2006/05/08

Negra é noite, claro é o dia que vem depois

Como todos que me conhecem sabem, sou portista e portuense. Sou sócio do FC Porto há mais de 20 anos, com lugar anual e presença regular nas bancadas.

Mas vivo em Guimarães, terra que adoptei e escolhi e abraçei como minha também. Por isso não é de estranhar que tenha uma "costelinha" do Vitória e sou, por isso também, sócio e com cadeira, apesar de não marcar presença com tanta regularidade.

Esse motivo leva-me a ter uma visão sobre este negro momento um pouco mais desapaixonado, um pouco mais racional. E é isso que vou tentar aqui exprimir.

Antes de mais, o que correu mal?

Desde logo, a planificação da pré-época. A rábula do treinador que não renovou e a contratação do novo treinador, o inicio de época com apenas 17 jogadores contratados - e alguns dos quais de qualidade tão duvidosa que nem chegaram a jogar e em janeiro foram emprestados - e o nitido desequilibrio do plantel, com maus defesas laterais e sem bons alas, só com alguns jogadores interessantes no centro do terreno (Geromel, Svard, Benachour, Neca, Saganowski) mas faltava um bom central para acompanhar o promissor Geromel (Paulo Turra, por exemplo, que não renovou), um bom trinco (Flávio será interessante este ano na II Liga, mas não é jogador para a I Liga), bons extremos (porque é que o Targino só na parte final da época jogou?, e esteve quase a ser vendido?) e bons defesas laterais (Mário Sérgio é um fiasco, o Rogério já não dava nada) e o Nilson só muito tarde se impôs na equipa (durante grande parte da época pareceu-me melhor o português Marco do que o Nilson).

Para além disso, tendo uma muito razoável escola de formação, acho que o Vitória deveria apostar mais nos seus escalões jovens. Deveria contratar treinadores capazes de trabalhar verticalmente todos os escalões, como era o Manuel Machado, por exemplo, ou como o Paulo Bento, que transitou dos juniores. É fundamental que o Vitória se baseie na "prata da casa" e apenas a complemente pontualmente com jogadores "externos" - que deverão ser sempre vistos como uma mais-valia desportiva no momento e como mais-valia financeira num futuro. Deveria ainda apostar fortemente numa rede de olheiros regional - o Minho e a zona vizinha do Tamega são excelentes campos de recrutamento, como o provam os muitos jogadores de qualidade oriundos de Chaves, Amarante, Viana do Castelo, Famalicão, Trofa, etc. Se forem "pescados" logo nos escalões de formação e complementada a formação aqui em Guimarães, poderão ser excelentes negócios de futuro...

Espero que o Vitória, isto é, os seus associados e dirigentes, tenha(m) aprendido com este episódio alguma coisa. Por exemplo, que não é por ter muitos adeptos a assistir aos jogos que se vençe o jogo - vejam o Estrela ou o Leiria, constantemente com menos de 1000 adeptos e estão na I Liga. Por exemplo, que não são os grandes orçamentos que fazem os melhores clubes - se assim fosse, o Real Madrid era super-campeão de Espanha e o Chelsea da Europa, o FC Porto o ano passado era o campeão, o Paços de Ferreira e o Amadora tinham descido... O que fazem as grandes equipas é a correcta mistura de dirigentes, técnicos e jogadores!

Tenho para mim que o Vitor Magalhães não é mau dirigente. Falta-lhe, talvez, um pouco mais de presença e de voz activa. Mas este ano, ao contrário da primeira época de presidente do Vitória e dos muitos anos de Moreirense, falhou claramente. A começar na aposta do Jaime Pacheco. E no adiamento da contratação dos jogadores. Eu sei que o Vitória atravessava então - e ainda atravessa - uma situação financeira muito complicada derivada de anos de desvario pimentista. Mas isso não o impediu na primeira época de fazer um bom trabalho com o Manuel Machado. Por isso algo mais se passou este ano, digo eu.

O que importa é que ontem tenha chorado tudo e que hoje já esteja a trabalhar no plantel de 2006/07. E no técnico. E nas camadas jovens. Porque só com um bom trabalho de gabinete agora no próximo ano o Vitória poderá ocupar uma das duas posições de subida à I Liga - e candidatos não faltarão, como sempre, a começar pelo também histórico Belenenses que este ano acompanhou o Vitória na despromoção, quase também de forma inacreditável!

Depois da tempestade, segue-se a bonança, depois da noite vem sempre outro dia. Quando este pesadelo acabar, com toda a certeza um novo dia radioso chegará...

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