2009/03/06

Pela defesa do património de Luanda

Fiquei feliz em deparar há pouco na net com esta petição em defesa do património construído de Luanda. Sinal de que há ainda uma franja da população consciente do fabuloso património arquitectónico que têm em mãos e que não podem desbaratar, sob pena das gerações futuras virem a lembrar-se desta apenas pela ganância do lucro.

Aliás, este problema estende-se a todo o país. Aqui na provincia há bem pouco tempo atrás demoliram, tijolo a tijolo, a estação de comboios da Catumbela para, provavelmente, construírem um mamaracho chinês no seu lugar. Foi mais um pouco da história de Angola que morreu com a destruição deste edíficio...

Deixo, por isso, simbolicamente, pois não o posso assinar mas com o qual concordo sobremaneira e na generalidade, o texto da petição que corre desde Janeiro, também patrocinada pela Ordem dos Arquitectos de Angola, sobre a defesa do património e monumentos de Luanda e para ser endereçado ao Presidente da República, com conhecimento à Governadora, Ministra da Cultura, Comissão da Cultura da Assembleia e representação da UNESCO em Luanda:

"ABAIXO ASSINADO: EM DEFESA DO QUE RESTA DE LUANDA


Nós, abaixo assinados, cidadãos nascidos ou residentes em Luanda,

ACREDITANDO que o que torna uma cidade singular é o seu património histórico e cultural, traduzido pelos hábitos das suas gentes, mas igualmente pelas pedras, construções, espaços e edifícios que foram sendo introduzidos ao longo dos séculos da sua génese.

TENDO tomado conhecimento que se continua a autorizar a destruição de património público, entre prédios classificados como foi o Palácio de Dona Ana Joaquina, ou por classificar, como o Mercado do Kinaxixe, este último considerado internacionalmente uma das obras arquitectónicas mais importantes do Movimento Moderno, e proposta por Óscar Niemeyer para ser considerado Património da Humanidade pela UNESCO.

PREOCUPADOS com as destruições quase diárias, e reconstruções arbitrárias, a que a cidade vem assistindo e que atentam contra a história, as tradições, a evolução e a identidade dos luandenses.

NÃO ENTENDENDO igualmente a total ausência de zonas verdes, jardins e parques, impedindo-a de ter os pulmões necessários à absorção da poluição alarmante que sofremos.

CONVENCIDOS que o aumento do tráfego, a indisciplina, a falta de campanhas insistentes de educação civica e moral, estão a desembocar numa situação quase impossível de ser revertida.

CONSTATANDO a existência de espaços imensos fora do centro da cidade, susceptíveis de serem utilizados e aproveitados para a construção de prédios altos, em zonas perfeitamente urbanizadas e com a infra-estrutura adequada, com parques de estacionamento e os acessos necessários para que as mesmas permitissem o crescimento, descongestionando o casco urbano existente, sem o descaracterizar.

TEMENDO que os novos projectos megalómanos, que descaracterizam Luanda, não tenham acautelado com a profundidade exigível sequer as necessidades em infra-estrutura para o seu adequado funcionamento, e menos ainda questões essenciais, entre as quais ressaltam a ambiental, a ecológica, a cultural, a geofísica e a socio-cultural,

E PORQUE OS FACTOS NOS INDUZEM A CRER de que a vontade não é de, com rigor e sentido humanista, levar as pessoas e serviços a desconcentrarem-se, mantendo a ideia de refazer a cidade, mas se continua a centralizar edifícios que poderiam perfeitamente ficar situados na periferia, como é o exemplo flagrante da sede da SONANGOL,

DEFENDENDO QUE todas as cidades têm a sua História, e a nossa não é diferente das outras,

E PORQUE há que defender a História e o Património de Luanda, mesmo admitindo que já é um pouco tarde, mas ainda assim convencidos que um País sem memória fisica é um País à deriva, sem identidade,

E PORQUE pela dimensão de alguns dos projectos que estão a ser implementados, parece-nos ser legitimamente exigível os estudos ambientais e a mais ampla discussão e auscultação públicas, num acto de verdadeiro respeito pela democracia,

REQUEREM a suspensão das acções em curso, e uma análise exaustiva na procura de locais alternativos para o desenvolvimento de todos os projectos que não tenham em consideração a preservação da componente histórica da cidade, do que resta do nosso valioso património arquitectónico, que não é só a cidade dos séculos XVII a XIX, mas também dos edifícios mais significativos do Movimento Moderno.

Luanda, aos 28 de Janeiro de 2009.


ASSINATURAS DE CIDADÃOS QUE SUBSCREVEM A CARTA

EM DEFESA DO QUE RESTA DE LUANDA"

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