2005/04/01

Ele há coisas estranhas...

Aqui em Guimarães às vezes coisas estranhas acontecem...

Há uns anos atrás, no inicio daquele que veio a ser um dos mais polémicos folhetins (ainda não concluído) de Guimarães, do Estádio D. Afonso Henriques, chegou a colocar-se a hipótese de fazer um estádio completamente novo, de raiz, na hoje chamada "Cidade Desportiva" da Veiga de Creixomil, libertando toda aquela área central da cidade que hoje (ainda) é ocupada pelo estádio para fazer uma "nova centralidade" de qualidade - uma espécie de Plano de Pormenor das Antas em tamanho mais pequeno... No entanto, a ideia não foi avante porque, se a minha memória não me atraiçoa, o Presidente da Câmara entendeu que esse equipamento não devia ficar situado na Cidade Desportiva por esta ser quase um segundo parque da cidade, uma zona verde e practicamente dedicada à actividade agricola, pelo que estava integrada na RAN (Reserva Agricola NAcional) e porque não queria mais construção naquela zona da cidade.

Pois bem, depois disso podem perceber como fiquei admirado, quase chocado, quando acabo de ler no site da Rádio Fundação que "Aeródromo nasce na Veiga de Creixomil", rezando assim a noticia:

"Até ao final do ano deverá começar a ser construído um aeródromo, na Veiga de Creixomil, em Guimarães. A pista deverá abrir ao tráfego aéreo de aviação geral em 2006.
Trata-se de um investimento privado, de cerca de 1, 2 milhões de euros de um empresário vimaranense, Joaquim Silva, de 54 anos, um entusiasta e praticante de parapente, uma modalidade de voo livre.
De acordo com o projecto, a pista terá uma extensão de cerca de 1100 metros e estará aberta a voos de aviação civil. O projecto de construção do aeródromo prevê ainda a edificação de um hangar de apoio à pista e de um restaurante-bar.
"É um projecto com um grande interesse para a cidade, enquanto localidade turística, acompanhando outras cidades portuguesas que já possuem idêntico equipamento", sublinhou Joaquim Silva.
O empresário acrescentou que a Veiga de Creixomil oferece todas as condições de segurança para a implementação daquele projecto.
De acordo o investidor, o projecto já recebeu luz verde das entidades competentes e os terrenos adquiridos para a construção do aeródromo já foram desafectados da Reserva Agrícola Nacional.
Refira-se que na zona Norte estão em funcionamento há vários anos os aeródromos de Braga, Chaves e Maia."

Ainda por cima, no mesmo dia, sai também outra noticia, desta vez no "Noticias de Guimarães", onde se diz que no local do actual Mercado Municipal (que vai ser "deslocalizado" para uma zona limitrofe da cidade servida por arruamentos medievais, estreitos e sem capacidade de fluxo de tráfego que este equipamento pode e vai gerar...) que supostamente iria ser um parque de estacionamento vai afinal de contas nascer um edificio com 10 andares... É de notar que do Mercado ao Estádio distam uns 100/200 metros... Reza assim a noticia:

"António Magalhães admite ‘volte-face’ no projecto inicial e
confirma

'Edifício de 10 andares nasce no actual Mercado Municipal'
- grande superfície substitui bancas de fruta e legumes

O projecto aprovado para o actual Mercado Municipal vai ser alterado. Isto mesmo confirmou ao NG o presidente da Autarquia, António Magalhães, adiantando que naquele espaço vai nascer uma zona residencial de luxo, com espaços de lazer, mas restrita aos moradores.A alteração foi justificada pelo Edil com o seguinte argumento: “como sabemos que há uma grande procura de habitação em Guimarães e que, de facto não há no miolo da cidade apartamentos de luxo para venda, a Câmara Municipal decidiu alterar o projecto mudando a agulha para permitir que os cidadãos tenham acesso à compra de habitação no centro da cidade”. De resto, esta alteração vai permitir ainda que o centro da cidade, passe a ter mais dinamização e que volte a ser habitável, uma vez que as casas que outrora serviram de habitação estão hoje transformadas em instituições bancárias ou lojas comerciais. De resto o projecto prevê ainda a construção de um espaço comercial de grandes dimensões, mas sem as áreas de grande superfície, para que possa estar aberto ao público ao fim-de-semana. O NG sabe que este espaço vai dispor de lojas e de um supermercado.De acordo com o presidente da Câmara Municipal, a obra vai arrancar no imediato uma vez que “é para ficar concluída em finais de 2006”."


Isto é, o mesmo Presidente de Câmara que no mandato 1997-2001 tinha uma opinião, consegue agora, volvido apenas 1 mandato, pensar exactamente o oposto! Não consegue fazer um planeamento e projectos a médio/longo prazo...

E isto é grave por alguns motivos, destacando-se os seguintes:
  • o impacto ambiental num santuário verde que se queria preservado que um aerodromo provoca - sem contar com a poluição sonora e com a proximidade da cidade e ver aviões, do género daquele do Rui Costa, a sobrevoarem constantemente uma área urbana e densamente povoada...
  • o actual edificio do mercado municipal é uma obra arquitectónica interessante, de autor (Marques da Silva) e chega a aparecer em livros sobre a arquitectura moderna em Guimarães, pelo que a construção de um qualquer edificio neste local dificilmente poderá substituir esta peça de uma forma condigna;
  • porque o Mercado Municpal está no limiar do Centro Histórico, protegido pelo titulo de Património Mundial, e tenho muitas dúvidas que um novo prédio de 10 andares possa vir beneficiar a zona tampão que a Unesco tanto criticou no processo...

Por isso, estou estupefacto... Gostaria de saber quais os motivos que levam a aprovação destes projectos. Gostaria de saber a fundamentação política - e não a técnica, que não constesto - para que se realize uma total inversão das ideias que se tinham e defendiam.

Ele há coisa estranhas, muito estranhas...

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