2012/07/25

Do verbo LIXAR

Sejamos claros. O verbo lixar é a versão soft do calão hard "foder". Ponto final.

Vem isto a propósito do recente discurso de Pedro Passos Coelho aos deputados do PSD onde disse "que se lixem as eleições, o que importa é Portugal"!

E a que propósito terá surgido tal expressão?

Há um ano, pelo menos, que ele vem chamando a atenção que a sua política, que está a seguir, é intransigente no sentido de cumprir os acordos internacionais que nos salvaram da bancarrota e de criar condições para as finanças do país finalmente se endireitarem, criando um novo paradigma de governação (não gastar mais do que aquilo que se arrecada) mesmo que o cidadão comum possa não entender algumas das medidas implementadas.

E que medidas têm sido estas? De cortar em despesa do Estado. E o que é despesa do Estado? São os ordenados dos 700 mil funcionários públicos, são os gastos com a ADSE, são todos aqueles tendencialmente gratuitos constitucionais que custam os olhos da cara...

Mas mesmo ao fim de um ano há muita gente que ainda não percebeu a coisa. Desde logo, todos os socialistas que nos 6 anos anteriores nos trouxeram até ao ponto que então PPC encontrou. Mas muitos outros cidadãos, como os professores, ainda não perceberam uma coisa simples: há uns dias atrás explicou José Manuel Fernandes (ex-director do Público) que há coisa de 20 anos atrás havia 1,5 milhões de estudantes do básico e mais de 200 mil do secundário. Hoje há menos de 1 milhão no básico e pouco mais de 100 mil no secundário. O problema é que o número de professores é quase igual, pouco tendo descido. O rácio aluno/professor passou de 17 para 12. E se juntarmos a isto a desertificação do interior e aglomeração da população no litoral, o que temos? Uma classe de funcionários em excesso que não aceita a realidade. É certo que não têm culpa de haver professores em excesso. Mas o ministro e PPC também não têm. Não houve, nestes 20 anos, nenhum controlo nos cursos que dão acesso à profissão de professor. Como não houve na classe de arquitectos (quando me inscrevi em 1996 na então AAP era o n.º 6.547 e segundo o último boletim da OA que recebi hoje somos 20.805... ) e o mesmo se passa em tantas outras profissões.

E é engraçado como certa gente dá a volta ao discurso e à ideia subjacente e até dizem que ele se está a lixar para as eleições numa alusão a uma ditadura. Discordo em absoluto e só mentes retorcidas são capazes de ler filosoficamente tais ideias naquilo que é claro como a água: os deputados e o governo foram eleitos com uma missão de resgatar o país e não de ganhar eleições em 2012, 2013 ou 2014, sendo que o seu mandato é para governar mesmo com medidas eleitoralmente penalizadoras, beneficiando Portugal e não seguir o rumo de demagogia politiqueira que o (in)Seguro líder da oposição tem aplicado a defender o acordo de segunda a sexta e a atacar ao fim de semana é que, isso sim, de ser entendida como um remake do "sócratismo" que nos trouxe a este ponto.

Numa coisa, no entanto, estou de acordo. Este discurso chamou a atenção e pôs toda a gente a falar no assunto, bem ou mal, algo que "falinhas mansas" ao longo de um ano não conseguiram. E infelizmente é populista. Populista? Sim. Mas quem me dera que o populismo do Sócrates tivesse sido deste género porque hoje não estávamos na situação em que estamos. Relembro que em Junho do ano passado, se não houvesse o empréstimo da "diabólica" Troyka, os funcionários públicos não tinham recebido o ordenado no dia 23 porque disse o então ministro das finanças do PS em Maio que não ia haver dinheiro para o pagar... A questão é: o que querem deste PM? Alguém que afunde de vez o país ao ponto de não haver dinheiro para  pagar os ordenados ou preferem alguém disposto a perder eleições para colocar o país em rota de gastar menos do que aquilo que arrecada, para ter dinheiro para pagar os ordenados dos funcionários e a reforma até ao fim das suas vidas? Se quiserem continuar na sua cruzada anti-passista, força, só espero que quando enterrarem o país de vez não se venham queixar... Se quiserem ser responsáveis, então só têm de fazer a única coisa possível: perceber que tudo isto é preciso para existir um futuro.

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