A minha 3ª Edição, de 1943 |
Este livro é, ainda hoje, uma das mais controversas referências deste autor e do tema.
Com alguma razão no que toca a tenta definir um tipo de arquitectura que se ajusta quase de norte a sul - o que poucos anos depois se provou ser totalmente errado, com o já aqui mencionado Inquérito à Arquitectura Popular Portuguesa - mas muito errado porque o objectivo superior deste livro era, por um lado, falar da economia na construção e, por outro, que as pessoas encontrassem coisas que servissem "de exemplo e não de modelos a copiar (nunca é demais repeti-lo)" como disse o autor na "nota à terceira edição".
Analisando o índice deste livro (cuja primeira edição terá saído durante a I Grande Guerra, depreendo da leitura da mesma nota) encontro desde logo uma estrutura muito moderna:
Capítulo I - Economia ... página 17
Capítulo II - Entre a economia e a beleza ... página 29
Capítulo III - Beleza ... página 67
Capítulo IV - Apêndice ... página 99
Capítulo V - Ilustrações ... I a XXX
Ou seja, primeiro entra por considerandos sobre a economia da construção e qual o papel do arquitecto neste capítulo, de forma a que as obras não ultrapassem o orçamento previsto pelo cliente - isto devia ser leitura obrigatória nos dias de hoje...
Depois, fala da beleza, naquilo que o tema possa ter de mais controverso. No entanto, mas do que de estética, neste capítulo ele abarca temas como a "solidez", o "isolamento", o "ar" sem o qual não "pode existir nem saúde nem conforto", a "luz", a "comodidade", a "naturalidade", a "verdade", a "harmonia" e até o "amor".
Por fim, no terceiro capitulo discorre sobre a "beleza" e sobre os seus conceitos para os clientes e para os arquitectos, sobre o papel destes na educação dos gostos, sobre ornamentos excessivos e adequados nas casas, sobre o artificialismo vs. naturilidade. Enfim, tenta demonstrar que o mais simples e típico é mais belo e mais barato - mais uma premissa que não me parece sempre real.
Por último, apresenta uma série de citações de uma outra obra sua, "A Nossa Casa", onde aprofunda alguns pensamentos sobre determinados materiais e áreas das casas, sobre o que deve se feito e pensado para cada uma delas, dentro do espirito de se estar a trabalhar em casas de pendor mais económico.
Em anexo, apresenta 30 ilustrações (as ultimas 5 julgo que são novidade desta 3ª edição) onde tenta demosntrar os pontos de vista que abordou no livro.
Vale pelo que vale. Mas, quanto a mim, é uma pedrada no charco em Portugal à época em que é lançado (década de 10, há quase 100 anos) e por isso mesmo, extremamente avançado para a época.
No mesmo alfarrabista onde comprei este, ainda lá ficou outro - Homem dos Livros, na Travessa de S. Carlos, Porto - e outros mais, também interessante, como os 3 exemplares do IAPP.
Edição de 1998, na Wook.pt |
"Nem a americanização dos costumes, nem as tendências colectivistas de novas organizações conseguiram ainda debelar o anseio natural e instintivo no Homem de possuir habitação própria e independente para si ou para a sua família. Pode ser muito bela a vida em comunidade, útil, ou conveniente, o aquartelamento ou a habitação colectiva quer seja à sombra da cruz ou da espada, quer à da foice e do martelo ou à de uma simples moeda de oiro; não serve este viver, porém, a todo o mundo, e se há quem julgue que o desaparecimento do Indivíduo significaria um processo, estamos por enquanto longe da época em que toda a gente se haja transformado no homem-abelha que prefere para sua habitação o alvéolo de qualquer casa-colmeia. Que virá a ser a casa de amanhã?"
Nota - também à venda na Wook (ver link da sinopse) uma versão mais recente, de 1998.
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