2009/03/11

Sobre a visita do Presidente de Angola a Portugal

Acho engraçado a reacção díspar das pessoas sobre a visita de Eduardo dos Santos a Portugal.

Uma parte da sociedade, não quer saber do homem para nada. Outra anda preocupada com o "ditador", os "direitos humanos" e a história. Alguma, pouca, muito pouca, está preocupada com o chefe de um estado reconhecido internacionalmente como tal, que está de visita a Portugal, estados esses que têm relações cada vez mais profundas e importantes - reparem que não menosprezo essas questões, bem pelo contrário, mas a vida ensinou-me que essas coisas não se impõem por decreto, antes de fazem pela persuasão e pelo tempo que leva a ensinar esses valores, bem como pelas parcerias com países que lhes possam transmitir esses ideais em vez de parcerias com a China, Cuba ou Venezuela...

No meu caso, o que espero que seja tratado, para lá de todos os acordos comerciais e económicos que são ordem do dia, são questões pequeninas como os vistos de trabalho, o reconhecimento da possibilidade de condução, a possibilidade de exercer profissões liberais em Angola (como arquitectura, engenharia, direito, etc) ou o aumento de escolas portuguesas no país, bem como atrair mais médicos e investidores para a área da saúde que ainda está muito debilitada.

Para além disso, esperava que se falasse de Angola como um mercado muito interessante para os portugueses apostarem, desde logo por causa da língua, mas acima de tudo pelo mundo de oportunidades que há: estando a implantar novamente um sistema industrial, há enormes parques industriais perto de portos, aeroportos e principais estradas para cobrir todo o país com programas e linhas de investimento para apostar e ainda vazios; há o turismo completamente por aproveitar, poucos hotéis, poucos restaurantes, poucos cafés, poucos espaços de diversão, muita praia, bom tempo e uma classe média emergente ávida por ter locais onde ir passar os muitos feriados; há a área dos petróleos que tem ainda muito por onde explorar - na produção dos derivados e na sua sintetização; há a banca que tem crescido enormemente; há o sector agrícola que tem condições ímpares para produzir muito e de qualidade, há água em abundância e há procura maior que oferta; há tanto para quem quiser apostar em Angola num momento de tão grande estagnação em Portugal...

Por isso, espero com alguma ansiedade essa visita e, acima de tudo, os seus resultados.

Claro que também espero ver o BE com os seus discursos moralistas a pregar os direitos humanos. Mas para esses senhores, e outros do mesmo calibre da direita até à esquerda, o que lhes posso dizer é que abusos também os há em Portugal e aqui, com o tempo, o povo e os quadros intermédios angolanos irão aprender quais são os limites de autoridade e actuação, em particular se Angola tiver como parceiros países europeus em vez de os ter como falsos moralistas e apologistas da democracia que nem em casa conseguem tantas vezes cumprir (não é preciso falar da democracia musculada do poder local ou do poder regional autónomo, pois não?) e que, por isso mesmo, esse moralismo não se apregoa, pratica-se como eu faço ao lidar todos os dias com mais de 100 funcionários angolanos (nacionais, como aqui se diz) e ter bom relacionamento com todas as autoridades, desde os "sobas" dos bairros até ao administrador do município, passando até por outras autoridades bem superiores...

Por isso é que esta visita é muito importante. Somos hoje mais de cem mil portugueses em Angola (segundo li há pouco tempo, seremos até mais de 200 mil) que se estivessem em Portugal fariam a crise que atravessamos ser bem mais dura. E, por mim falo, gostaria de sentir do nosso governo e dos nossos políticos, no geral, uma preocupação bem maior com o nosso bem estar e com o nosso emprego cá em Angola - já que o não fizeram quando ainda estávamos aí em Portugal.

Por tudo isto, e porque de facto o relacionamento entre estes países tem de evoluir no bom caminho, que de resto é o único possível, do aumento do relacionamento entre ambos, é que é preciso que esta visita seja coroada de sucesso.

1 comentário:

Rui Vítor Costa disse...

Estou contigo Nuno. Não me agrada o passado de Angola, mas o nosso caminho é para a frente. O nosso e o deles, desejavelmente, em cooperação.