2009/04/07

Mais portistas e menos portugueses, s.f.f.

Com a ajuda do blog "Reflexão Portista", hoje não são minhas as palavras que ficam, são do Miguel Esteves Cardoso, um idolo da minha (e de muitos outros) adolescência no que às palavras diz respeito.

Escreveu ele na revista J, n.º 135, do jornal O Jogo:

«Ando doente com o Manchester United - FC Porto. Sempre que jogam em Old Trafford lembro-me da carga de pancada que levei no dia 2 de Novembro de 1977 quando o Seninho marcou o segundo golo pelo FC Porto e eu me pus aos saltos em pleno Stretford End. Se bem se lembram, o resultado final foi 5-2 mas, como o FC Porto tinha tido a previdência, nas Antas, de enfiar 4 golos sem resposta na baliza dos macunianos, o FC Porto passou e o United foi deliciosamente eliminado, apesar daquele esforço gigantesco.

Lembro-me que até levar porrada, eu até era simpatizante do United, por estudar em Manchester e por ser o clube do meu tio e dos meus primos ingleses. Já aqui escrevi sobre este incidente fulcral da minha breve vida futebolística, mas nunca é demais lembrá-lo, para dar sorte, sempre que se aproxima um United-FCP.

Fui para a bancada da claque porque fui com colegas da universidade que eram fãs do United e jurei não aplaudir quando o FC Porto marcasse. Mas não me contive. Eram tão chocantemente racistas e sanguinárias as bocas dos adeptos do United que ouvi que eu fiquei anti-United e pró-FC Porto para o resto da vida. Para mais, tornavam-se mais violentas ainda quando o Duda apanhava a bola - que era muitas vezes, com grande fulgor e uma aristocrática indiferença aos selvagens mancunianos.

Sir Alex Fergusson, está mais do que provado, gosta de portugueses. Talvez ele veja Portugal como uma das duas Escócias da Península Ibérica (sendo a outra a Catalunha), comparando a açambarcadora e dominante Espanha à Inglaterra.
No entanto, há limites até para a lusofilia. Há uns dias Fergusson disse ao ‘The Sun’ que contava com os portugueses Cristiano Ronaldo e Nani para dar a volta aos portugueses do Futebol Clube do Porto. Ora, diga-se lá como se disser, os portistas não são sinónimos exactos de portugueses. Para mim e para os portistas, por exemplo, só os nortenhos são portugueses a 100 por cento. O resto são mouros e neutros.
Para os lisboetas ou algarvios de olhos igualmente vendados, o Norte é só o Norte e portuguesa a 100 por cento só é a Selecção Nacional - e mesmo assim, com muita boa vontade. Seja como for, é bichoso dizer que o futebol do FC Porto é representativo do futebol português. Seria bom se assim fosse mas, infelizmente, não é verdade.
(…)
A confusão, pelos vistos, não só continua como cresce. Num país como a Inglaterra em que a rivalidade entre o Norte e o Sul (ou entre Manchester e Londres) é bastante mais violenta do que em Portugal, é espantoso que achem que Portugal é mais ou menos todo igual e que quem viu dois ou três portugueses já viu todos. Melhor para o Futebol Clube do Porto!
Rapaziada: na terça-feira sejam o menos portugueses que é possível ser! E o mais portistas! Força!»


Aliás, em comparação com isto, escrito por um lisboeta familiar de ingleses, temos textos de outros badamecos que podendo dizer o que pensam, sendo jornalistas e directores de publicações, não o deviam - já terão esses senhores jornalistas ouvido falar em dever de imparcialidade? - e que conseguem discorrer semelhante baboseira. Foi por ouvir gente desta a dizer isto antes da final de 1987 em que o FC Porto se sagrou pela primeira vez campeão europeu que comecei a gostar de ver a agremiação vermelha levar no pelo - cá dentro e lá fora, e quantos mais, melhor! Depois digam-me que não tenho razão... Descobri isto no site O Dragão, porque não tenho hábito de leitura de pasquins de Lisboa, mas de facto isto é razante do nível 0 do jornalismo...

2 comentários:

Golias disse...

LOL! Que valente cromo aquele Amaral. Estava mesmo a pedi-las... e recebeu-as! XD

RAD disse...

Tenho de te dizer, com toda a honestidade, que como português torço pelas equipas portuguesas independentemente de serem do Porto, da Madeira ou de Lisboa. Por isso, fico triste com as derrotas... mas não tanto como fico triste com as guerrinhas dentro de um território que nem é assim tão extenso.