2004/02/18

Arquitectura, Torres e Portugal: caberá tudo no mesmo saco?

Ultimamente tem havido enorme polémicas com as torres em Portugal.
Não tendo tempo para ser muito exaustivo, gostava de deixar aqui algumas ideias:
* algumas das mais apelativas cidades do mundo são extremamente marcadas por edificios-torre, como Nova York, Hong-Kong, Chicago, Londres ou Paris têm torres "land-marks" que atraem muitos visitantes e são referências espaciais na cidade;
* em comum, quase todas as cidades onde existem essas torres têm o facto de serem territórios densamente povoados, com uma procura e pressão imobiliária enorme (implicando preços de terrenos muito altos) e consequentemente a necessidade de rentabilizar os espaços de construção existente, maximizando em altura o que não é possivel fazer em largura (imaginem a mesma população em Nova York mas com edíficios de altura máxima de, digamos, 21 metros ou 7 andares: qual seria o tamanho da mancha da cidade?);
* existe tradição construtiva em altura de longos anos nesses países/cidades;
* em Portugal a densidade populacional não justifica de forma premente esse tipo de construção;
* a estrutura viária da maior parte das cidades não é compativel com o volume de transito e movimento gerado por este tipo de construções (basta analisar o efeito dos grandes shoppings aos fins de semana e pensar o que seria ter a mesma quantidade de gente a dirigir-se todos os dias para um edíficio destes...).

Posto isto, estarão os meus leitores a dizer: "ele é contra as torres em Lisboa ou Portugal!". Errado, não sou! Mas cada coisa no seu local...

Explicando.

Não imagino no centro de Guimarães grandes torres, com 50 ou mais metros. Acho que não é necessário fazer torres num concelho enorme e com larga margem de crescimento "horizontal". Para além de que com a actual estrutura viária somos obrigados a andar km's às voltas para andar 200 ou 300 metros, sempre em ruas estreitas e com um estacionamento caótico. Trazer estas construções para aqui seria provocar o caos absoluto e total.
Já imagino torres nalgumas áreas do Porto, visto ter algumas avenidas largas e alguns acessos razoáveis a partir da VCI, mormente na zona do Plano de Pormenor das Antas. A nova centralidade que aí irá surgir poderia ser compativel com este género de construções, assim o quisesse Rui Rio...
Não conhecendo Lisboa muito bem (aliás, diria mesmo que conheço muito mal...) penso que nalgumas áreas teria capacidade de suportar as torres, nomeadamente naquela onde se pretende realizar as torres do Siza. Acho uma falácia o argumento de que retiram a vista do Tejo. Pelo contrário, vão antes criar um novo (e provavelmente) mágnifico ponto de vista sobre o Tejo e a cidade...
Mas acima de tudo, o que não me choca mesmo nada seria criar uma cidade de torres a partir do nada - desde que toda ela fosse pensada, estruturada e planeada para assim ser, que julgo que era aquilo que o Graça Dias propunha para a Margueira, onde antes era a Lisnave.

Mas isto são ideias soltas... Porque cada caso é um caso e hoje um edíficio poderá ser muito mais do que uma construção, um monumento ou uma "land-mark". Pode ser o que uma região precisa para se revitalizar e criar um novo impulso de crescimento. Como é o caso do fantástico Museu do F. Gehry em Bilbau, como se sabe. Pelo que é muito complicado termos uma opinião fechada e hermética sobre um assunto destes.

Sem comentários: