2003/09/07

Scolari e a Selecção

Quando se discutia quem devia ser o seleccionador, contra muitas opiniões, eu achava que devia ser estrangeiro. Alguém com forte personalidade, um curriculo incontestável e habituado a lidar com "prima-donas". Por exemplo, um Cruyjf.
Quando há oito meses se contratou o Scolari, apesar de não lhe reconhecer grande curriculo (à excepção de ser campeão do mundo, nunca saíu do Brasil e sabemos bem que os treinadores brasileiros de topo não existem) mas, apesar de tudo, reconhecia que era "durão" e que estava desligado dos "lobbys" que rodeiam a Praça da Alegria e a Federação.

Gostei do seu discurso inicial, com uma aposta num sistema de jogo diferente e nos melhores jogadores, na preparação do Euro2004 para ganhar.

Mas de então para cá, o que se passou?

O sistema diferente caíu ao primeiro mau resultado (1ª parte com a Itália). Se bem se lembram, até chegar Scolari, Portugal estava a apostar num sistema 3-4-3 (três centrais, dois trincos e dois criativos, dois alas e um ponta de lança). Ao intervalo do jogo com a Itália, acabou o sistema e passou ao convencional 4-4-2 ou 4-3-3.
Depois nunca convocou os melhores como prometeu, mas aqueles que lhe diziam para convocar: a ausência do Baia no final da época passada é uma prova disso, mas maior injustiça é o Ricardo Carvalho, talvez o melhor central português (e não só a jogar cá) da actualidade e a continua insistência no Beto, que pelo que pude ver nas Antas nem titular devia ser no Sporting... Mas o que dizer então da provocação da chamada do Bruno Vale? Eu não sei se o insulto maior foi ao FC Porto ou se aos restantes guarda-redes portugueses da primeira liga como o Moreira, Tiago, Nelson, Miguel, Quim, etc...
Juntamente com isso - não convocar os melhores - começou a disparatar: Rui Costa e Deco ao mesmo tempo, a indefinição quanto ao lugar de Figo (ora à esquerda, ora à direita) e por consequência de quem é o outro extremo (Sérgio, Simão, Boa Morte, até Hugo Viana e Deco já lá andaram) e a sistemática rotação de laterais direitos (Paulo Ferreira, Miguel, Frechaut, Mário Sérgio...), de centrais (Meira, Andrade, Beto, Ricardo Rocha...), de trincos (Luis Loureiro, Costinha, Maniche, Tiago...) faz com que a selecção continue sem um fio de jogo, uma linha de rumo que unifique o imenso talento que muitos dos convocados têm...

E depois vêm os maus resultados como o do Cazaquistão e o de hoje/ontem contra a Espanha. E conforme ele mesmo disse, levou um banho de bola! Perdeu no campo mas também no banco, a começar na convocatória...
Não espero grande resultado do próximo jogo contra a Noruega na quarta, mas menos ainda acredito numa exibição de qualidade! É evidente que agora não pode alterar a convocatória ou a forma de jogar. Mas espero que não seja "casmurro" ao ponto de perceber que tem de arrepiar caminho nas convocatórias, no sistema de jogo e no relacionamento com os adeptos e com os jornalistas. Ele não é "Deus". Foi campeão do mundo? E daí? Antes dele outros também foram e depois dele outros também o serão...
Não vou hoje ou na quarta exigir a demissão dele. Mas vou fazer isso na próxima convocatória (e nem preciso esperar pelo jogo) se ele não alterar radicalmente a mesma e se não começar a trabalhar a sério! É que para fazer o que ele está a fazer, qualquer um dos mais de 20 mil espectadores de hoje/ontem faz. Diria que as probabilidades de fazer melhor até são muitas...

A espada já pende sobre a sua cabeça, sr. Scolari. Prove que não anda aqui a "comer os Maneis"...

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