Um post recente de Pacheco Pereira no Abrupto está a causar muito burburinho, como ele o previra, em especial por causa destas frases: "Por que é que não se pode dizer que Sérgio Vieira de Mello morreu pelo mesmo objectivo por que morrem os soldados americanos? Por ter sido funcionário da ONU? Por que razão é que as mortes israelitas, na sua enorme brutalidade, não suscitam um milionésimo de reacção, da fácil reacção que outras mortes causam, mas apenas incomodo?".
No seu modo desassombrado, como lhe é ainda mais caracteristico no seu blog, Pacheco Pereira soube, quanto a mim, tocar no ponto fraco da questão.
É que neste mundo de hoje há sem dúvidas duas formas de analisar o conflito que se estende por todo o médio oriente! Existe um lado, onde considero integrar-me, que acha que o problema é civilizacional, que confronta uma civilização dita "moderna" - que é a nossa, com o capitalismo/liberalismo, a democracia, o pluralismo, a representatividade, a busca do conhecimento e todos os defeitos e virtudes que tais coisas acarretam - com uma outra civilização muito mais atrasada, quase medieval - pois imperam as ditaduras, por vezes de cariz religioso ou tribal, por vezes de pendor comunista, quase sempre totalitárias, onde poucos têm acesso ao conhecimento. A outra forma de ver este conflito é com o olhar romantico e nostálgico das lutas dos fracos contra os fortes - como alguém já escreveu, dos indios de lanças contra os cowboys de pistola - mas que, como quase todas as visões romanceadas, pecam por distorcer claramente a realidade: afinal, os indios usavam lanças mas muitas vezes atacavam à traição - ou se transferirmos para Jerusalem, não serão os bombistas suicidas que se fazem explodir nos autocarros matando civis e crianças atancantes à traição, matando quem não tem nada a ver com o assunto?
Pacheco Pereira tem razão! Acho que Sérgio Vieira de Mello morreu por um ideal que também é o meu: estender mais longe uma civilização moderna, fazer chegar a países como o Iraque o século XXI da internet, das liberdades, do conhecimento. Coisa que ajudou a fazer no Kosovo (saído da pesada ditadura comunista, que perdurou na Sérvia muitos anos) e em Timor (saído da ditadura Indónesia) e que hoje são mais próximos do século XXI onde nos encontramos do que do século XIX onde estavam fechados.
E já agora, gostei da atitude do Primeiro Ministro em aprovar a condecoração, com a ordem de mais alto grau em Portugal, este cidadão do Mundo que Sérgio Vieira de Mello foi. Gostava de ver Guimarães, na sua Assembleia Municipal, dedicar-lhe igual honra, atribuindo-lhe até o nome de uma rua ou praça em local compatível à dignidade que ele merece.
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