2007/06/03

Linha de Rumo: Angola (I)

Nas próximas semanas irei publicar alguns textos sobre como é viver aqui no Lobito e em Angola. Como é circular, o custo de vida, a alimentação, os tempos livres, a economia, as profissões e o trabalho, enfim, falar um pouco de como está a ser e quais as minhas impressões sobre este país que me acolhe actualmente.
Estes textos surgem de questões que alguns leitores deste blog me têm colocado regularmente, em especial a Ana (portuguesa radicada em Madrid e cujo marido viveu em Benguela muitos anos), a Teresa (portuguesa do Porto com possibilidades de vir trabalhar para Benguela) e a Erika (brasileira que viveu em Luanda em miúda e que também gostaria de vir trabalhar para Angola) e que se calhar, como alguns outros leitores que sentiram a curiosidade e vontade de deixar o Portugal atávico, deprimido e depressivo e procurar a fortuna (no sentido da sorte, mas também do dinheiro) que cada vez parece mais difícil encontrar em solo luso e encontram nestas linhas e fotos que vou colocando um alento e uma forma de reviver dias passados em Angola, uma terra de 500 anos de histórias para os portugueses e brasileiros.


Circulação

Ao contrário de Luanda, capital de Angola, viver “na província” é bastante agradável. No que em Luanda é caótico, aqui é fluidez de tráfego (às vezes, graças aos “candogueiros” que são os taxistas das carrinhas de 9 lugares que chegam levar mais de uma dúzia de passageiros, é fluidez de mais!) e o que é insegurança em Luanda aqui é à vontade de circulação. A policia não manda parar constantemente como em Luanda, os assaltos são esporádicos e desde que cá estou, há 9 meses, não tenho conhecimento de nenhum português que tenha sido assaltado na via pública – ao contrário dos meus colegas de Luanda que são assaltados de metralhadora em punho na capital…

E de facto, a segurança é uma coisa aqui fundamental. Podemos circular na rua, a pé, com óculos de sol, telemóvel e máquina fotográfica sem qualquer problema. Podemos andar de carro com janelas abertas sem qualquer problema. Podemos deixar coisas dentro do carro sem grandes problemas, desde que o carro esteja num local movimentado. Nas casas como na firma, nunca houve assaltos, talvez por a minha estar num bairro periférico do centro da cidade e contar por isso com a presença de um segurança privado 24 horas por dia, por precaução.

E quando temos liberdade de circulação e segurança na circulação, tudo é mais fácil na nossa vivência quotidiana.

Depois, porque o combustível em Angola é muito barato, há um claro convite aos passeios. Neste momento, o câmbio do Kwanza, moeda angolana, está da seguinte forma: 100 Kwanzas = 1 Euro, 100 Kwanzas = 0,75 Dólares. E o litro do gasóleo está a 29 Kwanzas e a gasolina a 40 Kwanzas…

É evidente que estando as estradas num péssimo estado de conservação – pronto, estou a ser simpático, os buracos às vezes têm um pouco de estrada – apesar do esforço que está a ser feito para recuperar estas infraestruturas, o que implica a quase obrigatoriedade de se ter veículos todo-o-terreno, mais resistentes e capacitados para aventuras fora de estrada que é o que fazemos na estrada, por norma! Infelizmente, as ruas do Lobito, como as de Benguela, estão muito mal conservadas, tal como a estrada que liga ambas as cidades (com a vila da Catumbela pelo meio) mas com a vantagem da Motaengil estar neste momento a executar uma auto-estrada com base neste traçado que talvez para o próximo ano esteja concluído. Neste momento algumas ruas de Benguela estão a ser asfaltadas. Só aqui no Lobito é que não vejo grandes melhorias, infelizmente.

Mas pelo menos a Restinga, a língua de terra que avança sobre a baia do Lobito (ou seja, um istmo) está relativamente bem conservada (pelo menos comparativamente com o resto da cidade) e até permite andar de bicicleta e correr na sua extremidade que faz uma pequena pista/circuito de cerca de 1,2 km, que os estrangeiros aproveitam para, manhã bem cedo, usar como ponto de jogging, caminhada e pista de cicloturismo.

O que não facilita a circulação (e permanência no território) é toda a burocracia em torno dos vistos de trabalho e ordinários a que nós, portugueses, estamos sujeitos. Ao contrário do que se passa com outros países lusófonos onde há muito que as relações bilaterais estão normalizadas, em Angola ainda há constantemente questões legais e legalistas como ainda se passou há bem pouco tempo atrás com as cartas de condução, o que prejudicou dezenas de milhares de portugueses aqui em Angola durante algumas semanas. É urgente, é fundamental, que os governos de Portugal se entendam e cooperem com o governo de Angola de forma a facilitar quem aqui quer trabalhar, investir e realizar-se profissionalmente. Porque Angola, de todos os países africanos lusófonos deverá ser o que mais e melhores condições tem para se desenvolver investimentos e trabalhos, pelo que é de todo o interesse para Portugal virar-se rapidamente e em força para Angola, outra vez.

2 comentários:

Maria Amorim disse...

Ficarei aguardando mais notícias com muito interesse.

Vivi no Lobito a minha infância perto da Colina da Saudade. (penso que já não se chama assim)

Agora vivo em Arcos de Valdevez!
Afinal... somos quase visinhos!ih!ih!

Maria

Maria Amorim disse...

Nuno

Eu não nasci no Lobito mas vivi aí toda a minha infância e juventude.
Regressei a Portugal (sou natural de Monção e agora vivo em Arcos de Valdevez)em Outubro de 75.

Sou uma assídua leitora dos seus ecritos sobre a "minha" sala de visitas e Angola.

Obrigada

Maria Amorim