CRÓNICA
D. Corunha-FC Porto, 0-1: Até a Europa é pequena para uma equipa tão grande
Uma noite assim só podia acabar em glória. O caminho para Gelsenkirchen foi desbravado com coragem mas sobretudo com muita classe
O FC Porto está de volta a uma final dos Campeões porque, de facto, tem uma equipa de verdadeiros campeões. Fantástica a demonstração de coragem, notável a lição de classe que ontem deu em Riazor. Um Porto como o de ontem, como o de tantas outras noites que nos têm enchido de orgulho e despertado a admiração internacional, até já é pequeno para a Europa.
Se há uma equipa galáctica, por igual no empenho e no talento, essa mora no nosso cantinho à beira-mar plantado e chama-se FC Porto. Por isso, a Europa que não se ponha aí com ar de espanto ao constatar que os homens de Mourinho, em dois anos consecutivos, venceram a Taça UEFA e vão estar no jogo final dos Campeões. Não, não é por acaso. E se a virem jogar (se não o fizeram, não imaginam o que têm perdido) então vão achar, como nós, que tudo isto é, afinal, a coisa mais natural do mundo...
Cobrar dívida
O resultado da 1ª mão tinha sido ingrato para o FC Porto. No Dragão, só os portugueses tinham procurado o golo. Havia, portanto, uma espécie de dívida a cobrar em Riazor. Mas era uma cobrança difícil.
Atrás do Corunha estava um sonho que era visto como um encontro com a história. Mas para entrar na história é preciso fazer algo por isso. E se no Dragão o Depor nada fez, ontem também não teve grandes hipóteses de o fazer. Nesta história só havia lugar para um herói. E esse, cedo se percebeu quem era.
Decisivo
Mourinho e Irureta sabiam bem do que estavam a falar quando projectaram para o encontro uma terrível luta a meio-campo, onde claramente se iria decidir a tendência do jogo. Talvez por isso mesmo, o treinador do FC Porto optou por dar mais músculo ao sector (Pedro Mendes). Uma aposta tão acertada quanto determinante para ganhar a batalha.
Mas até o FC Porto conquistar esse domínio e assegurar o controlo quase absoluto do jogo, não só pelo músculo mas também pela versatilidade dos seus jogadores e, tamb ém, pelo impressionante trabalho de sapa realizado por Derlei (Minha nossa, está como novo, sem medo e com todas as suas qualidades intactas!) foi preciso começar detrás. Isto é, a linha mais recuada chegou-se mais à frente e, assim, todos os sectores jogaram próximos, tornando o FC Porto uma equipa mais compacta e pressionante que o Depor.
Todo este balanço permitiu ao FC Porto controlar as operações e chegar à área de Molina sem, no entanto, fazer grande mossa. Um remate de Maniche que saiu perto do poste foi pouco "saleroso" se comparado com a grande oportunidade perdida por Valeron num golpe inesperado que apanhou a defesa portista a contar com um fora-de-jogo que não existiu. Esse lance permitiu que o Depor ganhasse alento e colocasse o FC Porto em sobressalto por instantes que, ainda que breves, deixaram claro aquilo que também já se sabia: o Depor não inspirava, de todo, confiança e a sua aparente submissão podia ser traiçoeira.
Essa onda galega durou pouco tempo. O FC Porto recompôs-se e acabou a 1ª parte como a tinha jogado quase sempre: autoritário.
Perfeito
O Depor quis trazer algo de novo ao jogo na 2ª parte e mesmo depois de Derlei acertar no poste não vacilou nas suas convicções. Fez subir as suas linhas e o FC Porto agradeceu. Finalmente, havia mais espaço no meio-campo espanhol para os dragões explorarem. Perfeito. Com golpes de contra-ataque, quase sempre à procura de Derlei, o FC Porto tornou-se ainda mais ameaçador.
O jogo subia para um patamar de risco extremamente elevado e era claramente a equipa portuguesa quem se sentia mais confortável com a situação. O "penalty" transformado por Derlei, após lance de Deco, confirmou a tendência que se arrastou até final. Apenas houve um momento em que alguma coisa podia ter mudado, quando o golpe de cabeça de Pandiani levou a bola a sair rente ao poste. Mas a esta chance seguiu-se a expulsão de Naybet, que aumentou a confiança do FC Porto e destruiu a réstia de esperança que os galegos tinham.
O FC Porto está na final. Fez-se tão-só justiça.
Árbitro
PIERLUIGI COLLINA (4). Uma lição também de arbitragem. O italiano esteve correctíssimo na análise de quase todos os lances, só não apitou o que não viu (o golpe de Nuno Valente num espanhol em plena área portista entra nesse reduzidíssimo lote). Poupou o cartão amarelo a Sergio na grande penalidade cometida sobre Deco. Sem contemplações na expulsão de Naybet.
Autor: ANTÓNIO MAGALHÃES
Data: Quarta-Feira, 5 de Maio de 2004 02:01:00
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