No entanto, cedo se percebeu que havia problemas muito graves.
Primeiro, na fase dos projectos, muitas vezes sem concurso (isto é, por adjudicação directa...) e (quase) sempre aos mesmos gabinetes.
Depois com as primeiras adjudicações de obras, percebeu-se que era um grupo restrito de empresas que ganhavam as obras, ou seja, cada empresa ganhava 2 ou 3 escolas e reduziu-se assim a quantidade de construtoras "ajudadas".
Por fim, com as primeiras obras concluídas, perceberam-se os problemas que as obras traziam às escolas: maior consumo de electricidade que esgotava os orçamentos que eram para educação em consumos, depois problemas de construção com soluções desajustadas e mal pensadas que começaram a apresentar patologias várias.
E com o tempo começamos a ouvir noticias de professores, pais e alunos que falavam sobre as condições das escolas, com pedras nobres, chuveiros Grohe, candeeiros de design de autor a torto e a direito (no interior e exterior das escolas) e outras coisas mais...
Agora, com o relatório da IGF tornado púlico, sabe-se com mais detalhes coisas que configuram. na minha modesta opinião, gestão danosa e, se calhar, coisas ainda mais graves...
Repare-se na resposta para o (brutal) aumento do consumo de electricidade dos novos edifícios: "a empresa justificou a situação com as novas regras de eficiência energética, aprovadas em 2006." Então se a ideia associada à lei era ter mais eficiência no uso da energia, como é possível que o resultado seja um brutal aumento (de 30% e até mais) no consumo da mesma, levando as escolas novas a optarem por simplesmente desligarem o sistema de AVAC e colocando a comunidade escolar a trabalhar sobre calor intenso no Verão e frio glaciar no Inverno.
Percebe-se agora que os projectos eram concebidos sem um caderno de encargos adequado e que, para além disso, não eram alvo de revisão critica (técnica e financeira) antes da sua execução, sendo lançados a concurso como eram entregues e aceites sem discussão. Ou isso ou não se percebe como ninguém achou anormal o uso de betão branco, de pedras nobres, de madeiras nobres, de iluminações topo de gama, de utilização redundante de equipamentos e até de espaços, entre tantos outros exemplos.
Evidentemente, os administradores da empresa demitiram-se. A questão é que a sua demissão não os isenta da responsabilidade de terem gerido mal, muito mal, o projecto que tinham em mãos: repare-se que tendo um mega orçamento de 2,4 mil milhões de Euros para reabilitar 332 escolas, conseguiram-no ultrapassar em 5 milhões de Euros ao fim de apenas 181, ficando por isso 151 escolas não cabimentadas no orçamento previsto. Isto é um escândalo e o mínimo que se exige agora é que o Governo actue de forma a verificar se se confirma a gestão danosa e que procure se ressarcir junto dos (ir)responsáveis dessa hipotética má gestão. E, já agora, que implemente medidas que visem que a situação não se repita, isto é, que façam no imediato uma revisão aos cadernos de encargo modelo utilizados, bem como implementem uma revisão ao projecto final - coisa que no estrangeiro já acontece há muitos anos como forma de evitar erros de projecto que em obra custam muito dinheiro (ou tempo, o que é igual porque tempo é dinheiro) rectificar.
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