos prejudicam a todos nós, restantes cidadãos.
E entretanto, a principal preocupação dos telejornais tem a ver com a licenciatura de equivalências que Miguel Relvas obteve - é isto o jornalismo deste país. Se calhar, não só temos os políticos que merecemos como também teremos os jornalistas que merecemos ter...
Nota - Já agora, em relação a esta pseudo-licenciatura, o culpado não é Miguel Relvas que apenas tirou partido de uma lei absurda - o problema é a lei que permite isto (aliás, semelhante à lei que permite que um semi-analfabeto que arranje alguém que lhe escreva um currículo com a história da vida obtenha o 12º ano, por exemplo) e as relações menos claras oriundas, "as usual", da maçonaria que levaram a esta situação. Mas realço ainda que não vi este "histerismo" com o semelhante caso de José Sócrates, sendo que Sócrates usou a sua pseudo-licenciatura de Engenharia para assinar projectos de arquitectura e engenharia e para ser um técnico-superior num município (coisa que se algum dia se comprovar a irregularidade que aparenta ter a sua licenciatura configura vários tipos de crime por si só) e a pseudo-licenciatura de Relvas para nada lhe serviu que não seja poder colocar o Dr. nos cartões de visitas e crédito...
Posted by
Nuno Leal
at
10:17 da tarde
0
comments
Enviar a mensagem por emailDê a sua opinião!Partilhar no XPartilhar no FacebookPartilhar no Pinterest
Labels:
Política
2012/07/08
Leituras [66] - Milagrário Pessoal, de José Eduardo Agualusa
Já foi há umas 2 semanas que terminei de ler este pequeno mas excelente livro. Aliás, foi na véspera de ele ter apresentado o seu novo livro no Milenário, em Guimarães, onde infelizmente não pude ir (no dia seguinte tive exame, como tive no outro e ainda trabalhos de grupo e apresentações) mas cujo livro autografado cá me chegou... e que será, talvez, o próximo a ser lido.
Mas sobre este Milagrário Pessoal, é mais uma pequena obra de Agualusa onde várias histórias se cruzam e servem para construir mais uma bonita história, um romance na sua verdadeira acepção da palavra. A relação entre o velho professor e a nova pesquisadora de neologismos em busca das palavras perdidas que começaram a aparecer sem aparente razão e que voltas dadas afinal não passava de uma maquinação de um deles para atrair o outro... Muito bem trabalhados os pequenos capítulos que formam esta excelente obra.
Sinopse:
"Iara, jovem linguista portuguesa, faz uma incrível descoberta: alguém, ou alguma coisa, está a subverter a nossa língua, a nível global, de forma insidiosa, porém avassaladora e irremediável. Maravilhada, perplexa e assustada, a jovem procura a ajuda de um professor, um velho anarquista angolano, com um passado sombrio, e os dois partem em busca de uma colecção de misteriosas palavras, que, a acreditar num documento do século XVII, teriam sido roubadas à "língua dos pássaros". Milagrário Pessoal é um romance de amor e, ao mesmo tempo, uma viagem através da história da língua portuguesa, das suas origens à actualidade, percorrendo os diferentes territórios aos quais a mesma se vem afeiçoando."
Críticas de imprensa
«Um romance fascinante.»
Carlos Câmara Leme, Ler
«Agualusa sabe que a poesia começou por ser uma linguagem prática, útil, ou mágica e xamânica. “Milagrário Pessoal” nunca esquece a dimensão política, nem a política da língua, mas o seu impulso é todo poético, adâmico. O milagre é que esta língua seja tantas línguas, que tantas línguas sejam uma só língua. Um enigma que Agualusa compara ao mais poético dos enigmas: a linguagem dos pássaros.»
Pedro Mexia, Público
Subscrever:
Mensagens (Atom)