Já há, finalmente, um novo conselho de administração para a governação da CEC. Novo, é como quem diz, pois 2 dos 5 anteriores membros mantêm-se no conselho, apenas entrando 3 novos nomes.
Assim, para além do já indigitado presidente do CA, João Serra, anterior n.º 2, foram ainda seleccionados Paulo Cruz (engenheiro civil, professor catedrático e presidente da Escola de Arquitectura da UM) e Rosa Amora como administradores executivos e ainda Fortunato Frederico (dono do grupo Kiaya) e mantendo-se Francisca Abreu (vereadora da cultura da CMG) com os cargos de administradores não executivos.
Algumas reflexões, por isso, são merecidas.
Sobre João Serra sou céptico, à partida. Desde logo porque se era o n.º 2 do anterior CA é em grande parte responsável por tudo o que de mal (e que é publicamente muito superior ao que de bem) se passa na FCG/CEC2012. Não me acredito que consiga inverter o curso da sua actuação, por mais que o seu discurso seja agora o oposto do que antes apoiava quando era vice de Cristina Azevedo.
Sobre Paulo Cruz, com quem me cruzei há 8 anos na UM num curso de especialização, tenho uma boa impressão académica. Desconheço, entretanto, o seu trabalho na Escola de Arquitectura, mas para um engenheiro civil presidir à mesma deve ter algo de especial... Em todo o caso, não lhe conheço intervenção, pensamento ou
dotes de político para este cargo de gestão política que vai desempenhar - não estou a dizer que não os tem, apenas que não os conheço. É uma incógnita. Acredito que se sair da presidência da Escola de Arquitectura e fizer um ano sabático reunirá condições, por conhecer até o tecido social da região, para cumprir a sua missão satisfatoriamente.
Sobre Rosa Amora, não a conheço. Dizem-me que veio "via" Jorge Sampaio (como veio João Serra, seu ex-chefe da casa civil), é licenciada em Direito, foi vice-presidente do IPPAR, mas que está ligada à área da saúde num hospital. Não percebo bem qual a ligação com a CEC, apenas a possível confiança pessoal do presidente do CA.
Sobre Francisca Abreu, que dizer? É vereadora da cultura sem o ser, porque a CMG industrializou esta área há muito tempo, entregando-a à Oficina, com o José Bastos a ser o principal artífice da cultura em Guimarães.
Por último, o nome mais estranho é o Frederico Fortunato, empresário e proprietário do grupo Kiaya. Que tempo terá este senhor para esta empreitada? E que capacidades de gestão cultural tem? Mesmo nas outras, deixo um texto de Camilo Lourenço no Jornal de Negócios para se perceber que tipo de empresário temos aqui. E não vou mais longe...
É, portanto, esta a equipa que vai dirigir a CEC2012. Mas não é só. Pois se os 3 mosqueteiros eram 4, os 5 administradores serão 6. Porque para além destas nomeações, foi ainda dado a conhecer que Carlos Martins, o pensador-mor da CEC2012, coordenador da programação está de volta com o cargo de Director Executivo - com bastante mais poder e competências do que dispunha anteriormente, ao coordenar, em articulação com as restantes direções operacionais da FCG, todo o processo de implementação da CEC: programa, pré-produção e produção, contratação, comunicação e movimento financeiro.
Assim sendo, será de esperar grandes alterações de execução do caminho trilhado até ao momento?
Sinceramente, apesar da entrevista de João Serra à Lusa a prometer inversão de rumo, não sou crente nisso. Não acho que a 4 meses e 3 semanas de iniciar a CEC2012 seja possível mudar muita coisa, incluíndo o espirito das mesmas pessoas que fizeram a CEC2012 que agora criticam implicitamente quando prometem mudar a forma e o relacionamento.
