2011/06/21

O fim do adepto

A anunciada e ainda não confirmada saída de André Villas-Boas para o Chelsea foi, para mim, uma enorme desilusão. Porque quando o ouvia falar e o via em campo na forma como vibrava, pensei sempre que era verdade o que ele apregoava - ser um adepto que tinha um lugar anual no banco dos suplentes.

Desde os tempos de Pedroto que a massa adepta do FC Porto não se identificava e revia tanto num treinador como com AVB. Ele criou essa empatia, ser um de nós. E cimentou-a ao longo da época vitória após vitória.

E o criador, de repente, e sem ninguém prever - desconfio que nem o próprio Pinto da Costa - matou a criatura: ao não desmentir a sua saída (como o fez com o Inter, por exemplo) e ao aceitar ir para o Chelsea pelo dinheiro, deixou de ser o adepto e passou a ser um "pesetero" em nada diferente de Figo ou Mourinho. Porque colocaram o dinheiro acima do amor, gratidão e respeito ao clube.

Não me quero enganar - é muito dinheiro! Mas digo eu, que ganho ordenados banais (se calhar nunca ganharei num ano o que ele ganhava no FC Porto num mês...) tal coisa, porque quando se tem as condições todas para se fazer um excelente trabalho (instalações de topo, vasta e completa equipa de pessoal à disposição, um bom orçamento e um excelente plantel) e se recebia valores na ordem do milhão de Euros por ano, pergunto-me se isso ainda se aplica. Vai ganhar mais, é certo. Terá excelentes condições de estruturas, é certo. Terá uma vasta equipa de pessoal, é certo. Terá um orçamento do outro mundo, provavelmente, enquanto o Abramovich estiver enamorado dele e não fechar a torneira das petrolibras como fez com Mourinho. Mas não tem um excelente plantel - está velho, com muitas falhas, vai ter várias guerras de balneário para dispensar alguns "lobos" e tem de reconstruir o onze inicial, com a agravante de lhe ser exigido vitórias imediatas.

Quebrou-se assim o encanto que um clube e uma cidade, uma região tinham com ele.

Afinal, André não é um adepto como eu e como os outros 30 mil que têm uma cadeira anual na bancada. Ele é um frio profissional do futebol, que cedeu à tentação do dinheiro e abandonou o clube do coração a horas de começar nova época e abrindo a porta a que outros jogadores abandonem o clube também - provavelmente levados por ele - e destruindo assim o sonho azul e branco de fazer história na Liga dos Campeões esta época.

André, não te desejo boa sorte. Não o posso fazer depois de teres feito o que fizeste agora. Nem te desejo azar. Simplesmente não quero saber de ti, na medida em que afinal não és adepto - nem sequer um mau adepto. Mas agradeço o trabalho feito, evidentemente. Obrigado pelas vitórias e futebol positivo que proporcionaste. E não te nego as qualidades profissionais, mas afinal o teu carácter é igual ao do Mourinho - que nos abandonou de forma semelhante. Tendo tu dito que não és um clone dele, afinal estás a fazer o possível por fazer o mesmo caminho que ele. Lamento... não esperava isso de ti, o adepto na cadeira de sonho...

Este foi o fim do adepto. Mas não dos adeptos, nem do clube. Que já sobreviveu a outros "rombos" e continuou a ganhar sempre.

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