2011/04/11

Nobre decisão?



Antes de mais, uma declaração de posição.

Pessoalmente não gosto muito do político Fernando Nobre, porque acho que é mais uma pessoa, como tantos independentes que aí andam, que só querem os lugares da política sem estarem nos partidos que é onde a política é feita.
Mas reconheço que o trabalho que desenvolveu na AMI e o seu espírito de independente, verdadeiramente independente como prova ter declarado simpatia pela causa monárquica, ter apoiado Durão Barroso em 2002, Soares em 2006, o Bloco de Esquerda em 2009 e ter sido candidato a PR em 2010 o comprovam, são de facto uma matriz de alguém que não estará no nível partidário mas sim no nível da cidadania.

Assim, posta a minha posição sobre o homem, comentarei agora o convite que lhe foi feito e aceite ontem para integrar e liderar a lista de Lisboa do PSD nas próximas eleições de Junho e ser o seu candidato a Presidente da nova AR.

Em primeiro, parece-me que foi uma excelente mas arriscada jogada política de PPC. Excelente porque conseguiu o apoio de uma pessoa que tem uma boa base eleitoral e que captará sempre muitos votos, nem que seja um quarto ou um quinto dos votos que obteve nas presidenciais - e que eram votos de descontentes e abstencionistas crónicos, bem como de socialistas descontentes - e que será sempre positivo, demonstrando já que de facto, o PSD pretende ter e formar um governo abrangente, não limitado à sua cor politica. Mas é também arriscado porque pelo sua característica de independente que cultiva, poderá vir a trazer alguns amargos de boca ao PSD e a PPC, já que ele não se irá "segurar" quando falar dissonantemente da orientação do partido sobre vários assuntos - talvez em campanha ele seja mais moderado, mas na AR e já como deputado e possivelmente presidente da AR, não me acredito que se contenha de todo.

Desde já, encontro uma coisa positiva neste anuncio. Colocou a esquerda "à nora" por perder uma das suas vozes e por ter recolocado o debate político na campanha eleitoral, depois de ligados à maquina partidária do PS com o comício, perdão, congresso do nacional socialismo, perdão socialista, deste fim de semana.

É triste ver o ponto a que chegou o PS. A aclamação encenada de Sócrates não corresponde nem à realidade do país nem, provavelmente, à realidade socialista, que no "day after" irá reclamar a pele de cordeiro que Sócrates vestiu este fim de semana. Faz-me lembrar, em certo sentido, o que se passou no PSD com Santana e Menezes, em que o aparelho foi mobilizado para dar a ideia de grandes lideranças apenas contestada esporadicamente por um outro militante e que, após algum tempo e derrotas eleitorais, foram amplamente criticadas e demitidas.

Acho que foi preciso coragem para avançar com o convite, que provavelmente será alvo de criticas internas, por parte de PPC. E acho que foi preciso coragem aceitar o convite, por ser do partido menos previsível e por, evidentemente, arrastar para si um coro de criticas de toda uma esquerda incapaz de aceitar a independência que traz nos seus genes. Percebo ter aceite o convite quando lhe é prometido ser mais que deputado, porque quando lhe dá a hipótese de ser o próximo presidente da AR, figura n.º 2 da hierarquia do Estado, está-lhe a ser oferecido o palco para ele poder continuar a sua luta de "cidadania" de que se auto-proclama ser a voz representante de tantos descontentes com a política e os políticos. E, sejamos coerentes, depois da sua candidatura derrotada em Janeiro passado, não lhe restavam grandes alternativas se queria continuar a ser uma voz activa - porque as próximas presidenciais são só em 2016 e porque não lhe ficava bem criar um partido ou ser militante em qualquer outro, só através de uma candidatura como independente poderia manter um palco. O PSD teve a clareza de ver que ao cargo de deputado teria de juntar algo mais - coisa que, pelo visto, mais ninguém viu porque sabe-se já que Fernando Nobre manteve contactos e convites de outros partidos e optou por aceitar este...

Por isso, não sei se foi Nobre a decisão, mas sei que foi corajosa!

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