2003/11/17

Estádio do Dragão - A opinião do arquitecto!

Eu tentei estar lá, mas o adepto esteve mais tempo do que o arquitecto...

No entanto, posso desde já deixar algumas impressões.

1. Urbanisticamente, parece-me excepcional. Criou uma enorme alameda que direciona desde a igreja das Antas (e da avenida dos Combatentes) até ao novo estádio os adeptos de forma a que estes vão descobrindo, aos poucos, a estrutura da cobertura primeiro e o próprio estádio depois, conforme a cota do terreno vai baixando. E desta forma o impacto do estádio nos olhos do adepto é brutal (de forma positiva) pois vai-se descobrindo aos poucos e afirmando-se perante a paisagem, mas de uma forma sublime e não agressiva. O que não é nada fácil sabendo a enorme massa de betão que é... A alameda - que penso ser o futuro local de comemoração dos titulos - vai ter à esquerda uma zona habitacional no local onde agora se encontra o "velhinho" Estádio do Futebol Clube do Porto (e errradamente chamado de Estádio das Antas), o estádio a rematar a mesma e aquilo que é o calcanhar de aquiles do seu lado direito: uma enorme massa de terras, muros e traseiras de edificios. Talvez um arranjo com uns muros de gavião, algumas plantas e algumas intervenções artisticas nesses murais (entre azulejos e pinturas) possam contribuir para um melhor aspecto futuro.

2. O Exterior do Estádio do Dragão
Sumptuoso. Claro, sem cores vibrantes, vale por si próprio, não se escudando em cores garridas para chamar a atenção. Bastou-lhe um bom estudo para implantação, uma arquitectura moderna, de linhas simples mas fortes, entre o redondo do próprio estádio e o horizontal que o mesmo impõe, com grandes superficies vidradas (mas não espelhadas) e permitindo, aqui e ali, vislumbrar o seu interior - e como resultou bem este pormenor, permitindo ao adepto que se aproxima entrar no Estádio e sentir a sua vibração ainda antes de lá estar...
A enorme praça (já chamada de S.Pedro) que rodeia o estádio também está muito bem concebida e permite filtrar logo ali os adeptos e os curiosos e borlistas. E permite que se aceda ao Estádio sem confusões, empurrões e aglomerações de pessoas.

3. O Interior do Estádio do Dragão
Corredores espaçosos, facilidade de circulação. Muitas portas de entrada, muitas bocas de acesso às bancadas.
Os espaços não são crús, mereceram tratamento cuidado (o pormenor dos vidros inclinados para proteger do vento e permitir ventilar as diversas "praças de alimentação" que se sucedem ao longo do estádio) com cores claras, entre o azul pastel e o azul mais escuro, algum inox e tons pastel nos pavimentos e tectos. Os bares poderiam estar num qualquer centro comercial, onde não faltam sequer as pipocas... Os espaços são amplos, largos, com um bom pé-direito e arejados, com muita luz e vistas para o exterior.

4. As bancadas
Muito inclinadas, permitem que mesmo os espectadores que estão nos locais mais altos não estejam muito afastados do relvado - de tal forma que se pode ver os seus números nas camisolas, as suas caras e até ouvir os seus berros em momentos de maior "acalmia vocal" do público. O sistema sonoro é fantástico (da conhecida marca Bose) e a iluminação que a Siemens preparou para o estádio é fantástica: não encandeia e ilumina muito bem todo o campo, não se vendo as tradicionais sombras em forma de cruz que a iluminação tradicional dos postes provoca. E para além disso permitiu classificar este estádio como ecológico - e é o primeiro da Europa a conseguir esta distinção, o que nos deverá encher de orgulho como portugueses - pois permite poupar energia e diminuir a emissão de gases poluentes, dentro do espirito de Quioto...
E a cobertura? Muitos perguntavam-se como é que ela se segurava... É uma amostra da boa coabitação entre os arquitectos e os engenheiros: o arq. Manuel Salgado sonhou, o eng. António Reis tornou o sonho realidade!
A sua beleza vem da forma como abraça o estádio, como se adapta às bancadas (e ninguém anda às cabeçadas na cobertura...) e a sua leveza vem da transparência do material e do ferro pintado de branco que torna toda a estrutura muito mais leve e "invisivel" à luz do dia.

5. Conclusão
Como muito bem referiu o Miguel Sousa Tavares, ainda bem que foi o Arq. Manuel Salgado a projectar o estádio (apesar de benfiquista...) e não nenhum dos supra-sumos da arqitectura nacional e dos favores da imprensa... É que mais ninguém conseguiria dar esta unicidade espacial que ele imprime nas suas obras, como ficou demonstrado com a Expo-98...
Caro colega, os meus muito sinceros parabéns! Esta obra - não apenas o estádio, mas todo o espaço urbano - merecem um prémio; como não depende de mim poder oferecer-lhe este prémio, fica aqui registado o único que posso atribuir: o meu reconhecimento! Parabéns.

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