2011/05/27

As 1001 sondagens



Nunca vi coisa semelhante. Sondagens diárias, com o extremo da SIC publicar uma sondagem diária comparando com o dia anterior.

Acho que a imprensa se está a exceder na cobertura, ou melhor, no tipo de cobertura que está a fazer à campanha eleitoral.

Porque é uma cobertura imediatista, sensacionalista, em busca dos pequenos fait-divers e não dos assuntos que de facto deveriam ser tratados. Os jornalistas parecem lobos famintos em redor do cordeirinho perdido, rodeando os candidatos com perguntas sobre o que disse o outro e procurando respostas que façam cachas de capas.

A imprensa nestas eleições era essencial para mostrar o estado do país, centrar a discussão no problema a que chegamos de quase-bancarrota e obrigar os candidatos a dizerem como pretendem ultrapassar a situação.

No entanto, não é isso que fazem. Pergunto-me quantos jornalistas terão lido o programa do partidos a estas eleições. Porque só perguntam coisas que nem sequer lá constam. O caso mais paradigmático surgiu ontem, com a pergunta da Renascença sobre a Lei do Aborto e o aborto de notícia que o Público transformou a resposta, subvertendo as suas palavras ao sabor do interesse, do impacto, da notícia.

O interesse da imprensa centra-se nos directos, em saber se os apoiantes vieram a troco de um lanche ou no autocarro da Junta. Centra-se em saber se o partido A subiu 0,6% em relação à sondagem de ontem e qual a reacção do líder.

Gostava que se soubesse mais de outras coisas.

Por exemplo, gostava que os candidatos falassem sobre as obras faraónicas da Parque Escolar e dos problemas que estão a trazer às "novas" escolas. Mas espera, o PSD já falou sobre isso, não vi foi a imprensa interessada nisso, estava mais preocupada que Passos Coelho respondesse ao chavão de Sócrates que o PSD "quer acabar com a escola pública".

Por exemplo, gostava que os candidatos falassem sobre as medidas previstas no pacto com o FMI que prevêem melhorar a competitividade da industria em Portugal. Mas espera, o PSD já falou sobre isso, mas a imprensa estava mais interessada em saber se o que contava era o que dizia Passos Coelho ou Catroga, nem sequer interrogando o PS sobre a possibilidade de não cumprir o acordo quando disse que o mesmo não era para ser cumprido à letra.

É um país deprimido e triste este que vai a eleições, se calhar por isso a imprensa faz a cobertura que tem feito, depressiva e triste, da campanha eleitoral.

Se calhar, por isso mesmo, é que prefere os números constantemente atirados para os ecrans de TV, computadores e folhas de jornais e revistas a falar sobre o que nos trouxe até aqui e sobre o que propõem os candidatos para daqui sairmos...

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