2009/06/08

Análise eleitoral

A minha, obviamente "inquinada" pelos comentários que ouvi ontem e pelos jornais que li hoje.

Antes de mais, o vencedor, que são três. O Partido Social Democrata, o candidato Paulo Rangel e a líder Manuel Ferreira Leite.

O PSD porque foi, de forma clara, o partido vencedor: o mais votado, com mais eleitos, que venceu mais distritos. O candidato porque não embarcou na provocação do oponente socialista e deixou-o a falar só das tricas, triste e só e abandonado, como canta o Rui Veloso, enquanto apresentava e defendia ideias e a Europa. A líder porque escolheu o candidato contra todos e fez aquilo que os críticos lhe exigiam, ganhar as eleições e criar condições para um circulo político favorável ao partido.

Depois, há alguns resultados interessantes de vários partidos, mas que não podem, nem devem, ser confundidos com vitórias. Em eleições, vencedor só há um, é o partido mais votado.

De entre estes, salienta-se a subida de votos do PP e a manutenção dos 2 lugares que havia conseguido coligado com o PSD. A subida enorme de votos e eleitos do BE. E a subida de votos da CDU em relação às ultimas Europeias. Sobre estas duas forças políticas, nada de inesperado porque é normal em períodos de crise saírem reforçados na boca das urnas. Já sobre o PP o resultado é pouco esperado e tenho para mim que passa pelo descontentamento de certa franja eleitoral do PSD que votou de protesto no PP. Pelo menos li alguns comentários a artigos em blogs de próximos do PSD e que militantes assumiam ter votado PP.

Por último, há os derrotados. Que são todos os que não são vencedores, ficar em 2º é ser o primeiro dos últimos... Mas neste caso, é possível fazer algumas leituras mais, sendo que a principal e mais óbvia é que o grande derrotado é o PS, que perde votos, eleitos e inicia da pior maneira o ciclo eleitoral deste ano. E, tal como nos vencedores, há 3 derrotados: o PS, o candidato Vital e o líder Sócrates. Do PS e do candidato Vital já se falou atrás, mas convém frisar o péssimo candidato que foi, com uma política rasteira, sempre a fugir dos temas políticos e do confronto político por excelência para se recolher em ataques aos partidos oponentes, insultando e usando uma linguagem algo brejeira, nada condizente com o estatuto de intelectual que tem (tinha?). Se a política ainda fosse, de facto, uma actividade nobre, esse candidato punha a mão na consciência e nem sequer aceitava, renunciando já, o cargo para o qual acabou por ser eleito. Já sobre o líder, que mais há a dizer? Foi escolha pessoal dele o candidato, envolveu-se e ao Governo totalmente na campanha, partiu com uma maioria absoluta e total confiança na vitória e terminou derrotado em todas as frentes, perdeu à direita e à esquerda e viu confirmado na boca das urnas a repulsa do país pelas politicas que segue no Governo.

Governo esse que foi tremendamente abalado por este atropelo eleitoral. E que se tiver nobreza, limitar-se-à a gerir o país e não tomar decisões que comprometam futuros governos nos próximos meses, pois nesta altura para além de se ter fragilizado internamente - ver a saída precoce do hotel do ministro das obras públicas, Mário Lino - neste momento ninguém, com bom senso, pode garantir que ganhe as próximas eleições legislativas.

Por último, três notas: sondagens, partidos extremistas e oposição interna.

Primeiro, uma palavra às sondagens. Que, mais uma vez, falharam estrondosamente e a toda a linha - de resto, algo que sucede há muito, muito tempo, pelo menos desde os tempos do Governo de Guterres que me lembro de sondagens contraditórias com o sentimento reinantes na população e que depois se viram desmentidas pelas urnas. E desta vez tudo se repetiu, com todas - e repito, TODAS - as sondagens na última semana a dar a vitória ao PS com cerca de 5% de avanço, sendo que na sondagem que conta, nas urnas, este acabou atrás do PSD com os mesmos 5%, mas de atraso. E o problema é que na noite em que as sondagens foram desmontadas, vem a SIC com nova sondagem feita e preparada nos mesmos moldes das que durante a semana (des)diziam a vontade popular e que, provavelmente, enferma dos mesmos males e que nenhuma credibilidade apresenta, apenas vindo produzir mais "ruído" de fundo e criar factóides especulativos.

