Mais uma vez fui ver o jogo do Vitória ontem. Mais uma vez fui brindado com um espectáculo para lá do futebol... Se na semana passada assisti, incrédulo, ao ceifar da vida de um jovem que deixou, primeiro, todo o público paralisado pela dor e angústia de nada poder fazer para além de assitir à impotência de médicos, jogadores e dirigentes em campo, depois num mórbido estender a todo o país que "carpiu" as mágoas e dores em directo (prolongando assim a sua morte por mais 3 dias) num espectáculo que acabou por se tornar degradante pelas TV's deste país - mas como dizia, se na passada semana foi o que se sabe, esta semana assisti a uma "pancadaria" generalizada no relvado que se estendeu, posteriormente, às bancadas!
E então porque é que isto acontece repetidamente?
Não sei a resposta, mas posso analisar algumas das causas que tiveram esta consequência...
Primeiro, os dirigentes! Enquanto o futebol português tiver dirigentes que amíude dão entrevistas "incendiárias" como o fizeram esta semana o presidente do Vitória e vários dirigentes do Sporting, não há qualquer possibilidade de dar um salto qualitativo no futebol português. Passo a explicar: o discurso moralista e de virgem ofendida dos dirigentes sportinguistas, com frases de um mau gosto e desrespeito para com orgãos do estado, apenas servem para acicatar animos de espectadores e para marcar posições "políticas" junto de outros clubes, com vista a futuras eleições de orgãos futebolísticos. O discurso do presidente do Vitória sobre o árbitro nomeado para o jogo Vitória-Boavista, apesar de correcto do ponto de vista da leitura que fez sobre a situação, não pode ser dito "em voz alta", sob pena de acicatar os adeptos contra o árbitro ainda antes do jogo começar. E vejam o resultado de ambas as declarações: o Sporting viu-se forçado a, utilizando as suas prórpias palavras, "baixar as calças" a quem acusou de o ter feito - afinal, para lá de ser aquilo que a UEFA recomenda sobre a colocação de adeptos nos estádios, é o que manda o mais elementar bom senso, isto é, todos juntos num sector especifico do estádio só para eles. O convivio é muito bonito, mas quem vai conviver com as emoções alteradas e espicaçado pelo que está escrito em jornais, ouve na rádio e vê na televisão durante uma semana inteira, não está na plena faculdade de todos os meios de auto-controle (basta ler meia dúzia de coisas básicas sobre os efeitos da propaganda e sobre a psicologia de massas para se entender o que quero dizer). Já o discurso do presidente do Vitória teve o condão de "picar"o árbitro ainda mais contra o clube, o que resultou numa arbitragem claramente tendenciosa - aquelas pequenas faltas que se marcam para um lado e não se marcam para o outro, aqueles amarelos que ficam por mostrar, a complacência com o anti-jogo que o Boavista aplicou desde que o jogo começou, em especial o William e o Viveros que terão seguramente usado de forma abusiva mais de 5 minutos de tempo de jogo para reporem bolas em jogo sem que ouvissem sequer uma advertência do árbitro... Como é evidente, os nervos começaram a aumentar dentro do campo. O que passa para a bancada... E depois, quando em campo um jogador do Boavista (que mais tarde soube ser o Éder) meteu a mão na cara de um do Vitória (Afonso Martins) foi a confusão geral no relvado e que se estendeu, de forma perfeitamente natural, às bancadas!
Aliás, aquilo que o público queria era que se jogasse à bola: um dos gritos que mais se ouvia para os jogadores do Boavista, que repetidamente queimavam tempo perante a complacência do árbitro, era o de "joguem à bola"!
Mas estes não são os únicos culpados. Os dirigentes da Liga, que organizam o campeonato e nomeiam os árbitros, também têm culpa no cartório! Nomear um árbitro em litigio com um clube para arbitrar um jogo desse clube, das duas uma: ou demonstra incompetência de quem nomeia e de quem aceita a nomeação ou demonstra má-fé de quem fez a nomeação, à espera que algo do género acontecesse!
Também os treinadores e jogadores estão no grupo dos culpados. Quando os treinadores insistem em tácticas que não são sequer defensivas como 5-4-1 mas preferem antes tácticas do género 1-10 (que é o guarda-redes mais 10 à sua frente) a queimar tempo e usando de manha, ronha e outras atitudes menos desportivas; enquanto defenderem jogadores, utilizando-os e não os reprimindo, que fizeram coisas como o Liedson passou o jogo inteiro a fazer (simulações de faltas, uma simulação caricata de uma agressão, faltas sobre os adversários constantes...),nada de positivo virá para o futebol português. É que estes são os idolos das crianças, que vendo os melhores jogadores usarem e abusarem de recursos anti-desportivos para vencerem e não sendo repreendidos, pensam que esse é o melhor caminho para chegar ao sucesso.
Por último, a culpa é também dos espectadores! Porque nada, mas mesmo nada, justifica a violência! A agressão e o uso da força para resolver um diferendo com outrem só é compreendida quando não há civismo e educação de uma ou de ambas as partes! E cada vez mais me convenço que o problema de Portugal não é de falta de capacidade em fazer ou pensar, o problema de Portugal reside acima de tudo na falta de civismo que é particularmente latente na III República saída da Revolução dos Cravos. Pelo que sei, no tempo da "outra senhora" faltava (entre outras coisas) liberdade mas havia educação e civismo. Hoje, claramente há liberdade (até há quem diga que há liberdade a mais, com o que eu discordo) mas não há civismo nem educação. E a primeira regra da liberdade é saber onde é que ela começa e acaba. E isso só com civismo se atinge...
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