Só agora escrevo porque não o quis fazer a quente, deixando assentar a poeira e passar a confusão. E confesso que o que mais me chocou na campanha do Pingo Doce foi exactamente a confusão.
Ver as imagens das prateleiras vazias, o caos da disputa dos produtos, o vale-tudo para entrar nos supermercados com carros, sacos e tudo o mais que a imaginação permitisse encher de produtos a metade do preço. E ver as pessoas no final felizes por terem poupado 200, 300, 400 euros ao fazer nesse dia as compras dos 2 ou 3 meses seguintes.
E deixa-me chocado por pensar que essas pessoas são as mesmas que se queixam, normalmente, que o mês é muito grande para o ordenado - o que me leva a supor que ou recorreram a crédito (e não é dos bancos que esses fecharam a torneira há muito...) ou que muitas contas da luz, da água, do gás, dos condomínios, muitos carros sem combustível e passes de transportes públicos ficarão sem ser comprados este mês graças a esta promoção - esta imagem terceiro-mundista, de caos mais próximo da pilhagem do que da venda, da irracionalidade do homem ao máximo, com agressões, insultos, disputas por um saco de arroz ou uma embalagem de detergente não me parecem apropriadas ao país de brandos costumes que somos...
Sobre o ataque ao dia do trabalhador, de tão ridículo que é esse argumento, a única coisa que me ocorre é que para o ano façam essas comemorações junto às grandes superfícies comerciais em vez de irem para os centros das cidades...
De resto, fazer essa promoção parece-me normal - o Continente tem parecidas, o Jumbo também ou o Corte Inglês, por exemplo, e como bem disse o ministro da economia, Álvaro Santos Pereira, é uma coisa corrente no estrangeiro, nesse dia ou noutros (por exemplo, as "black fridays") e constituiu uma excelente acção de marketing, a roçar o marketing social (como a empresa depois tentou colar essa imagem) e permitiu uma excelente facturação e escoamento de produtos que estariam a acumular-se nos armazéns devido a uma quebra de vendas assumida pelo líder do grupo desses supermercados. Julgo mesmo que a questão de "dumping" não deve aqui ser colocada, visto que se houvesse esse factor de forma continuada como acusam as grandes superfícies de o fazer constantemente nesse caso elas não apresentariam continuamente resultados positivos como o fazem, ano atrás ano, superfície comercial após superfície comercial. Aliás, a conclusão da ASAE que houve dumping em pelo menos 3 produtos (quando uma grande superfície comercial destas tem MILHARES de referências para venda) parece-me tão ridícula como desapropriada...
Não sei se no final as pessoas pouparam assim tanto ou se o slogan na parte do "pagar tão pouco" se aplica a quem investiu metade ou até mais do seu orçamento em 3 ou 4 horas de compras. Mas isso é uma questão que cada um dos que lá foi comprar/açambarcar produtos poderá responder. Eu, como não fui, não sei...
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