Depois, uma palavra aos partidos extremistas, defensores de estados não democráticos - pelo menos como nós os concebemos. A sua subida na Europa toda, quer à esquerda, quer à direita, é preocupante e pode traduzir-se, a curto prazo, num aumento de instabilidade no processo de construção europeia em curso. Internamente, é ainda mais grave, porque em conjunto esses partidos já representam mais de 20% dos eleitores que votam e isso não augura nada de bom para o futuro próximo, já que são partidos que não existem para ser Governo, nem para integrar o Governo (mal de nós se isso acontece...) e dessa forma, mantendo esta tendência nas legislativas, vão deixar o país ingovernável (aquela história da "governabilidade" de que falava Sócrates) pois deverá ser impossível obter uma maioria absoluta de um só partido e dificilmente o somatório de eleitos e votos do PSD e do PP permitirão essa estabilidade do país e o PS não tem condições de coligar-se à esquerda. Sendo que o PSD e o PS, no chamado "bloco central" não resulta, em especial quando há, como hoje, uma clara bi-partidarização de ideologias entre ambos os partidos - basta ver a questão do TGV, nova ponte, governamentalização do mercado com nacionalizações de bancos e seguradoras que o actual PS defende e executa e que o actual PSD é frontalmente contra. Temo o pior para os próximos anos, em Portugal, instabilidade política e social...

Por último, a oposição interna. Não só a do PSD, mas também a do PS e do PP. Todas elas andavam a afiar facas para hoje poderem começar a fatiar os lideres. Se no caso do PSD e do PP acabaram por se cortar nas facas que afiavam, com ferimentos graves nas hostes do Menezes e do Passos Coelho (que tem baixado muito na minha consideração na forma como tem actuado desde que perdeu as directas para a Manuela) que viram assim cair por terra as criticas que faziam e as esperanças que tinham de hoje (ou ainda ontem...) virem solicitar um congresso extraordinário. E são obrigados a reconhecer a vitória em todos os campos e frentes da líder... Já no PS, o partido irá convulsionar para digerir este resultado. Sócrates tinha a "cola" do poder que é o que o fazia ser aceite pela esquerda republicana, laica e pedante ao estilo do Soares e do Alegre. Os independentes irão começar a ter uma posição estratégica de distanciamento do PS e equidistância ao PSD, a ver como "param as modas". E o Governo vai entrar em mais sessões de publicidade e marketing a tentar vender ideias e propostas ainda com mais intensidade que até agora, deixando de governar para os cidadãos e passando a governar, em exclusivo, para as sondagens...

2 comentários:

Anónimo disse...

No meu conceito de democracia, qualquer governo que durante a campanha eleitoral promete governar num determinado sentido e depois da votação, uma vez chegado ao poder procede exactamente ao contrário deveria ser imediatamente demitido e marcadas novas eleições, por falta de honestidade e de legitimidade para prosseguir a sua governação. Tal situação deveria ser até considerada na própria constituição da república.
É conhecido que os partidos fazem promessas durante as campanhas eleitorais que acabam por não cumprir, mas o PS inovou neste aspecto: prometeu, os eleitores deram-lhe o voto em virtude dessas promessas e depois quando chegou ao poder com maioria absoluta tratou de fazer exactamente o contrário do prometido, por isso não deve admirar-se do resultado destas eleições

Zé da Burra o Alentejano

Nuno Leal disse...

Caro Zé da Burra, tem razão. Parece é que aí no Alentejo as noticias chegam lenta, lentamente... É que o Presidente da República tem nas mãos o poder de o fazer se achar que tal sucede. Aliás, foi um pouco por isso também que o Sampaio terminou com a avetura do Lopes e abriu caminho a quem nós sabemos... Daqui se deduz que o Sampaio foi o pior presidente desde sei lá quando: primeiro manteve o Guterres quando o devia ter despachado muito mais cedo, compactuando com o "monstro" do défice que ainda não foi completamente resolvido; depois, ao demitir o Lopes, ajudou a colocar lá o Sócrates... Arre que era dificil falhar tantas vezes em tão poucas funções a desempenhar...