Para além disso, continuo a nada ouvir dos responsáveis sobre os resultados do que ficará da CEC2012: sobre o enfoque nos empregos e industrias (privadas) criadas por este certame, bem como nos custos de manutenção e de funcionamento das infraestruturas (públicas), zero! Sobre o que ficará das actividades culturais desenvolvidas durante 2012 para o futuro, também ainda estamos numa área nebulosa - por exemplo, o investimento na Plataforma das Artes só está garantido por um ano num protocolo com José de Guimarães, pelo que não havendo entendimento para renovação do mesmo, teremos um elefante branco inutilizado no centro da cidade...
Há, por isso, muito trabalho ainda a fazer, como diz João Serra. Só não sei é se teremos a mesma ideia do que será esse trabalho...
2 comentários:
A CEC entrou num novo ciclo, com novos protagonistas, abrindo uma nova esperança. Mas ainda há perguntas antigas que continuam sem resposta. Seria bom vê-las respondidas, para que percebêssemos se, de facto, o novo ciclo corresponde efectivamente a um novo caminho. Deixo aqui umas quantas:
1. O presidente da FCG sente-se confortável com a dimensão dos poderes que lhe são atribuídos pelos estatutos da Fundação e com a ausência da obrigação de prestação de contas à CMG e à SEC?
2. Pondera o presidente da FCG tomar a iniciativa de propor, a quem de direito, a revisão dos estatutos?
3. Será que o presidente do CA vai tomar alguma iniciativa no sentido de promover a sua revisão imediata dos salários da FCG?
4. Será que o novo CA entende que o regime de trabalho em part-time é compatível com as funções de programador e com a dimensão das verbas que recebem?
5. Quais são as regras da FCG para a contratação de colaboradores e para as remunerações que lhes são atribuídas?
6. A FCG vai continuar a praticar um horário de entrar ao meio-dia e folgar à tarde, praticado por alguns dos seus colaboradores?
7. A FCG vai continuar a não fazer contratações por concurso?
8. A regra para as adjudicações vai continuar a ser o ajuste directo?
9. Vão ser procuradas explicações para adjudicações controversas já realizadas pela FCG?
10. Vai ser explicada, por exemplo, a razão pela qual os trabalhos de tipografia para a FCG eram feitos em Loures?
11. Vamos, finalmente, perceber porque é que o concerto de Bobby McFerrin foi entregue a uma associação de estudantes do Porto?
12. Qual foi o resultado do trabalho do especialista contratado para captar apoio mecenático?
13. Os programadores vão continuar a andar em roda livre, fazendo o que muito bem entendem com os milhões que têm à sua disposição?
14. Faz algum sentido existir um cluster dedicado às artes e à arquitectura e as actividades relacionadas com Fernando Távora terem sido remetidas para o cluster do Pensamento?
15. Vai manter-se a aposta na orquestra sinfónica, que era um capricho muito caro da anterior presidente da FCG, especialmente incompreensível nos tempos que correm?
16. Qual o custo, se o há, da saída do CA da ex-administradora executiva que não foi reconduzida?
17. E com o administrador não-executivo que sai, há algum custo?
18. O mandato da ex-presidente da FCG durava até ao final de 2015. Quando termina o mandato do actual presidente?
19. Já foi demitida, por manifesta incompetência e incompatibilidade com Guimarães, a senhora que foi agraciada com o título honorífico de directora de comunicação e marketing?
20. Vai ser tomada alguma medida para apurar a existência (ou não ) de propalados conflitos de interesses, por motivos familiares, que existiriam no cluster da comunidade?
21. Sendo cada vez mais óbvio que o programa dos Tempos Cruzados é um flop, como é que a FCG vai corresponder ao desígnio que constava na candidatura e que apontava para elevar as instituições culturais vimaranenses para um novo patamar?
22. Será que o agora presidente da FCG vai abandonar as funções de programador do cluster do pensamento?
Caro amigo, deixou aqui 22 perguntas muito pertinentes, algumas das quais mais do que pertinentes, preocupantes.
Veremos nos próximos tempos, mais semanas que dias infelizmente, se começamos a obter respostas. Porque caso contrário tudo continuará na mesma, apesar do propalado interesse em mudar tudo...
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