2010/07/01

Palhaçada dourada



Muito sinceramente, ou eu não percebo nada de economia e não sei ler o que vem nos jornais, ou esta foi, talvez, a mais disparatada de todas as decisões que o Primeiro-Ministro tomou até hoje (e já foram tantas...) ao usar a "golden share" para impedir a venda da Vivo.

Vamos por partes.

No inicio da semana ele reuniu-se com os presidentes dos maiores bancos portugueses para falar sobre o problema que tem sido o corte ao crédito e financiamento que os bancos estão a fazer aos clientes. A razão dos bancos fazerem isso é mais ou menos conhecida - estão quase descapitalizados e não têm eles próprios acesso ao crédito internacional.

Segundo a imprensa, a PT deve aos bancos mais de 10 mil milhões de Euros que usou nos últimos anos para investimentos em tecnologias, know-how e aquisição de outras empresas, como a própria Vivo.

Quando a empresa espanhola Telefónica se propõe comprar a metade da PT de uma comparticipada brasileira por um valor que é cerca de metade da divida da própria PT à banca, o Governo usa as suas 500 acções especiais para vetar a venda que a maioria dos accionistas queria fazer.

Portanto, e resumindo, para defender os "interesses estratégicos nacionais" o Governo impediu a entrada de 7,5 mil milhões de Euros em Portugal (reparem que as medidas de aumentos de impostos que hoje entraram em vigor conseguem fazer entrar apenas 2 mil milhões de Euros nos cofres até ao final do ano...) que a PT poderia usar, pelo menos boa parte deles, para pagar à banca os empréstimos e injectar dessa forma capital, muito capital, na nossa paralisada economia. E com o restante, ainda poderia comprar outra empresa, até no próprio Brasil, que não sendo da dimensão da Vivo, poderia cumprir os requisitos de internacionalização que a Vivo traz.

Desculpem-me a franqueza, mas isto é uma palhaçada total.

Sem contar com o facto da descredibilização no mercado internacional que esta tomada de decisão vem trazer. Porque isto traduzido em "economês" inglês ou alemão significa uma coisa só: cuidado com as acções especiais do Estado português nas empresas privatizadas porque depois de serem compradas quem continua a mandar nelas é o Estado e não os accionistas, numa espécie de nacionalização pós-moderna à Venezuela! Depois da alteração das regras a meio do jogo nos certificados de aforro (que matou a confiança dos tradicionais investidores nesse produto de poupança) e depois dos impostos de mais valias na bolsa (que matou a bolsa...) agora vem o uso da "golden share". E depois vem numa conferência de imprensa os governantes apelar aos portugueses para comprarem certificados do tesouro que dão 40% em 10 anos. O problema é que eu não me acredito que ele mantenha a palavra e não vá alterar as regras a meio ou criar um novo imposto sobre os certificados do tesouro que coma a fatia de leão do "lucro".

Pela primeira vez vejo uma coisa destas. Em vez de se entregar o ouro ao bandido, vemos o bandido a recusar o ouro que ia receber...
Para mim, o Governo morreu ontem. E hoje o funeral já é mais caro, aumentou o IVA como legado póstumo...

2 comentários:

Godinho disse...

Nuno, ja nao lia o teu blog a MUITO tempo! E bom saber que continuas no rumo certo, nessa Angola de muitos desafios.
Quanto ao veto do Governo, apenas te posso dizer que e muito mais complicado do que isso. Mais, garanto-te que se o Governo nao tomasse essa atitude a PT acabaria por perder-se exclusivamente no dominio nacional. Nao tardaria a ser comprada por um gigante qualquer das comunicacoes e desmembrada de tal forma que so sobraria PT em Portugal. A Vivo e neste momento a unica coisa que mantem a PT acima da linha de agua, mas as razoes sao tao complexas que nao posso descrever aqui. Fica para uma discussao quando nos encontrarmos na Tuga.
Abraco

Unknown disse...

Quanto aos "Aforros", pelos cálculos que fiz, parece-me mais rentável pô-los a 5 anos e depois renovar outros 5, se as condições não degradarem, do que em 10 anos!