2009/05/21

Torre de Foster de Lisboa poderá não sair do papel


Imagem Público

Parece que ainda não é desta. Não há grande nome da arquitectura mundial que consiga levar para a frente um projecto que dê a Lisboa um marco de arquitectura que, à imagem de tantas cidades pelo mundo fora, a começar por Bilbau tão próxima de nós, fizeram de um edificio singular de um grande arquitecto uma atracção turística.

As indecisões, o medo de permitir construir em altura, de criar uma "city" são coisas que, em 2009, não se compreendem. Para mais, quando os projectos não são meus, um ilustre desconhecido, mas trazem a marca de grandes nomes da arquitectura (assim por alto tenho ideia que já se falaram e nunca se concretizaram para Lisboa projectos deste género de Normam Foster, Siza, Taveira, Souto Moura, Richard Rogers ou Frank Gerhry) é de ponderar qual é o critério que tem declinado este tipo de intervenção na capital. Aliás, não percebo como é que nenhuma das cidades-dormitório em seu redor ainda não se aproveitou dos diversos recuos de Lisboa sobre o assunto e avança ela com uma "nova" cidade deste género... Eu sei que a parte dos investidores é fundamental e que se pudessem era sobre o Palácio de Belém e os Jerónimos que construiam, mas há que ser inovador e apostar para ganhar. A "Defense" fica no centro de Paris? Não fica, e não deixa de ter sucesso! E tantos casos mais que se poderiam mostrar assim.

Ainda há muito caminho a percorrer até que a arquitectura seja uma disciplina aceite como organizadora do espaço urbano e criadora de espaços de vivência de ruptura ao existente, trazendo com essa ruptura novos e diferentes habitats e modos de vida.

4 comentários:

Anónimo disse...

Totalmente de acordo.
O problema é, quanto a mim, a falta de "cacau". O sonho é bonito, o projecto ainda melhor, mas a realidade é demasiado cara...para uns pobretas como nós, prtugueses, e as "coisas" vão-se adiando ou ficam no projecto!

Bjs
mãe

Godinho disse...

Vejamos dois projectos em particular - TGV e Alcochete... ou muito me engano, ou estes dois projectos não são de borla! (portanto dinheiro há!)
Que o Aeroporto se pague é discutível, mas julgo que não há dúvidas quando se diz que o TGV nunca irá gerar receitas suficientes para compensar o investimento... no entanto serão ambos realizados.
Dois ou três edifícios de referência em Lisboa poderiam fazer aumentar as receitas relacionadas com o turísmo - disso não tenho dúvidas... apenas não sei em quanto, mas suponho que com uma boa promoção seria significativo. Assim, ainda que o investimento possa não ter um retorno absoluto com a comercialização e exploração do espaço, a verdade é que em termos absolutos um investimento deste género difícilmente não geraria mais valias económicas.
A questão portanto é - afinal qual é o problema???

Nuno Leal disse...

O problema é que os projectos que apontas são públicos, ou melhor, executados com dinheiros públicos, já a torre do Foster é um projecto privado. E nos "teus" projectos são os cidadãos que constestam a utilização dos dinheiros públicos nessas megalomanias. E na "minha" torre são os serviços públicos que criam entraves aos investimentos dos privados.

A questão é se serão ambos realizados e quando serão - num momento de crise, em que o Estado vê aumentar dramaticamente o apoio social a desempregados e familias carentes, empresas em dificuldades e em que deveria abrandar alguns impostos, continua o Governo do "inginheiro" a enfiar milhões em estudos e propagandas para depois tentar gastar biliões em obras que ainda podem ser adiadas ou até nunca executadas, para além do facto de nem sequer ser consensual a sua utilidade em função de equipamentos existentes e sub-aproveitados (aeroportos existentes e alfa-pendular).

Já quanto à torre e outros projectos deste género, uma pergunta-exemplo: tens noção do impacto na economia do Pais Basco do museu do Gehry? Informa-te lá e depois diz qualquer coisa...

É por isso que o problema não é a falta de cacau, basta ver os casos dos bancos e ver que ele há. O problema é o Estado burocrático e fechado, que só à base de situações pouco claras como o "Fri-por" é que consegue desbloquear grandes projectos de investimento que criam emprego e atraem mais investimentos. As leis portuguesas ainda padecem de demasiado complexo de burguês da esquerda pós-25A, beneficiam o investimento público em detrimento do privado - exemplo tipo é que as camaras municipais e o Governo estão dispensadas de apresentar projecto de arquitectura para muitas situações que um privado é obrigado a apresentar. E isso eu não percebo nem aceito e acho que é uma das causas do nosso atraso e problemas - o pai-Estado que faz o que quer e não deixa fazer...

Godinho disse...

Como te dizia durante o cafézito, os investimentos públicos devem por vezes ser complementares aos privados. Neste caso, uma partilha dos riscos com uma entidade pública talvez fizesse "tocar" para a frente.
Imagine-se um edifício com custo de 50 milhões; imagine-se um retorno esperado de 60 milhões; imagine-se que uma análise de sensibilidade faz caír o retorno para 45 milhões e temos o investidor privado a dar de frosques!
Agora imagine-se um organismo público a simplificar as coisas, a entrar com metade do cacau (e metade do risco)... será que o privado dá de frosques?... ainda? Então vamos lá dar um incentivo fiscal... qualquer coisa.
Então imagine-se que o privado faz as continhas e chega à conclusão que o investimento, dados os apoios e partilha de risco, dificilmente lhe dará prejuizo. Aposta, e vamos supor que a CML perde 10 milhões com um negócio que traz 200-250 mil turistas por ano a Lisboa, cria uns mil postos de trabalho, aumenta as receitas da ANA, da TAP, do Stanley Ho... mais derrama, mais IVA, mais IRC, mais IRS. Parece-me a mim que é negócio... a ti não?