2003/08/05

Política da terra queimada?

A minha mãe, desde pequena - aí com uns cinco anos - ía passar o Verão no centro do país, na zona da Lousã, onde os meus avôs tinham nascido, numa pequena aldeia chamada Vale de Vaíde. Esta aldeia fica na Serra da Lousã, actualmente um dos pontos onde todos os verões os noticiários falam de incêndios. No entanto, naquela época (anos 40/50) diz a minha mãe que se passavam verões inteiros sem rasto de fumo, quanto mais de fogo...

O meu pai diz-me que eu era pequeno e não me lembro concerteza, mas que no "verão quente" da revolução dos cravos, foi utilizada uma táctica política-terrorista cujo objectivo, grosso modo, era minar a economia portuguesa, demonstrando que o governo era incapaz de dar resposta aos problemas do país; para tal, desataram a atear fogos pelas florestas do país, então um dos mais fortes sectores económicos nacionais...

Em 2003, quando nada o fazia prever, em 3 dias uma imensidade de fogos assolaram este país. Mais de 500 incêndios em 15 dos 18 distritos portugueses. Morreram já mais de 10 pessoas. Há desalojados, escolas e poavilhões queimados. Mais de 700Km de linhas electricas arderam, pelo que estão mais de 10 mil pessoas sem electricidade. Há estradas interrompidas, bem como linhas de comboio cuja circulação foi impedida por terem ardido as travessas. Apesar de poucos, vão sendo capturados alguns incendiários. Apesar de poucas pistas, é quase concensual que apenas cerca de 2 ou 3% dos fogos ocorrem por causas naturais.

Quem originou este inferno?
Loucos que gostam de ver as coisas a arder, vulgo "pirómanos"? Então manicómio com eles!
Pessoas conscientes do que estavam a fazer, para daí retirarem benefícios económicos e políticos? Então cadeia com eles pois isso é terrorismo. Afinal, qual a diferença entre atear um fogo que vai aterrorizar populações, destruir bens da população civil, causar enormes danos na economia local e nacional, matar pessoas, etc... Cá para mim, a diferença entre um "etarra" e um incendiário consciente do que está a fazer é a lingua em que cada um se expressa!

Podia haver alguma falta de cuidado na limpeza das matas. Estava calor. A humidade era baixa. As condições para a sua propagação eram as ideiais.
Tudo isto é verdade, mas mais de 500 fogos? Em quase todo o país? Não haverá aqui um pouco de "política de terra queimada" atrás desta enormidade de incêndios? É que, como dizem os nossos vizinhos do lado, "no me credo en las brujas, pero que las hay..."

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