Em tempos o meio mais habitual era a carta, geralmente anónima ou assinada com nome falso. Agora, com as novas tecnologias, fazem-se gravações em cassetes nos próprios telefones, passam-se para o computador e gravam-se em CD’s…
Em tempos as denúncias eram feitas à polícia, quando muito aos tribunais. Agora, vendem-se as informações mais comprometedoras aos jornais, rádios e televisões que melhor rechearem a carteira do possuidor de tão “valiosa” noticia…
Servem estes dois parágrafos para tentar enquadrar e explicar (se calhar a mim mesmo!) toda esta história das cassetes roubadas que alguém reproduziu em CD e ainda se deu ao trabalho de, pelo que li nos jornais, fazer um best-of das gravações com a duração de 1 hora!
Como é evidente desde o princípio deste caso, isto implica pessoas conhecidas e oriundas das mais diversas classes e meios profissionais. Em comum a quase todos, a presença na cidade de Lisboa. E há muito que se diz que o “ambiente” de Lisboa não é saudável. Mas o chamado caso “Casa Pia” parece demonstrar que tal, mais do que uma ideia, parece ser uma realidade. Juntando pedaços de histórias que se ouvem aqui e ali, contados por uma “tia” ou por uma qualquer vedeta do nosso “jet-set”, temos os ingredientes todos que fazem a degradação moral de uma sociedade: sem qualquer regra nem restrições, há drogas, álcool, sexo e sabe-se lá que mais na alta-roda da capital…
Assim, não será de admirar que com a proximidade do julgamento e com a denúncia de novos casos, que estas situações se venham a repetir. Depois, toda a promiscuidade de relacionamentos não é saudável: uma das principais jornalistas de um canal privado de TV que (no principio) investigava o caso, depois de se separar de uns dos principais jornalistas agora na TV pública, namorava e agora casou com um dos mais mediáticos advogados de defesa de uns dos réus, advogado este que era pago para ser jurista de outro canal de TV privado concorrente. A directora de um conhecido semanário que publicou as conversas que levaram à queda do director da PJ é filha de outro advogado de defesa do mesmo réu. Um dos principais políticos do maior partido da oposição é irmão do editor de política nacional de um dos maiores canais de TV privados. E poderia estar aqui muito mais tempo a analisar estas “curiosas” coincidências…
Concluindo: muito do que se passa é o claro indicador de um período de fim de regime. Os escândalos sucedem-se, a justiça é feita nas páginas dos jornais e nos ecrãs de TV, existe um certo clima de constante impunidade e de desconfiança geral.
Isto não significa que vá haver um golpe de estado… Nem sempre os regimes acabam dessa forma. Mas o que é um facto é que este país precisa de ser refundado!
Precisa de uma nova organização territorial, mais integradora. Precisa de distribuir melhor os organismos públicos pelo país. Precisa de aproximar o interior do litoral. Precisa de dar mais atenção à juventude e ao ambiente. Precisa de novas regras, adaptadas à modernidade da globalização e da internet para reger leis, tribunais, jornais e televisões, partidos, pessoas e instituições. Precisa de novas formas mais modernas e funcionais para gerir as câmaras municipais. Precisa de investir, a sério, na educação e na formação profissional. Precisa de acabar com os corporativismos atávicos de que padece a sociedade portuguesa. Precisa de acabar com os decrépitos artigos de inspiração marxista que ainda grassam na nossa Constituição – não é possível um país ser moderno se continua a sonhar com utopias pensadas há quase 200 anos e que há mais de 50 anos se sabe não poderem ser concretizadas. Precisa de mais civismo. Precisa de ter uma rede informática que ligue todos os organismos em todo o país, para que um cidadão de Bragança tenha a mesma facilidade de obter um qualquer documento que um cidadão de Lisboa tem. Precisa de apostar no futuro, fazer um Portugal moderno, optimista, que faz e executa, que quer ser melhor, que sabe que tem no seu capital humano jovem o seu mais valioso instrumento para um melhor futuro.
O Portugal das cassetes gravadas sem autorização, roubadas e posteriormente fornecidas sem pudor à ávida comunicação social que delas fez um festim de demonstração de poder que é ter a vida de pessoas nas mãos, é o país que a “geração de Abril” construiu e vai legar à minha geração. Mas este não é o Portugal com o qual eu me identifico, pelo que sei que, mais cedo (espero eu) ou mais tarde (o que será sempre pior) irá a minha geração, que cresceu ao sabor do sucesso da integração europeia liderada pelo Professor Cavaco Silva, dos sucessos da Expo98 e do Euro2004 e das vitórias do Mourinho e do FC Porto no futebol, acabará por alterar a linha de rumo deste país para que este possa dar, em definitivo, o salto e o impulso em direcção aos melhores países da Europa dos 25.
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